OPINIÃO: ‘A música clássica está se renovando para atrair novas plateias’
Pianista erudito fala da necessidade de modernização do gênero
Sabe a música clássica, essa que é tocada nos grandes teatros por orquestras e instrumentistas super virtuosos? “Nona Sinfonia” de Beethoven, “Réquiem” de Mozart, “Noturnos” de Chopin, “Prelúdios e Fugas de Bach”…
Pois é, existe uma crise no mundo da música clássica, de fato. Há décadas que isso vem piorando progressivamente e estamos chegando num ponto crítico. O público está ficando mais velho e não está se renovando. Cada vez menos pessoas frequentam as salas de concerto. Muitos teatros, orquestras e instituições musicais estão com dificuldade de se manter financeiramente com a diminuição do apoio governamental, de patrocinadores e apoiadores privados. Não vou entrar em detalhes aqui, mas os números são alarmantes!
E, talvez o mais grave, o público em geral não está se conectando com o que está sendo produzido nas academias de música e que é considerado oficialmente como música clássica contemporânea. A juventude tem dificuldade de curtir até mesmo o repertório tradicional, o mais conhecido, admirado e respeitado há séculos. É aí que entra a tal Nova Música Clássica. É aí que entra o pop!
Veja bem: há neste momento compositores espalhados pelo mundo inteiro, não necessariamente formados pelas academias tradicionais de música, criando um repertório fascinante para piano solo. Eles estão ocupando os grandes teatros, ganhando prêmios ligados ao mundo da música clássica, assinando contrato com as mais antigas e tradicionais gravadoras do mundo clássico e, o mais importante, enchendo os teatros com público de todas as idades, inclusive os mais jovens! Criadores como Ólafur Arnalds, Nils Frahm, Hania Rani, Alexandra Stréliski, Yann Tiersen, Ludovico Einaudi, dentre muitos, milhares de outros, estão redefinindo o que é ser um artista clássico no nosso tempo. E qual o segredo desse sucesso? Por que as pessoas, mesmo os não iniciados na música de concerto, se conectam tão facilmente com as obras desses compositores?
A Nova Música Clássica mistura elementos da música clássica tradicional com elementos da atualidade vindos do pop, jazz, música eletrônica e com largas doses de minimalismo. Com composições mais acessíveis e diretas, ela valoriza a simplicidade melódica em uma atmosfera expressiva e introspectiva. Sua proposta é trazer a tradição da música clássica para o contexto atual, atraindo novos públicos e criando preciosas pontes entre o passado e o presente.
Muito dessa “acessibilidade” vem do pop, com ritmos envolventes, um forte senso melódico acompanhado de estruturas harmônicas mais simples, criando uma rápida conexão emocional com as pessoas.
Além disso, a compreensão das demandas estéticas do nosso tempo, ocupando os espaços digitais, entendendo onde está a atenção do público e os formatos musicais pelos quais costumam consumir música, isso tudo conspira para aproximar a música clássica do cotidiano dos jovens, resgatando o interesse e garantindo que a tradição clássica evolua com relevância e contemporaneidade.
Não estou sugerindo que uma tome o lugar da outra. Nada disso! Defendo que o mundo clássico abra seus braços para que esses compositores e suas obras sejam reconhecidos e valorizados. No momento, infelizmente, isso está longe de acontecer e existe muito preconceito por parte dos músicos, líderes de instituições e formadores de opinião. Isso tem que mudar, para a sobrevivência da própria música!
E aí, quer conhecer de perto esse repertório, esse mundo da Nova Música Clássica? Então venha ao meu concerto no Teatro das Artes no dia 19 de novembro. É uma terça-feira, véspera de feriado, às 20h! Aguardo você lá e não deixe de falar comigo depois. Vou adorar saber que esse artigo aqui fez você ir até o teatro descobrir essa nova face da música clássica!
*Luiz de Simone é pianista e compositor