Pais e filhos: histórias reais e emocionantes da música brasileira
Billboard Brasil catalogou histórias incríveis entre pais e filhos
Por trás dos álbuns e grandes hits da música brasileira, há histórias de pais e filhos que marcaram a trajetória de artistas consagrados. Desde um pequeno Mestrinho que virou sanfoneiro de Dominguinhos por influência do pai a um Seu Jorge que teve de provar que o sucesso com a música podia ajudar a família, as histórias também definem a riqueza das relações e como elas influenciam a arte.
Separamos 10 casos que a Billboard Brasil catalogou durante entrevistas ou apurados em relatos dado a outros veículos (indicados em cada tópico). Feliz Dia dos Pais!
Seu Jorge e o pai desconfiado com a grana do primeiro sucesso
Respondendo a uma pergunta do jornalista Leonardo Lichote, de O Globo, no programa Roda Viva, Seu Jorge citou o pai e o irmão assassinado em Gogó Da Ema, bairro de Belford Roxo, na Baixada Fluminense.
“Sonhar era para fracassado, perdedor. Mas, um dia, meu pai veio falar comigo por ter duvidado, para pedir perdão. Muitos anos atrás, fiz um contrato com o Farofa Carioca e fui morar num bairro legal, no Bairro do Peixoto, em Copacabana”, começa contando. O pai, desconfiado, não parecia confortável com a nova e mais amena situação financeira do filho. “Uma vez fui levá-lo ao banco para sacar uma grana. Quando sacou a quantia, o pai ficou aperreado. “Sou seu pai, mas também sou seu amigo. Que dinheiro é esse?”. O dinheiro era legal, do contrato com a gravadora Polygram que financiou o primeiro e bem sucedido álbum do grupo, o “Moro No Brasil”, em 1998.
“Eu tive que levá-lo pra casa e fazer uma analogia. ‘Faz de conta que eu jogava no Madureira e arrasei no campeonato. E o Flamengo me contratou’. Aí, ele foi entendendo e ficando sem graça, com vergonha. ‘Mas e agora, como eu vou embora?’, perguntou o pai. ‘Pega um táxi’, respondeu Seu Jorge. ‘Tá maluco? Táxi é muito caro!’, retrucou o patriarca. ‘Seu Zé Mané, você não tinha dinheiro nenhum! Acabou a miséria!’, finalizou o cantor. “Ele nunca me pediu nada. Ficava sempre preocupado por eu estar sempre apoiando meus sobrinhos”, conta.
Mestrinho e o pai Erivaldo do Carira
Em entrevista à Billboard Brasil, Mestrinho disse ser grato ao pai Erivaldo do Carira por sua carreira. Amigo de sanfona de Dominguinhos, seu Erivaldo fez o filho um virtuoso no instrumento a ponto de chamar atenção do dono de “Eu Só Quero Um Xodó”. Ainda criança, Mestrinho já excursionava com o sanfoneiro. Na mesma entrevista, ele revela que o sucesso do projeto “Dominguinho” também o reaproximou do contato com o pai nos palcos.
Linn da Quebrada e relação reatada com o pai
Linn da Quebrada se reaproximou do pai Lino, depois de muitos anos, na virada do ano de 2021 e 2022. Antes da entrada da cantora no “Big Brother Brasil 22″, a cantora postou um vídeo nas redes sociais com uma mensagem sobre o reencontro dos dois.
“Com vocês, Lina e Lino. Frente a frente. Depois de muitos e muitos anos, mais do que eu consiga me lembrar, finalmente nos conhecemos. 2022 começou realmente com tudo. Feliz ano todo para nós desatarmos”, escreveu a cantora.
Foi no mesmo ano da entrada no reality show que a cantora perdeu o pai. “Ainda não entendi, até hoje, como você se transformou de água para o vinho. É com muita tristeza que, infelizmente, informo para vocês sobre a morte do meu pai. A vida é feita de instantes. As chegadas e partidas nos dizem e significam muitas coisas. Vou precisar de um tempo para compreender o que aconteceu. (…) Conto com a compreensão de vocês. De alguma maneira, tudo ficará bem”, disse a cantora à época do falecimento.
Os dois filhos de Francisco
Um dos filmes de maior bilheteria do cinema nacional, “2 Filhos de Francisco” trouxe não só um apanhado da carreira de Zezé di Camargo e Luciano, como também o esforço do pai Francisco Camargo em fazê-los astros da música sertaneja.
Em uma das cenas mais icônicas, o pai convence familiares e vizinhos a ligarem para a rádio local e pedir a música “É O Amor”, de uma dupla que nem sabia o cheiro do sucesso —e ainda se chamava Mirosmar e Emival. Deu certo e o resto é história.
Tulipa Ruiz e o pai que musicava as loucuras da filha
O guitarrista e produtor Luiz Chagas (1952-2024) tem sua história ligada à banda Isca de Polícia, que acompanhava a lenda Itamar Assumpção (1949 – 2003). Mas foi tempos depois, exatamente em 2010, que o guitarrista teve a chance de acompanhar uma letrista com quem tinha ainda mais intimidade: a filha Tulipa Ruiz. Dona de “Efêmera”, a cantora estreou arrebatando crítica e público —principalmente por causa da voz e dos arranjos feitos em casa pelo pai e pelo irmão Gustavo Ruiz.
Em entrevista para o Universa UOL, a cantora contou como ainda sente a presença do pai em sua vida. O músico e jornalista, Luiz Chagas, morreu em julho de 2024. Tulipa e Luiz Chagas tocaram juntos em diferentes partes do mundo. “Eu sou a cara do meu pai. Eu me olho no espelho e ele está em mim, sabe? E tenho os meus rituais. Eu acordo, ele está em todos os lugares dessa casa”, disse.
No primeiro álbum, o “Efêmera”, Tulipa gravou “Às Vezes”, música de autoria do pai, além de “Sushi”. Outras músicas, compostas por Chagas com Tulipa e Gustavo, também vieram ao mundo, caso de “Algo Maior”, apresentada no terceiro álbum de Tulipa, “Dancê”, de 2015.
O ‘filho do dono’ que virou um dos maiores nomes do pop brasileiro
A história de Oruam já estava destinada aos holofotes. Filho de Marcinho VP, o trapper iniciou sua vida na música fazendo menção ao pai e, de quebra, pedindo sua liberdade. A relação provoca, até hoje, histeria em lados conservadores da sociedade brasileira —na política, muitas vezes, o cantor é visto como inimigo da nação por setores da extrema-direita.
Em 2024, Oruam participou do show de TZ da Coronel no Lollapalooza. Ele subiu ao palco com uma camiseta com a foto de seu pai, Marcinho VP, onde se lia “Liberdade”.
No Dia dos Pais deste ano, Oruam fez um post no Instagram em homenagem a Marcinho VP. “Hoje é daqueles dias que eu nem gosto de entrar na internet. Não tenho uma foto com meu pai, não tenho a presença dele e como se isso não fosse castigo suficiente, a mídia tenta o tempo todo destruir o que esse cara é para mim”, disse Oruam.
Donato pai, Donato filho
Donatinho é filho de um dos maiores gênios da música brasileira, João Donato (1934-2023). O que podia ser uma sombra, foi para o nome artístico e, melhor, impulsionou Donatinho para a música experimental eletrônica.
Em 2017, eles lançaram “Sintetizamor”, de 2017, trabalho que sacramentou a parceria da dupla. Ao repórter Sérgio Martins da Billboard Brasil, o filho contou que a canção “Donatinho`s Lullaby” surgiu a partir de uma melodia para lembrar sons de videogame, já que João Donato o acompanhava os jogos de videogame do filho pois gostava dos sons. Um fecho de ouro para uma relação afetuosa e musical entrei pai e filho.