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Por que falar dorama é errado?

Por que falar dorama é errado?

Associação Brasileira de Coreanos reprovou a inclusão do termo no dicionário

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'Pousando no Amor' (2019)

As produções sul-coreanas, sejam filmes ou séries, conquistaram de vez o mercado global dos últimos anos. “Parasita” (2019) levou quatro prêmios no Oscar em 2020. Em 2021, “Round 6” se tornou a série mais assistida da Netflix, dividindo popularidade nos anos seguintes com dramas como “Rainha das Lágrimas” (2024), “Pousando no Amor” (2019), “True Beauty” (2020), “A Lição” (2022), entre outros. Nas redes sociais, há um debate importante sobre a nomenclatura dessas obras. O termo “dorama” é popularmente usado para se referir às produções asiáticas. Até a Academia Brasileira de Letras incluiu a palavra no dicionário da língua portuguesa como:

“Obra audiovisual de ficção em formato de série, produzida no leste e sudeste da Ásia, de gêneros e temas diversos, em geral, com elenco local e no idioma do país de origem”.

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Como referência, a ABL usou o Oxford English Dictionary, que, por sua vez, define obras sul-coreanas como “k-drama”.

A Associação Brasileira de Coreanos reprovou a dicionarização do termo, anunciada em outubro de 2023. “É preconceituosa a decisão de generalizar as produções do leste-asiático”, diz o comunicado publicado na época.

“Não é certo generalizar expressões culturais. Cada produção tem suas características, peculiaridades e um público específico. Generalizar é confundir as peculiaridades. É como falar que toda comida nordestina é comida baiana”.

'True Beauty' (2020)
‘True Beauty’ (2020) (Viki)

Raízes imperialistas

O termo “dorama” nasceu no Japão nos anos 1950 para se referir às produções japonesas e segue a fonética de “drama” no japonês. Na época, elas se popularizaram por países do leste asiático, incluindo a Coreia do Sul.

Mas vale lembrar que de 1910 a 1945, os japoneses extirparam todo resquício de identidade coreana e impuseram os seus costumes –entre eles a língua, os livros de história, programas de rádio e de TV.

“O uso no Brasil do termo ‘dorama’, em japonês, generaliza e apaga indústrias midiáticas asiáticas. Esse apagamento fortalece estereótipos e reforça, assim, o orientalismo”, explicou Daniela Mazur, doutora e pesquisadora da Universidade Federal Fluminense (UFF), no manifesto da ABC.

“O drama de TV é um formato televisivo realizado em diferentes indústrias da mídia no leste e sudeste asiáticos. Chamar um drama sul-coreano, ou k-drama, de ‘dorama’ é mais uma forma de estereotipar um consumo, além de ativar estruturas históricas de raízes imperialistas”.

Augusto Kwon, presidente da Associação Brasileira dos Coreanos, acrescentou: “Em nenhum outro país do mundo as séries asiáticas são generalizadas. Aliás, não existem para as séries da Europa, por exemplo, o termo ‘eurodramas’”.

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