O que levou ao cancelamento das turnês de Ivete Sangalo e Ludmilla?
Executivos da música citam otimismo exagerado por parte da produtora
No mercado do showbiz, o cancelamento das turnês de Ludmilla e Ivete Sangalo foi antecipado por muita gente. Havia um otimismo exagerado da produtora 30e por conta do sucesso da turnê “Encontro”, dos Titãs, e a busca pela próxima turnê vitoriosa acabou por criar uma sucessão de erros. Em nota oficial divulgada nesta quarta (15), ambas as artistas anunciaram o cancelamento de suas turnês e responsabilizaram a produtora pela decisão.
Ivete disse que “a realização de um projeto dessa magnitude exige a mobilização de uma estrutura complexa, que só se viabilizaria se houvesse um nível de planejamento e organização adequados”. Já Ludmilla afirmou que a produtora responsável não cumpriu “as condições previstas no pré-contrato para a viabilidade dos shows”. Ambas tinham projetos grandes: Ivete celebrando seus 30 anos de carreira, Lud comemorando uma década.
Segundo fontes do mercado, a sensação de que essas grandes turnês poderiam dar certo, criada por algumas exceções que de fato funcionaram, fez com que as empresas apostassem sem ter garantias. A gigantesca turnê dos Titãs, promovida pela 30e, foi um desses casos. A série de shows em celebração dos 30 anos do Soweto, outro.
“Ajuda a criar a ilusão. Mas é uma em um milhão. Colocar Titãs em estádio foi um golaço, mas é preciso tomar cuidado com o resto. Nem tudo funciona como Sandy e Junior”, afirma outra fonte que não quis se identificar, citando o sucesso da turnê promovida pelos irmãos.
Outra irresponsabilidade apontada pelos especialistas é o alto investimento em produção, normalmente sem um teto determinado, o que faz com que os shows saiam muito caros. “Se você fecha com um artista, mas não impõe limites na planilha, ele vai querer gastar muito e ter o máximo de produção. Às vezes, você enche o estádio e ainda assim não paga a conta.”
Essa mecânica faz com que as produtoras trabalhem muitas vezes com dívidas, e aí adiantem verba de bilheteria para cobrir buracos –o que só empurra o problema adiante e faz com que ele cresça, num ciclo sem fim aparente.
Ingressos caros
Para que o alto custo seja pago, é necessário ingressos caros –o que, consequentemente dificulta as vendas. Especialmente diante da imensa oferta de shows e festivais que vêm sendo promovidos no país.
Em Belém, por exemplo, um dos destinos das turnês da 30e, os ingressos para assistir a Ivete e Ludmilla iam de R$ 150 a R$ 3.000 por cabeça. Segundo dados do IBGE o salário médio do trabalhador paraense aparece entre um dos menores de toda a região Norte, com média de R$ 2.200. Por conta dessa realidade, poucos ingressos foram vendidos.
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Segundo a Billboard Brasil apurou, as duas cantoras acompanharam a situação. Em casos como esse, a produtora parceira normalmente tenta redimensionar a turnê para não haver prejuízo para ambas as partes –especialmente em casos de shows muito caros. Mas ambas decidiram manter a tradição do que sempre apresentaram ao público: espetáculos grandiosos. E, por isso, teriam optado pelo cancelamento.
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Como ficam os festivais?
Tudo indica que a mesma situação deva afetar os festivais.
“Nenhum estado brasileiro tem capacidade financeira para ter Lollapalooza, Primavera Sound e The Town num mesmo ano. O próprio Rock in Rio já começa com uma noite brasileira visando atingir outro público. Temos um fenômeno acontecendo no Rio, onde aquela fórmula de festivais com artistas nacionais parece não estar dando certo. Um fez, e surgiram mais dois ou três iguais. E aí nenhum tem o mesmo resultado. Acho que vai demorar uns dois anos até que tenhamos uma acomodação do mercado”, diz a fonte ligada à Billboard Brasil.
Entenda o caso
As duas cantoras anunciaram o cancelamento de suas respectivas turnês, que aconteceriam ainda neste ano. Os fãs das cantoras podem já solicitar o reembolso dos ingressos comprados pelo site da tiqueteira Eventim.
Ivete iria viajar o Brasil com “A Festa”, turnê para celebrar os 30 anos de carreira. Seriam 30 shows em 30 cidades diferentes, que começariam em 29 de junho.
Já Ludmilla estava programada para se apresentar com a turnê “Ludmilla in the House”, que comemoraria seus dez anos de estrada. O primeiro show seria em 25 de maio, no Rio de Janeiro.
Ambas as cantoras emitiram comunicados para explicar a decisão –e ambas responsabilizam a 30e pelos problemas.
Ivete Sangalo: “Mas a realização de um projeto dessa magnitude exige a mobilização de uma estrutura complexa, que só se viabilizaria se houvesse um nível de planejamento e organização adequados, que garantissem, com a antecedência necessária, todas as condições prometidas, esperadas e pactuadas em contrato”.
Ludmilla: “A decisão foi tomada mediante o não cumprimento por parte da produtora responsável pela turnê das condições previstas no pré-contrato para a viabilidade dos shows planejados há meses”.
O que diz a 30e
Em comunicado oficial, a empresa alegou “surpresa” e lamentou a decisão “unilateral” das cantoras. Leia na íntegra:
“A produtora lamenta, mas respeita a decisão unilateral das artistas e esclarece que, em nenhum momento, avaliou o cancelamento das duas turnês. Em relação à turnê ‘Festa’, por questões de demanda, a empresa propôs à artista e sua equipe uma readequação da estrutura e produção e foi surpreendida com o comunicado publicado. Em relação à turnê ‘Ludmilla in the house tour’, não houve nenhuma negociação anterior à decisão exclusiva da artista, e seu comunicado.
Com mais de três milhões de pessoas impactadas anualmente pelos eventos que promove, realiza e produz, a 30e pode afirmar sua integral capacidade para cumprir seus compromissos com seus clientes, parceiros e patrocinadores, e informa que as demais turnês anunciadas estão confirmadas e ocorrerão.”