Como foi o maior show da história do System of a Down
Entenda porque o show do System of a Down é uma experiência cultural e política


O mega hit dos Rolling Stones “It’s Only Rock ’n’ Roll (but I Like It)” diz algo como “aproveite a diversão”. É isso e basta ser isso. Poderia ser uma regra, mas rock também é uma música de contestação por natureza.
Por isso, todos que vão ver um show da banda System of a Down precisam ter a consciência que estão tendo uma experiência cultural e política que foge do mantra dos Stones.
Explico.
O baixista Shavo Odadjian é nascido na Armênia. O vocalista Serj Tankian e o baterista John Dolmayan são do Líbano e o guitarrista Daron Malakian é estadunidense. Todos têm ascendência armênia.
A banda fala em suas letras e entrevistas sobre guerras, criticas ao sistema político, desigualdade social e, especialmente, fala sobre a importância do mundo reconhecer o genocídio armênio.
Em razão da história e luta da banda, o show mais importante da história do System of a Down aconteceu na Armênia, em 2015.
Como foi o show do System of a Down na Armênia
Em 2015, o System of a Down recebeu o convite para uma apresentação especial no Memorial do Genocídio Armênio.
Neto de sobreviventes do genocídio armênio, Tankian já tinha tocado na Armênia em 2010 e 2011, mas apesar da banda falar em seus discursos e em suas letras sobre o massacre, ainda não tinha se apresentado no país.
Naquela época, a banda estava há 10 anos sem lançar um novo trabalho e viveu um hiato entre 2006 e 2010.
Serj Tankian estava despontando em sua carreira solo. O guitarrista Daron Malakian e o baterista John Dolmayan formaram o projeto Scars on Broadway.
Inspirado pelo convite de tocar com o SOAD no Memorial do Genocídio Armênio, o vocalista Tankian organizou uma turnê mundial chamada “Wake Up The Souls” para justamente lembrar os 100 anos do massacre. A turnê passou até aqui no Brasil, no festival Rock in Rio.
A última data da turnê aconteceu na Praça da República, na capital da Armênia, com entrada gratuita e transmissão ao vivo para o mundo
Histórico e significativo para todos os presentes, a banda se apresentou durante 3 horas sem pausa e debaixo de uma imensa chuva. O setlist teve 37 músicas que contou com hits históricos como “Toxicity”, “Aerials”, “Chop Suey!” e músicas com com referências diretas ao povo armênio, como “Holy Mountains” e “P.L.U.C.K”.
O System of a Down tinha planos para um segundo show na Armênia, mas a ideia não conseguiu ser executada em decorrência da pandemia de Covid-19.
“Tive a sensação de que a banda estava destinada a fazer esse show, como se tivesse sido criada apenas para esse dia. Milhões de pessoas em todo o mundo assistiram ao vivo, contribuindo para que o genocídio armênio se tornasse a principal notícia naquela semana. Alguns dizem que o show deu vida aos jovens na Armênia, em termos de ajudar a tornar seus sonhos uma realidade. Eu vi o futuro da Armênia nos olhos sorridentes dos jovens de lá”, disse Tankian para a Media Max.
O que foi o genocídio armênio
O jurista polonês Raphael Lemkin define genocídio como o empenho em assassinar na sua totalidade um grupo étnico ou religioso, pelo simples fato de existir.
No início do século 20, os cristãos armênios eram uma entre várias comunidades religiosas minoritárias dentro do Império Otomano, o que seria hoje a Turquia. Na época, o Império Otomano era comandado pelos muçulmanos.
Uma série de medidas de políticas nacionalistas foram o estopim do chamado genocídio armênio, que aconteceu entre 1915 e 1917, durante a Primeira Guerra Mundial.
Estudiosos em grande maioria afirmam que há mais provas documentais do genocídio armênio do que do Holocausto.
As autoridades da Armênia afirmam que até 1,5 milhão de pessoas foram mortas no período por meio de massacres realizados pelo Império Otomano, o que seria hoje a Turquia.
No entanto, a Turquia afirma que não houve um planejamento de extermínio da população da Armênia e que se tratou de um conflito civil. Segundo os dados do país, morreram entre 300 mil e 500 mil armênios, ou seja, uma quantidade similar de vítimas turcas. Inclusive, a Turquia considera o termo “genocídio armênio” uma ofensa e um delito previsto no artigo 301 do Código Penal.
Apenas 30 países reconhecem o genocídio armênio, entre eles, os Estados Unidos e a Argentina. Países como Brasil e Espanha ainda não o fizeram. Em 2025, uma carta da comunidade armênia foi enviada ao presidente Lula (PT) pedindo que o Estado brasileiro reconheça o genocídio de 1915.