Mötley Crüe: entenda em discos, filmes e livro essa farofa fá fá* de respeito
Como o grupo americano de hard rock combinou música pop e mau comportamento

Nos anos 1980, a cena rock dos Estados Unidos foi dominada por grupos e cantores de maquiagem carregada, letras que pregavam um estilo de vida hedonista e uma sonoridade pesada, mas com um irresistível apelo pop –com direito até a baladas repletas de romantismo. Chamado de glam metal ou hair metal por causa do excesso de pintura e cabeleiras bem armadas de seus integrantes, no Brasil ele foi batizado com o singular nome de “rock farofa”.
O gênero teve seu epicentro na Sunset Strip, trecho da Sunset Boulevard, em Los Angeles, repleto de restaurantes, bares e, claro, casas noturnas. A região gerou bandas como Hanoi Rocks, Ratt, Poison e, acima de todas, o Mötley Crüe, cujos três discos mais importantes estão sendo lançados em CD no Brasil pela Wikimetal Records. São eles “Shout at the Devil”, de 1983; “Girls, Girls, Girls”, de 1987, e “Doctor Feelgood”, de 1989.
O grupo surgiu em 1981 e passou por algumas formações até se firmar com Nikki Sixx (baixo e vocais de apoio), Mick Mars (guitarra), Tommy Lee (bateria) e Vince Neil (vocais). Após o tradicional périplo pelas casas do Sunset Strip, onde fatalmente abafavam as atrações locais, eles lançaram “Too Fast for Love”, seu disco de estreia, por uma gravadora independente. No ano seguinte, a Elektra contratou o grupo e inclusive relançou o disco de estreia.
O Motley Crue coleciona vendagens e confusões assombrosas. Boa parte delas está contada em “The Dirt – Confissões da Banda de Rock Mais Infame do Mundo”, de Neil Strauss, que foi lançado no Brasil pela editora Belas Letras. O livro gerou ainda um filme, atualmente em cartaz pela plataforma de streaming Netflix (há também “Pam & Tommy”, sobre a tempestuosa relação entre a modelo Pamela Anderson e o baterista Tommy Lee que inclui o roubo de uma célebre fita de sexo). O grupo passou ainda por mudanças em sua formação. Vince Neil pediu o boné em 1992, e foi trocado por John Corabi. Neil retornou ao grupo cinco anos depois por causa das péssimas vendas do disco que trazia os vocais de Corabi. Em 1999, foi a vez de Lee pedir as contas, sendo substituído por Randy Castillo –que morreu em 2002. O baterista voltou em 2004.
O quarteto se despediu dos palcos no dia 31 de dezembro de 2015. No entanto, eles retomaram suas atividades em 2023, mas com o guitarrista John 5 no lugar de Mick Mars –que, claro, está processando os ex-amigos. A formação atual lançou o EP “Canceled”, em outubro de 2024. Abaixo, um guia básico para se conhecer o Motley Crue.
DISCOS
Shout at the Devil (1983) – Wikimetal Records
Segundo disco do quarteto e o lançamento que iria credenciá-los para palcos maiores (no mesmo ano, foram uma das atrações do US Festival ao lado de Van Halen, Judas Priest, Scorpions e Ozzy Osbourne). Um punhado de rocks com refrãos pegajosos, com destaque para “Looks that Kill” e a faixa-título, além da cover de “Helter Skelter”, dos Beatles.
Girls, Girls, Girls (1987) – Wikimetal Records
O disco marca a despedida do produtor Tom Werman, que trabalhou nos primeiros álbuns do grupo. O Motley Crue traz um retrato do hedonismo da cena de Los Angeles em suas letras, com destaque para a faixa-título. O sucesso aqui é “Wild Side”. A versão em CD traz cinco faixas adicionais, entre elas três instrumentais e “All in the Fame of…” gravado ao vivo em Moscou.
Dr. Feelgood (1989) – Wikimetal Records
O melhor disco do Motley Crue. O novo produtor, Bob Rock (que depois trabalharia com Anthrax e Megadeth) criou uma espécie de parede sonora, incrementada pela bateria de Tommy Lee. Uma ótima experiência, apesar de ter odiado tanto a banda que os obrigou a gravarem separados –porque, juntos, poderiam se pegar até matar no estúdio. Um disco muito barra pesada. A faixa-título tem como inspiração e um dos fornecedores de drogas do quarteto e “Kickstart My Heart” fala da overdose de heroína do baixista Nikk Sixx.
The Dirt – Confissões da Banda de Rock Mais Infame do Mundo” (Belas Letras)
“Hammer of the Gods”, biografia do quarteto americano Led Zeppelin, é considerada uma das mais sensacionalistas de todos os tempos. Perto do Motley Crue, ela parece um monte de travessuras do jardim de infância. Sexo, drogas, rock’n’roll, mortes, ausência total de caráter e consciência, compilados pelo jornalista Neil Strauss. Imperdível.
FILMES
The Dirt (Netflix)
A história do livro de Neil Strauss é contada, de maneira muuuito suave, nessa produção. Vale pelas histórias do dia-a-dia de uma turnê e por Machine Gun Kelly no papel do tresloucado baterista Tommy Lee.
Pam & Tommy (Star+)
Casado com a Playmate Pamela Anderson, o baterista Tommy Lee decidiu gravar os, digamos, momentos de amor intenso da dupla numa fita cassete. Ela acabou sendo roubada por um dos empreiteiros que faziam serviço na sua casa e virou um dos pornôs mais conhecidos do mundo. Uma minissérie divertida (sim, divertida), que traz o ator Sebastian Stan (o Buck de “Capitão América”) arrasando como Tommy Lee.
- O título faz referência a “Farofa Fa Fá”, sucesso do cantor brega Mauro Celso nos anos 1970. Eis uma palinha: “Comprei um quilo de farinha/ Pra fazer faro fá fá.”