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Evinha, após ser sampleada em álbum de BK’: ‘A ficha não para de cair’

Evinha, após ser sampleada em álbum de BK’: ‘A ficha não para de cair’

Cantora vive em Paris com o maestro e marido Gérard Gambus

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Evinha não foi redescoberta apenas em “Diamantes, Lágrimas e Rostos para Esquecer“, quinto álbum do rapper BK’, que traz dois samples com a voz da cantora que, ainda criança, integrava o Trio Esperança com seus dois irmãos na década de 1960

Após lançar cinco álbuns entre 1969 e 1974, a brasileira radicou-se na França ao lado do marido, o maestro Gérard Gambus, e viu sua obra ganhar nova vida pelas mãos de DJs de drum and bass, depois pelos algoritmos das plataformas digitais e, agora, por produtores como Deekapz e JXNV$, responsáveis por ‘Só Quero Ver’ e ‘Cacos de Vidro’ (faixas do álbum de BK’ que sampleiam ‘Só Quero’ e o hit ‘Esperar Pra Ver’).

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Em entrevista por email para a Billboard Brasil, transcrita na íntegra, a cantora fala sobre os “instintos” que a guiaram na carreira, como o marido mudou a rota geográfica e musical de sua vida e sobre ter uma ficha constantemente caindo cada vez que sua obra é redescoberta. Além disso, mostra uma cantora que esteja sempre sendo redescoberta por ter o ímpeto de “sempre interpretar o máximo de estilos musicais possíveis”, como ela mesmo conta ao falar do samba-rock-reggae “Que Bandeira”, composto por Marcos Valle.

Evinha, tudo bom? Queria saber, curiosidade, por que email ao telefone? E de que lugar do mundo você está falando agora?

Olá, Yuri, tudo bem? Prazer em falar contigo. Adoro pessoas curiosas, pois eu também sou…rsrs O fato de eu preferir a entrevista via email não vem de nenhum motivo específico. É meu estado de espírito do momento. Coisas de virginiano. Hoje estou te escrevendo diretamente de Paris. Viva internet!

Quando vocês, ainda crianças, decidiram cantar, em quem vocês se espelhavam? Vi você contando em entrevistas que vocês se reuniam na cama e ficavam cantando… E essa brincadeira virou carreira quando você e seus irmãos foram apresentados ao José Messias [1928-2015; produtor, compositor e ex-jurado do programa Raul Gil]…

Nós morávamos todos juntos: papai, mamãe e sete irmãos. Papai amava todo gênero de música, o rádio ficava ligado o dia inteiro. Ouvíamos de Orlando Silva a Beatles. Mais tarde, quando meus irmãos —os Golden Boys— já haviam começado uma bela carreira, eles ensaiavam em casa e nós, os mais novos (Regina, Mário e eu) ficávamos fascinados em ouvir aqueles vocais. Foi então que nosso irmão mais velho, Roberto, entendeu que os pequenos iriam seguir a trilha dos mais velhos. Assim nasceu o segundo grupo vocal da familia —o nome Trio Esperança foi dado pelo próprio José Messias. Marizinha, a caçula, chegou mais tarde quando comecei minha carreira solo.

Quando ouço seus cinco álbuns que começam em 1969 e chegam em 1974 (com o lindíssimo “Eva”), a primeira pergunta que me vem na cabeça é porque essa carreira por ali deu-se por satisfeita. Que missões lhe chamaram mais a atenção do que a continuidade de sua carreira solo?

Minha vida sempre foi guiada por instintos. Tudo acontecia naturalmente. Quando em 1969, tive a honra de defender o Brasil no IV Festival Internacional da Canção, nada estava planejado. Primeiro lugar na fase nacional, internacional, e revelação feminina. Foi uma enorme e bela surpresa. Longe de mim pensar em carreira solo. Foram vários álbuns com produção de meu irmão Renato Corrêa. Em 1977, o maestro francês Paul Mauriat foi ao Brasil para gravar um dos seus inúmeros discos e nós (a família “Goldherança”) fomos convidados para gravar os vocais no disco. Mais uma vez, o rumo da minha vida mudou!

Conheci Gérard Gambus, grande pianista, arranjador, compositor e co-produtor de vários álbuns de Mauriat. Como não me apaixonar com tanta sensibilidade e musicalidade dessa pessoinha incrível? Conclusão: casei, mudei e formarmos uma bela família com filha e netos. Vim morar na França, onde fizemos vários álbuns, conquistamos alguns discos de ouro com a terceira formação do Trio Esperança, Regina, Marizinha e eu, produzidos por Gérard.

“Que Bandeira”, um dos hits da sua carreira, parece que tem tudo ali misturado. É samba, é rock, é tudo. Você, pela sua versatilidade, ainda muito jovem, dá a sensação para nós. que nascemos muito tempo depois, que você ali já era destacada demais. Você era uma ouvinte atenta a tudo ou era uma cantora que sabia cantar de tudo?

Vou confessar algo: quando Marcos Valle me apresentou “Que Bandeira”, eu disse: “eu não sei cantar samba, menino!” Mas foi justamente a mistura de samba, rock, um pouco de reggae e muito mais que ali me inspirou. A escolha das músicas era na maior parte do tempo colegial. O desafio pra mim era interpretar o máximo de estilos musicais possíveis.

Sua música continua sendo procurada por produtores do mundo todo, uma espécie de referência do que foi produzido nos anos 1970. Você sentia-se valorizada desta forma naquele momento?

Quer seja na vida pessoal ou na profissão escolhida, a valorização vem da confiança em si. O importante é ser sincero e ser você em todas as ações ao longo da vida. Eu curtia e continuo curtindo o sucesso como ele chega…rsrs L’amour mon ami, l’amour toujours! [“O amor, meu amigo, o amor sempre!”] Faz parte dos meus valores!

Quando que você percebeu que sua carreira estava sendo revisitada? Tem uma memória dessa ficha caindo?

A ficha não pára de cair…rsrs Cada etapa da minha carreira é feita de boas surpresas!

Mas, insistindo na pergunta, quando DJs, produtores, artistas te encontram e expressam essa admiração por você, qual sentimento que lhe vem? Há alguma vontade de ter sido mais, digamos, valorizada na época em que os registros foram lançados?

Recentemente fui ao Brasil e fiz alguns shows em São Paulo e Rio de Janeiro. O número incrível de fãs jovens me surpreendeu muito. Isso também se chama ser valorizada e me emociona cada vez mais tanto pelo respeito do público quanto dos profissionais.

Recentemente, há alguns dias atrás, o rapper BK’ lançou um álbum sampleando duas canções com sua voz. Você foi notificada que estes samples seriam usados ou foi uma negociação direta com os detentores do fonograma? E, mais importante, curtiu o uso?

Para ser sincera, o rap não fazia parte de estilo de música que eu ouvia, até o dia em que recebi o convite do BK, artista mais que talentoso, que envia mensagens leves e profundas ao seu público. Ele soube trazer as palavras escritas nos anos 70 aos dias de hoje, por isso imediatamente aceitei o sample com minha voz. Tudo isso foi negociado com respeito e nas regras da arte. Em breve iremos nos conhecer pessoalmente e festejar o duo que, espero, vai dar certo.

Beijos e obrigada por tudo, Evinha.

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