Para iniciar a minha coluna na Billboard Brasil, escolhi escrever sobre a dimensão do mercado de festivais de música, tema que iremos aprofundar por aqui todos os meses. Não é difícil perceber que um país de dimensões continentais como o nosso tenha um mercado de festivais aquecido. O desafio mesmo é ter acesso aos números reais sobre essa indústria. Enquanto em outros países há mais incentivos governamentais para pesquisas no setor e empresas dedicadas a rastrear e acompanhar dados, no Brasil ainda se trabalha praticamente às cegas nesse aspecto.
Há 2 anos a plataforma Mapa dos Festivais foi criada com a missão de investigar a cena dos festivais e, desde então, publica a pesquisa proprietária Panorama Mapa dos Festivais. Esse estudo revela informações fundamentais sobre os festivais de música mapeados pela plataforma, analisando dados sobre os eventos, os artistas que se apresentam e as marcas que patrocinam, comprovando com dados o que já suspeitávamos:o mercado brasileiro de festivais é gigante, diverso e de grande impacto econômico.
Nesta coluna, vou me dedicar a escrever apenas sobre os festivais de música, recorte essencial da engrenagem da música ao vivo. Mas afinal, o que define um festival de música? De acordo com os critérios do Mapa, são eventos que têm a música como seu pilar central que oferecem uma maratona de shows com pelo menos cinco artistas autorais e que proporcionam uma experiência e infraestrutura adequada para o frequentador passar horas e horas curtindo os shows. Outro aspecto importante é o compromisso com a continuidade do evento, ano após ano, pois festivais não são eventos isolados, eles constroem legado. Em 2024, festivais com essas características, somaram 364, dentre eles, 40% acontecem fora de capitais e 69 são festivais de primeira edição, comprovando a enorme capacidade de renovação do setor. Até junho deste ano, a plataforma já registra mais de 200 festivais de música.
Analise dos festivais de música no Brasil
E o que esses números nos dizem? Temos festivais em todas as regiões do país, de todos os tamanhos, de todos os gêneros musicais, o ano inteiro. Claro que ainda há uma alta concentração de eventos na região sudeste e na cidade de São Paulo, para a surpresa de zero pessoas. Mas a região nordeste, por exemplo, vem logo atrás e o Norte, apesar de ser a região que menos recebe esse tipo de evento, dobrou o número de festivais em relação a 2023, provando que o Brasil vai muito além dos icônicos Rock in Rio, Lollapalooza e The Town. Outra característica é a falta de uma temporada definida, comum em outros países. Por aqui, em qualquer época do ano há inúmeras opções de bons festivais rolando de norte a sul.
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A diversidade musical dessa cena também é o que a torna gigantesca. No Brasil temos festivais para todos os gostos. Quase 50% deles são multigênero, ou seja, recebem no seu lineup uma variedade de estilos musicais, podendo ir do sertanejo ao funk no mesmo dia, por exemplo, um reflexo direto de como as pessoas consomem música atualmente. Apesar do multigênero dominar, também temos uma grande variedade de festivais dedicados a cenas específicas como o rock, samba e pagode, rap e trap e música eletrônica.
Nos próximos meses, usarei esse espaço para aprofundar questões da relação dos festivais com artistas e cenas musicais, marcas patrocinadoras, comportamento de consumo do frequentador e sustentabilidade ambiental. Sempre procurando ampliar a compreensão sobre os festivais que acontecem fora do sudeste e inspirar novas conversas sobre o presente e futuro dos festivais de música no Brasil.
Juli Baldi é jornalista, pesquisadora e diretora do Mapa dos Festivais, plataforma de conteúdo e dados sobre festivais de música no Brasil e do Bananas Music.
