Franz Beckenbauer emplacou hit nas paradas e influenciou rap brasileiro
Craque alemão morreu neste domingo (08) e deixou dois compactos gravados
O craque Franz Beckenbauer tomou pra si o adjetivo “elegante”. Lenda do futebol alemão, foi apelidado de Kaiser, “imperador” na língua natal do defensor, por seu estilo aguerrido, mas sempre muito posturado. Ele tinha 78 anos e fazia parte de uma tríade que, com sua morte e também a de Zagallo, conta somente com o francês Didier Deschamps como exemplos de jogadores e técnicos que faturaram o caneco da Copa do Mundo.
Considerado um dos melhores jogadores da história, Beckenbauer deixou uma curiosa história na música: dois compactos gravados na década de 1960. Gravados em 1966 e 1967, “Du Allein” e “Du Bist Das Glück” trazem o zagueiro em perfomance que aproxima-o da elegância desfilada em campo.
“Du Allein”, que significa “Sozinho”, traz a faixa de mesmo nome e também “Gute Freunde Kann Niemand Trennen”, que significa “Ninguém Pode Separar Os Bons Amigos”. Cantando em sua língua mãe, Beckenbauer faz uso do estilo schlager, nome dado a um padrão musical europeu, especialmente famoso a partir da década de 1950 em países como Áustria, Suíça e, claro, Alemanha.
Com “Gute Freunde Kann Niemand Trennen”, o Kaiser alcançou a posição 31º nas paradas alemãs como cantor pop. Apesar da façanha, as pequenas bolachas alcançam o preço de 39,99 euros, em sites como o Discogs, especializado em vinis — preço considerado baixo para uma raridade.
Em 1967, o single “Du Bist Das Glück” foi lançado com o lado b “1:0 for love”, um título irônico que se aproveitava do vocábulo futebolístico. Esse, sim, é ofertado com ganância: um colecionador alemão cobra impressionantes 150 euros por uma cópia do compacto.
Um craque com verificação do rap brasileiro
Apesar dos discos acima, a influência de Franz Beckenbauer na música não partiu de sua própria voz. Foi como jogador que ele inspirou uma série de artistas – brasileiros, inclusive.
O trapper baiano Ryu, The Runner (em colaboração com Emitê e Frost) canetou “RITMO DE COPA” e trouxe o zagueiro alemão ao lado de Ronaldinho, Piqué, Denilson, Ronaldo, Vini Jr. e outros craques da gorducha:
O quarteto UCLÃ também citou o Kaiser em “Boas Vindas”. Na companhia de Peu, Sos, Da Paz, Mz e L7nnon, as rimas versam “24 horas no perigo igual Jack Bauer / Clássico e fantástico igual Beckenbauer / Foda tipo ranger preto black power / Apelão tipo jogar FIFA com Bayern”.
O rapper Xamã também invocou o zagueiro. Em “Gula”, ele diz “o jovem traficante gordo lava o dólar sujo /agia como um rapper mau e comeu caramujo /jogava como Beckenbauer, tinha um beck power / descarregamos o pente da FAL e quase que eu não fujo”.
A dupla Isagi e Kaiser Trap lançou também a canção “Imperador e Egoísta”, trap no qual o estilo de jogador é notado como qualidade e cita o também Kaiser ao lado de outros esportitas como Kevin Durant, Thomas Müller e Sadio Mané:
Por último, mas não menos importante, o craque fez-se presente em um dos clássicos do humor brasileiro do início da era do P2P (sigla para peer-to-peer, tecnologia de troca de arquivo de um ip diretamente para o outro, explorado em aplicativos como KazaA, Audiogalaxy, iMesh, Lineware, entre outros).
A pérola “Jesus Negão”, composição de Márcio Nigro (atribuído frequentemente ao grupo de humor Hermes e Renato), cita Beckenbauer como um dos amigos de Jesus, já que o Nazareno, segundo a canção, batia na bola “de três dedos”.
Influência também na Argentina e na música eletrônica
Na Argentina, no começo da década de 2000, a banda beckenbauer lançou-se em canções que emulavam a estética de baladas roqueiras da época em que o craque se arriscou na música:
O produtor francês Guy Roux tem uma discografia inteira dedicada aos craques do gramado. Maradona, Iniesta, Messi. Beckenbauer é um deles. O (bom) deep house “CB – Franz Beckenbauer” você escuta abaixo:
Os alemães Radial Gaze e A-Tweed formaram o projeto Oblako Maranta e lançaram um EP chamado “Trance Beckenbauer”. A música de mesmo nome tem atmosfera obscura e viajante: