Gabriela Schmidt: dona das lentes mais requisitadas da música brasileira
Fotógrafa de 34 anos fez capas de discos como 'Pirata', de Jão
Surrealismo, um toque punk, psicodelia e drama, muito drama. É nessa sinfonia que Gabriela Schmidt, 34 anos, orquestra capas e editoriais de grandes nomes da música brasileira –desde o mainstream até o independente. Com a busca incessante de cantores por imagens que captem a atenção dispersa no mundo virtual, a fotógrafa ajusta suas lentes para nunca perder de vista o que faz seu coração retumbar.
A história de Gabriela com a fotografia começou cedo, quando desejou uma Cybershot, câmera digital popular nos idos dos anos 2000, como as das amigas da escola. Com ela, fazia autorretratos em casa e até criou uma espécie de estúdio no sótão, onde experimentava texturas, característica presente em seu trabalho até hoje. Na idade de ir para a balada, levava na bolsa sua fiel companheira e passou a fotografar a noite de Blumenau, Santa Catarina, registando festas, shows e apresentações de drag queens.
Trabalhou na área pela primeira vez naquela época, quando entrou para o expediente de uma revista de moda local e assinou seus primeiros editoriais. Em 2012, a tal revista fechou, e Gabriela, então com 22 anos, embarcou em uma aventura de kombi com uma amiga que tinha um projeto. Rodaram o Brasil registrando os sons das comunidades kalungas, formadas por descendentes de pessoas negras escravizadas, e a missão de Gabriela era traduzir esses sons em imagens.
Na volta, abriu um estúdio com um amigo para fotografar eventos independentes na cidade. Foi quando conheceu a maquiadora Suy Abreu, cujas belezas intergaláticas estampam diversas revistas de moda. A jovem convidou Gabriela para fotografar um editorial em São Paulo, e ela nunca mais parou, assinando ensaios e editoriais para grandes marcas. Mas foi só uma questão de tempo até que o viés musical que acompanhava a catarinense desde o começo voltasse a
fazer parte de sua vida.
Fotografou capas de disco de popstars como Jão, em “PIRATA” (2021), e Duda Beat, em “Tara & Tal” (2024), além de singles como “Funk Rave”, de Anitta (2023). Também segue trabalhando com artistas independentes, como Silvia Machete, Mia Badgyal e YMA.
“É como se aquelas capas estivessem congeladas. São imagens que envelhecem muito bem. Esses trabalhos na música são mais especiais, pois fazem parte de um encontro meu com outro artista”, conta, em entrevista à Billboard Brasil. A procura pelo trabalho de Gabriela aliado à direção criativa de Marcelo Jarosz parece fazer parte de um levante da música brasileira que entendeu, de uma vez por todas, a importância da estética para além do som.
“A combinação entre música e imagem é muito importante, mas já conversei com muitos artistas que sentiram essa pressão de ter que criar imagens interessantes em vez de estar no estúdio, por exemplo”, diz. “Com as redes sociais, a busca por esses conceitos pode tornar a troca um pouco superficial, muitos apelam para o
que está na moda, gerando imagens mais genéricas.”
A partir dessa análise, a fotógrafa revela que tenta equilibrar seus maiores trabalhos com projetos autorais, sempre buscando estar em contato com sua essência artística. Gabriela, que sonhava em fotografar Rita Lee, morta em 2023, tem outros nomes da música em sua lista do coração. Desde gigantes, como Ney Matogrosso, Maria Bethânia e Hermeto Paschoal, até revelações como Ana Frango Elétrico, artista que anda ouvindo muito em uma playlist que acompanha as imagens que assina: diversa, surpreendente e impossível de não ser notada.
