OPINIÃO: ‘Monstrão’ traz uma Anitta decepcionante em funk de Dennis DJ
Após 'Funk Rave' (que não era funk, nem rave), Anitta emprestou voz a 'Monstrão'
Nesta quinta-feira (10), Dennis DJ trouxe luz à “Monstrão”, parceria um tanto sem brilho com Anitta. A expectativa com relação à música era grande. Primeiro, claro, por se tratar de dois fenômenos da música brasileira. Mas também por causa do estrondoso sucesso que Dennis fez com seu hit anterior, “Tá OK”.
A música em parceria com Kevin O Chris nasceu de uma união de acasos. Quando o funkeiro chegou ao estúdio de Dennis, seu fascínio era com o tamborzão “em 4k” revitalizado pelo DJ –outrora criador de clássicos como “Cerol na Mão” e “Dança da Motinha”. O hit “Tá OK”, então, surgiria por acaso: entediado com a primeira música que faziam no estúdio, Kevin vasculhou os HDs do DJ, encontrou o tamborzão, relíquia do DJ Luciano, e, improvisando o “então toma, toma, toma”, fez um clássico começar a aparecer.
O single veio tão forte que até as imitações, comuns no funk carioca, se recusaram a surgir. “Tá OK” imperou sozinha e nunca teve concorrente musical ou audiovisual. Pelo contrário: a revitalização do tamborzão por Dennis fez com que o próprio Kevin e uma série de artistas, como Pocah e Valesca Popozuda, recordassem da importância e da aceitação da ginga dos BPMs menos acelerados dos anos 2000 no funk.
Até o sample da canção veio despretensiosamente: Dennis navegava pela plataforma “Splice”, uma biblioteca de samples, e se encantou por um tema que, sem saber, era do jogo “Silent Hill 3”. A canção de dois minutos e pouco ecoa pelo Brasil até o presente momento, em qualquer lugar que você esteja. O acaso quicando na frente de artistas talentosos é a principal receita para muitos clássicos.
Por tudo isso, a espera pelo próximo hit de Dennis –ainda mais em parceria com Anitta– era imensa. Mas o tempo mostrou que a tentativa não fez jus ao hit antecessor e deixa transparecer que a união de acasos que formou “Tá OK” é realmente muito difícil de se repetir.
Para ler ouvindo: “Monstrão”, de Dennis e Anitta (Sony, 2023)
Em aspas para o comunicado de imprensa do lançamento da faixa, Anitta diz ter amado a canção e “que foi sempre uma alegria, uma música pra cima”. De fato, é. Mas, infelizmente, é só isso.
Curioso notar que, nessa mesma semana do lançamento, destacou-se um corte da entrevista de MC Carol à apresentadora Blogueirinha. Nele, Carol conceitua Anitta como “melody”, deixando claro a impressão que os funkeiros têm da cantora: uma artista pop.
Por isso, muitos ainda torcem o nariz quando ela se diz embaixadora do funk. O que não seria mal nenhum, não fosse a diversa e multifacetada forma que sua carreira assumiu. Transitando entre diversas linhas (que provam sua inquietação como popstar), tal movimento soa como autopromoção e acaba sendo ousadia agridoce, já que a contribuição de uma embaixadora vai muito além de ter (de forma justíssima) um hino já clássico do universo do funk, como “Vai Malandra”, e de deliciosos subestimados como “Macetar”.
Mas algo levou Anitta até “Funk Rave”, faixa anterior, na qual ela já demonstra estar mais preocupada em usar o ritmo como palanque do que palco –visto que o single em momento algum parecia compreender ou retratar o que rola nos momentos de rave e funk dos bailes cariocas.
A versão “tunada” pelo DJs Ramemes e Pretinho da VR, por exemplo, conseguiu:
Embora explore a temática do enlace no barraco como pano de fundo para o tamborzão de Dennis, isso já foi mais bem explorado em clássicos como “Barraco Balançando”, do DJ Denilson do Chapadão, que contém tudo aquilo que não há em “Monstrão”. Um pouco de energia do baile, sabe?
Ainda assim, a cantora tem história interessante quando funkeira. A então MC Anitta continuou a linha do funk que nasceu em “Rap da Estrada da Posse”, passou por “Glamurosa”, “Se Ela Dança Eu Danço”, e que, hoje, chega em forma de trap melódico em artistas cariocas como Luccas Carlos e Papatinho (aqui) ou em Ludmilla fazendo “700 por hora”.
A outra linha foi durante a consolidação da marca “Anitta” em que seguiu pela pancadaria de “Deixa Os Garoto Brincar” e outras montagens que viriam a se tornar os 150 BPM de “Barraco Balançando”, de Denilson do Chapadão e que a cantora macetaria, à sua forma com hits, como o já citado “Vai Malandra”, ou “Movimento da Sanfoninha”, medley de seu show que tornou-se sua bandeira internacional de, sim, também sou “esse tipo” de funk.
“Monstrão”, infelizmente, não poderá ser ostentada no portfólio.