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Porta-bandeira da Portela vai à Brasília ser homenageada e sofre racismo em aeroporto

Porta-bandeira da Portela vai à Brasília ser homenageada e sofre racismo em aeroporto

Empresa afastou acusada de racismo contra Vilma Nascimento, de 85 anos

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Vilma Nascimento, de 85 anos, foi homenageada em Brasília na segunda-feira (20/11), Dia da Consciência Negra. Na terça-feira (21/11), antes de retornar ao Rio de Janeiro, ela foi acusada de furto em uma loja do aeroporto do DF. Conhecida como Cisne da Passarela, título que recebeu do jornalista Valdinar Ranulfo, devido à elegância com que mudou o estilo de dança das porta-bandeiras, a porta-bandeira da Portela teve sua bolsa revistada para provar que não subtraiu nenhum pertence do estabelecimento.

O caso foi denunciado e filmado pela filha dela, Danielle Nascimento, em uma publicação feita no Instagram. Danielle relatou que havia comprado chocolates para o marido e o filho e, quando passou novamente pela porta da loja, foi acusada por uma fiscal de ter pegado um produto sem pagar. A funcionária, então, pediu que Danielle e Vilma a acompanhassem. A fiscal foi orientada por rádio a revistar a bolsa da mãe dela. A abordagem foi feita no meio da loja, na frente de outros clientes, e Vilma “ficou surpresa, revoltada e envergonhada”, disse a filha. “Foi muito constrangedor”.

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“Sou negra, sim! Meu avô era escravo, minha vó era índia”

Na véspera, Vilma havia sido homenageada na Câmara dos Deputados. A ex-porta-bandeira participou de uma sessão solene para marcar o Dia da Consciência Negra. Ela desfilou no corredor do plenário, fazendo uma espécie de abre-alas para a exposição “Pensamento Negro no Brasil: uma Conexão Ancestral”, que tem um painel dedicado a ela.

Em entrevista ao RJTV, a porta-bandeira reafirmou o ato de racismo da equipe de segurança da Dufry. “Sou negra, sim! Com muito orgulho. Meu avô era escravo; minha vó, índia. Por que só eu fui revistada? Foi por causa da minha cor, sim”.

Vilma chegou a dizer que abriria a bolsa na presença da polícia, mas a filha começou a gravar e diz que insistiu que ela abrisse por causa da proximidade com a hora da decolagem.

No vídeo, dá para ouvir o diálogo de Danielle com a mãe: “Esqueceu de pagar algum produto, mãe?, pergunta a filha. Vilma indaga de volta: “Eu? Não comprei nada. Como é que vou pagar?” A filha orienta: “Mãe, não fala nada. Só faz o que ela está pedindo e depois a gente vê. Tira tudo da bolsa, mãe”. Um outro vídeo mostra o momento que a idosa cata alguns de seus pertences do chão.

Nenhuma irregularidade foi encontrada, segundo a família, e nenhum outro passageiro foi revistado. A família afirma que eles não pediram desculpas pelas abordagens, e citam a cor da pele como potencial motivo.

Empresa confirma afastamento da funcionária em “lamentável acidente”.

Dufry Brasil, empresa do Grupo Avolta onde Vilma foi abordada, divulgou nota pedindo desculpas publicamente pelo “lamentável incidente”. A empresa diz que a abordagem foi “absolutamente fora do padrão” do grupo e que a fiscal de segurança foi afastadade suas funções.

A Portela, escola que Vilma fez história, disse que “A luta por uma sociedade mais justa e humana passa pelo combate ao racismo”, e repudiou a situação.

“É uma sambista de destaque, que trás na pele a marca de nossa ancestralidade. O constrangimento, demonstrado nas imagens divulgadas, é sentido por todos que temos no samba parte importante de nossa identidade, e que enxergamos em Vilma uma de nossas grandes referências”, reforça o posicionamento.

O Grêmio Recreativo Escola de Samba Tradição postou uma nota em solidariedade a baluarte.

“Nossa escola acredita na valorização de nossas raizes e não tolera atitudes racistas e preconceituosas. Como sambistas, devemos lutar pelos nossos e defender cada injustiça. Como humanos devemos sempre levantar a bandeira da igualdade, da pluralidade e do amor! Racistas, não passarão!”, afirma o posicionamento.

A deputada federal Talíria Petrone também repudiou o caso, e disse que “Esse é um retrato certo de como funciona o debate racial no país. Na prática, o procedimento é outro!”.

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