Peter Hook, ex-New Order, faz show único em São Paulo e espeta ex-companheiros
"Eles nunca mais soaram como eram na minha época", diz o baixista
Peter Hook está nu. Literalmente. Em entrevista para a Billboard Brasil, o ex-baixista de Joy Division e New Order, hoje líder do The Light, pede desculpas a esse repórter por não ligar a câmera do zoom –porque, como diria o escrivão Pero Vaz de Caminha, estava “sem coisa alguma que lhe cobrisse suas vergonhas.” “Você pode desligar a câmera, se quiser”, diz Hook, que adianta estar esparramado na cama. “Tudo bem, estou de roupa”, respondo e assim começa a entrevista com um dos seres mais irreverentes do pós punk.
Nascido em Salford, um distrito da cidade de Manchester (norte da Inglaterra) no dia 13 de fevereiro de 1956, Peter Woodhead –o sobrenome artístico foi surrupiado do padrasto– não somente foi integrante de duas bandas icônicas das décadas de 1970 e 1980 como imprimiu um estilo de tocar seu instrumento. Ele posiciona o baixo na altura dos joelhos e o ataca como se fosse uma guitarra. “Olha, nunca pensei que criaria um estilo, só queria bolar algo que deixasse o Ian (Curtis, vocalista do Joy Division) feliz.” Um desses momentos de felicidade foi o riff de “Love Will Tear us Apart”, clássico do repertório do Joy Divison. “Lembro que foi o meu riff de baixo que deu o tom da canção. Ian escreveu a letra baseado na melodia”, emociona-se Hook.
O Joy Division encerrou as atividades em 1980, depois do suicídio de Curtis. Os três dissidentes da banda –Hook, o guitarrista Bernard Sumner e o baterista Stephen Morris– criaram o New Order, com a adição da tecladista Gillian Gilbert. Hook saiu do grupo em 2007, depois de uma conturbada turnê pelo Brasil (tanto ele quanto os ex-companheiros não falam o que aconteceu). Desde então, o baixista tem feito discos e turnês com o grupo The Light que traz, entre outros integrantes, o guitarrista David Potts (com o Monaco, um dos projetos paralelos do baixista) e o baixista Jack Bates, filho de Hook. “São dois baixistas no palco”, diz Peter. Ele e The Light fazem nesta terça-feira, dia 27 de agosto, uma única apresentação no país. Eles tocam na Audio, em São Paulo. Jack, aliás, está na mais recente encarnação dos Smashing Pumpkins.
“Tocamos o repertório do Joy Divison e do New Order, inclusive músicas que o Bernard se recusava a tocar porque seriam roqueiras demais”, espeta Hook. Sim, as estocadas no ex-parceiro de New Order são constantes. Quando comento que o seu antigo grupo contratou um sujeito que replica todas as suas famosas linhas de baixo, ele logo dispara? “Você quer dizer tenta, né? Porque ele jamais conseguiria fazer o que faço!”, indigna-se. Por outro lado, existe um demasiado carinho pelo legado do grupo. Em especial, “Get Ready”, de 2001, um dos melhores trabalhos da discografia do quarteto.” “Foi o último disco em que eu e Bernard trabalhámos juntos, aprimorando as nossas composições. É o nosso álbum de lua-de-mel. Mas claro que pouco tempo depois as coisas entre nós ficaram ruins de novo”, diz. Uma das principais composições do disco é “Crystal”, que tem um solo incrível de baixo. “Sabia que ela nasceu como uma dance music, não como um rock? Mas Steve Orborne, o produtor, não gostou de como ela ficava e fui acordado às três da manhã para fazer o solo.” Um dos planos futuros de Peter Hook & the Light é recriar o disco em 2025, para comemorar as bodas de prata de seu lançamento.
Enquanto 2025 não chega, Peter Hook & the Light repassam toda a trajetória de Joy Division e New Order num show especial. “Assista. Tocamos melhor e com mais vontade do que meu antigo grupo.”