Embarcando no sertanejo, Mari Fernandez divide bastidores de sucesso meteórico
Aos 22 anos, a cantora e compositora já coleciona hits em diversos gêneros
Em 2021, quando os primeiros sinais que indicavam o fim da pandemia de covid-19 eram sentidos pelo mundo, um desejo parecia coletivo: o de dançar para esquecer a realidade em que estávamos inseridos, e relembrar da felicidade de nos movimentar ao lado de amigos e estranhos. Enquanto a indústria internacional apostava em referências oitentistas, como as dos discos de Dua Lipa e Lady Gaga, o Brasil se apaixonava pelo piseiro, subgênero do forró eletrônico que traz batidas aceleradas e dançantes que se aproximam pop.
Entre vozes como as dos Barões da Pisadinha, João Gomes, Zé Vaqueiro ecoando pelas rádios do país, uma jovem artista invadiu as paradas de primeira. “Isso é Mari Fernandez, pra lascar o coração!”, como a própria anuncia em suas canções. E lascou mesmo. A artista havia lançado em abril daquele ano o seu primeiro disco “Piseiro Sofrência”, que contava com a faixa “Não, Não Vou (Passa Lá em Casa)”, que caiu na boca do povo.
Mas antes do seu primeiro hit, a cantora natural de Alto Santo, interior do Ceará, partiu para a capital do estado em busca do sonho de ser uma compositora de sucesso. Sempre incentivada por sua família, cheia de músicos, Mari relembra sobre esse período em entrevista à Billboard.
“Ninguém gravava minhas composições. Então, tive que arrumar outro jeito de me sustentar em Fortaleza. Eu tinha 17 para 18 anos, fui atrás dos barzinhos. Também trabalhava de recepcionista numa faculdade, começava o dia às 7h da manhã, e ia até as 15h. Depois, ia compor com meus amigos e, de noite, tocava nos bares”, conta.
A jovem, que sempre gostou de escrever, logo entendeu que teria que se arriscar para se destacar. “Escrevia sobre temas diversos, picolé, Uber e até motel [risos]. Você nunca sabe quando uma música vai ser hit, e quando tinha alguma composição que todo mundo achava estranha, aí que eu confiava mesmo”, diz. “Naquela época, eu mandava mensagem para artistas nas redes sociais, escrevia comentários nos vídeos de YouTube, e ia na para as porta das gravadoras e estúdios esperá-los”.
Quando suas composições finalmente começaram a ser escolhidas por artistas consagrados, a voz de Mari, registrada nas guias das canções, chamou a atenção de empresários. Ela ouviu que seu timbre “dava vontade de beber”. A partir daí, tudo mudou.
“Parada Louca”, parceria com Marcynho Sensação, lançada em outubro de 2021, tem quase 500 mil vídeos publicados no TikTok. No Spotify, a faixa contabiliza mais de 173 milhões de plays. Em setembro do ano seguinte, “Eu Gosto Assim”, seu maior hit até hoje, era lançado. A faixa, uma colaboração de Gustavo Mioto com Mari, ultrapassou 260 milhões de plays na no Spotify, contabilizando mais de 12 milhões de ouvintes mensais.
A artista, representante da chamada geração Z (pessoas que nasceram entre 1990 até 2010), reconhece a importância da internet em seu sucesso, mas reflete sobre as consequências.
“Hoje em dia é muito fácil fazer sucesso na Internet. Nós temos redes sociais que conseguem viralizar uma pessoa de uma hora para outra, de forma orgânica. O difícil é se manter. Quando você vê que a pessoa conseguiu sustentar isso é porque ela merece estar ali. Lógico que é preciso ter talento, mas a dedicação, o foco, a força de vontade e a inteligência vencem qualquer talento”, diz.
Os requisitos listados por Mari são seguidos à risca por ela, que neste ano, lançou o segundo DVD de sua carreira, “Ao Vivo em São Paulo”. O projeto chega com clipes e videografismos inspirados em shows internacionais como de Beyoncé, The Weeknd, e Adele, de quem é fã. A cantora inglesa também pautou a moda e beleza de Mari e Luísa Sonza, que participou da faixa “Deixa Eu Viver”.
O projeto oficializa a entrada da cantora no sertanejo. No DVD, ela colaborou com Hugo e Guilherme, e Maiara e Maraisa. Mas não parou por aí, não. A cantora participou da faixa “Meu Vício”, de Michel Teló lançada em julho, e realizou um sonho: um feat com Gusttavo Lima. A canção da dupla estará em “Meu Paraíso Particular”, DVD do cantor gravado no último mês em sua casa, em Goiânia.
Em agosto, Mari fez sua estreia na tradicional Festa do Peão de Barretos abrindo o evento “A gente sabe que a cultura do público que atende a festa gosta de música de peão, de sertanejo, e fiquei muito feliz de chegar lá e ver a galera cantando todas as minhas música. Espero que seja a primeira vez de muitas”, contou. A cantora também roda o país com a festa “Mari Sem Fim”, evento open bar que sem ter hora para acabar.
De sonhadora para estrela, Mari desabafou sobre se tornar um fenômeno do dia para a noite sendo tão jovem. “É uma mistura de sentimentos, é difícil de explicar. Eu sei de tudo que fiz para chegar aqui, mas reconheço que cheguei muito rápido. Fico pensando que poderia ter levado anos, e agradeço por não ter desistido, porque em vários momentos eu pensei em fazer isso”, conta.
“É um mundo de muitas oportunidades. As pessoas te falam o quanto você é gigante, mas poucos falam a verdade na sua cara. Quando você acha essa pessoa, é preciso valorizá-la, porque é ela que vai dar o choque de realidade, senão você se perde. Por isso. Desde o início da minha carreira eu procurei fazer terapia para cuidar da minha saúde mental.”
Ao contrário do esperado para sua geração, Mari rejeita o imediatismo e conta que não pensa, no momento, em expandir sua música para mercados internacionais, e sim em se firmar no Brasil. Aproveitando assim todas as fases de sua carreira sem pressa, mas preservando o sangue nos olhos, bom humor, e a paixão por fazer músicas que a trouxeram até aqui.