Cefa: banda de rock homenageia Marília Mendonça em novo álbum
Trio em ascensão se destaca por composições viscerais e sonoridade própria
Doloroso, traumático e difícil. É assim que Caio Weber, vocalista da Cefa, define o processo de composição e produção do novo disco do trio, “PRA QUE A REALIDADE NÃO NOS DESTRUA”. Formada em 2012 no Paraná, a banda sofreu algumas alterações nos integrantes até chegar na formação atual. Além dele, Gabe Oliveira (guitarrista) e Giovani Ivasco (baixista), compõe o grupo que se destaca da cena underground nacional nos últimos anos.
Em ascensão na cena desde 2020, com a repercussão do primeiro álbum “CAOS”, a Cefa se consolidou como um dos principais nomes do rock alternativo.
“As coisas mudaram totalmente e passamos a conhecer todo mundo que a gente admirava. Fila para tirar foto, ser reconhecido no metrô… A gente nem sabia conversar direito [risos]”, diz Giovani em conversa da banda para a Billboard Brasil.
“Conquistamos muita coisa muito rápido e era meio assustador, porque não tínhamos tempo para processar muito bem. Foi uma montanha-russa muito doida”, acrescenta Gabe.
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Composição terapêutica
O desafio continuou para a produção do segundo disco. “Sempre ouvia das bandas que ele seria o mais difícil. Fomos para uma chácara, para compor tudo, mas eu me pressionei muito como compositor e cantor. Os meninos me ajudaram muito nesse processo, foi como uma terapia”, avalia Caio.
O segundo álbum aborda o sufoco da vida adulta, assim como as preocupações do trio como artistas e o medo do futuro. Em “Essa É Sobre Nós”, eles cantam sobre valorizar o caminho em vez de focar na chegada.
Outros destaques são “O Infinito Que Existe Em Mim”, com um toque dançante nos versos contrapondo com o pedal duplo da bateria no refrão, e “Alguém Me Tira Daqui!”, lançada anteriormente como single.
“MARÍLIA” é uma homenagem dolorida para Marília Mendonça, vítima de um acidente aéreo em novembro de 2021. Além de ser adorada pelos rappers, a cantora sertaneja conquistou um espaço no coração roqueiro de Caio (ouça abaixo).
“Vou casar em dezembro e eu sonho em ser pai. O fato dela ter morrido trabalhando e ter deixado um filho me pegaram muito. Eu sofria com a perda como se fosse uma pessoa próxima a mim”, conta.
“A tua estrela brilhava tanto que o céu se invejou
E te levou desse mundo pra iluminar
Minhas noites mais sombrias” – trecho de ‘MARÍLIA’
A composição foi feita no mesmo dia do acidente da cantora. “Peguei o violão e me imaginei em um lugar de um filho que perdeu a mãe”, conta o vocalista.
“Muitos fãs tiveram essa leitura, de uma pessoa que perdeu alguém e sobre como lidar com o luto. Eu busquei sentimentos reais e até tem um pouco a ver com o Rafa, nosso primeiro baterista. Ele morreu em 2014.”
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Sem surfar em onda nenhuma
O cuidado da banda em não espetacularizar o tema não é de agora. O mesmo cuidado foi tomado em “CAOS”. Soar como marketing é algo que o trio quer se afastar –e conseguem com facilidade. São as composições viscerais e a sonoridade própria, sem se limitar a estilos, que conquistam o público.
“Tocamos em temas que não necessariamente nos diziam respeito diretamente, como a intolerância religiosa ou a causa LGBTQIA+”, diz Caio.
“Temos essa regra de composição de ser de verdade”, acrescenta Gabe. “Se é algo real, você vai defender e dar a cara a tapa por aquele trabalho. As pessoas se conectam vendo essa tamanha sinceridade e vulnerabilidade na música”.
O vocalista diz que o trio paga o preço por ser de verdade demais. “Não agir de determinadas maneiras fecha algumas portas. Mas são coisas que não vão nos fazer diferença. Existe uma responsabilidade artística. Para a gente se posicionar assim, temos que ter cuidado com a forma que fazemos”.