Como ‘teimosia’ quase fez Belo perder um dos seus maiores sucessos
'Eu não queria cantar essa música', admite o cantor
“Me entreguei de novo / Ah, mas quem diria”. Esse é o trecho do refrão de “Perfume“, canção que ficou eternizada na voz de Belo e um dos hinos do pagode, regravada recentemente por Ludmilla. Porém, por muito pouco, essa música não ficou apenas na vaga memória dos bastidores.
Em números nas plataformas de streaming, “Perfume” é a música de Belo mais ouvida no YouTube e a segunda mais ouvida no Spotify, ficando atrás apenas de “Reinventar”.
Para explicar essa história, a Billboard Brasil ouviu o compositor, Umberto Tavares, o produtor Wilson Rodrigues, o Prateado, e Marcelo Pires Vieira, o Belo. Os três são unânimes em dizer que o principal “culpado” pela confusão é… o próprio Belo.
“Eu não queria cantar mesmo, mas olha o que virou essa música hoje em dia”, conta Belo.
De início, voltemos no início dos anos 2000. Umberto e seu parceiro, Júlio Borges. Fazendo o repertório para um amigo, os dois compuseram “Perfume”. Porém, esse amigo recusou a canção, que na sua versão inicial tinha apenas violão e voz.
“Era uma parada meio Disney. Piano e voz, com o Júlio cantando na demo. Não tinha nada a ver com pagode”.
Os ‘nãos’
Num papo qualquer de estúdio, Umberto apresentou a canção para o amigo Prateado, que havia acabado de produzir o primeiro álbum solo de Belo, “Desafio”.
Prateado ficou maravilhoso com a canção e tinha certeza que ela se encaixava perfeitamente na voz do cantor. No mesmo dia, o produtor rapidamente foi através de Belo e apresentou a música para o artista que, prontamente, mandou.
“Não, não gostei”.
Sem rodeios, o cantor recusou a canção. Mas, pelos próximos bons anos, Prateado perseguiu Belo com a canção. Ele reforçava que a tinha os arranjos ideais, que a música se encaixaria perfeitamente com o pagodeiro.
“Todo álbum, DVD, qualquer projeto que o Belo ia gravar, eu falava dessa música. Uma vez ele disse: ‘Prateado, deixa de ser chato, eu já disse que não vou gravar. Não sei o que você tem com essa música’. Mas eu acreditava e sabia que ele ia ceder um dia – nem que fosse por cansaço”, contou Prateado.
Birra
Em 2008, Belo gravou o DVD “Pra Ver o Sol Brilhar” no Rio de Janeiro. No repertório, lá estava “Perfume”, entre as últimas canções. Contrariado, o cantor fez sua parte – mas não tão bem feita.
Fim de gravação, equipe reunida no camarim. Belo dá um abraço no seu amigo e diz: ‘Caralho, seu Wilson. Que DVD maravilho'”.
Prateado responde: “‘Sim, seu Marcelo. Ficou foda mesmo. Mas volta lá e canta ‘Perfume’ de novo. Já avisei a banda, está todo mundo pronto para tocar de novo”.
“Pelo amor de Deus, Prateado. O público foi quase todo embora, eu estou cansado. Depois eu gravo isso!”, disse o cantor, tentando convencer seu parceiro. Em vão.
No entanto, Belo voltou ao palco e, com o espaço esvaziado, cantou “Perfume”. Nas imagens do DVD, Belo aparece com uma cara de pouquíssima animação.
Dado o momento, boa parte do registro fica no palco, focando o cantor e sua banda. O pouco público presente estava em completo silêncio.
Foi a primeira e última vez que Belo cantou “Perfume” sem nenhum fã na plateia se esgoelar cantando a letra do início ao fim.