Por que José James, que inicia uma turnê brasileira, é alma inquieta do jazz
Cantor americano faz misturas do gênero com soul music, funk e hip hop
Uma frase atribuída ao maestro Tom Jobim (1927-1994) dizia que “tudo o que chacoalha o americano chama de jazz”. E não é que um combo de músicos e cantores de patente alta potencializou o poder sacolejante do gênero americano? Em meio a misturas com soul music, funk e hip hop, o nome de José James se destaca pelo talento e musicalidade inquieta.
O cantor inicia neste sábado (14) uma temporada que passa por Santa Teresa (Espírito Santo), São Paulo e Rio das Ostras (confira datas, locais e preço dos ingressos abaixo). Na bagagem, seus dois últimos discos nos quais presta uma homenagem ao ano de 1978 –não por acaso, o ano em que veio ao mundo.
“É um período muito especial, a soul music daquele período estava em alta e se desenvolvendo”, diz, em entrevista à Billboard Brasil. A reverência à este período se faz presente no curta metragem “Revenge of the Dragon”, no qual encarna uma versão moderna de Bruce Lee e de Black Belt Jones.
“Sou fã de blaxploitation, aqueles filmes produzidos, dirigidos e estrelados por afro-americanos e que traziam uma trilha sonora espetacular –e estou falando de temas criados por gente como o maestro Quincy Jones”, explica James.
“E se você prestar atenção, em ‘Operação Dragão’, de Bruce Lee, ele tem na parede um pôster do Jimi Hendrix”, comenta o vocalista, traçando um paralelo entre a cultura do kung-fu e a da música afro-americana (nota do redator: para ir mais além, vale a pena escutar “Enter the Wu-Tang: 36 Chambers”, estreia do combo de hip hop Wu-Tang Clan que mistura kung fu, as mais diferentes formas de rap e até jogo de xadrez!).
José James, como diria Moraes Moreira, é um “monumento da raça pela graça da mistura”. Nascido em Minneapolis e fruto da união de um saxofonista panamenho com uma descendente de irlandeses, ele estudou na The New School for Jazz and Contemporary Music, em Nova York escola que gerou, entre outros talentos, os pianistas Robert Glasper e Brad Mehldau e a cantora Becca Stevens. O local ampliou seus horizontes musicais: James acredita, por exemplo, que o hip hop é um descendente do jazz. “É um caminho de evolução natural”, diz. Certa feita, teve uma conversa sobre o assunto com Wynton Marsalis, trompetista e maestro da Lincoln Center Jazz Orchestra, que não é afeito a misturas do gênero com rock, muito menos hip hop. “A gente concordou que cada um discorda do ponto de vista do outro. Mas respeito muito o trabalho do Wynton”, explica.
A voz de barítono e a curiosidade musical natural de James permite que ele explore os mais diferentes gêneros musicais. Ele pode ir desde trabalhos influenciados pelo rap até tributos a lendas do jazz como a cantora Billie Holiday (1915-1959) – o espetacular “Yesterday I Had the Blues: The Music of Billie Holiday”, tributo à maior intérprete de jazz de todos os tempos. “Lean on Me” (2018), por seu turno, bate cabeça para Bill Withers (1938-2020). “É um artista que as pessoas dizem não conhecer, mas sabem todos os sucessos dele”, comenta James, sobre o autor de pedradas como “Lean on Me”, “Lovely Day” e “Just the Two of Us”. Em 2023, foi a vez de ele revisitar o repertório de Erykah Badu em “On & On”. “Ela é uma das pioneiras dessa modernização do jazz. E está sempre com algo novo para nos apresentar.”
“1978”, seu disco de 2024, traz a participação da brasileira Xênia França. “Eles queriam algo que remetesse às divindades das águas e logo pensei em Oxum”, comenta a cantora baiana radicada em São Paulo, que participa da canção “Worship”. “Xênia foi uma sugestão de Brett Sanders, meu agente. Gostei muito da participação dela”. “Revenge of the Dragon” tem como atrativo uma versão de “Rock With You”, clássico do repertório de Michael Jackson (1958-2009). “Como eu falei, foi um ano poderoso”. Os próximos discos irão na esteira do jazz/pop/hip hop? Nada disso. “Estou preparando um tributo a Frank Sinatra”. José James é de fato uma alma inquieta.
JOSÉ JAMES NO BRASIL
Dia 14 no Festival Internacional de Jazz e Bossa Nova de Santa Teresa (Espírito Santo)
Ingressos: Le Billet
Dia 16 no Blue Note (São Paulo)
Ingressos: Eventim
Dias 20 e 21 no Rio das Ostras Jazz e Blues Festival (Rio das Ostras, RJ)
Entrada gratuita