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Os bastidores do Tiny Desk com Milton Nascimento e Esperanza Spalding

Os bastidores do Tiny Desk com Milton Nascimento e Esperanza Spalding

Gravação teve convite frustrado a Tim Bernardes e tietagem com 'a voz de Deus'

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O duo Milton Nascimento e Esperanza Spalding: simpatia e tietagem nos bastidores do NPR Tiny Desk

Aos 81 anos, Milton Nascimento causa ainda mais impacto quando é visto em sua casa de dois andares, construída no reservado bairro do Itanhangá, localizado entre as zonas sul e oeste do Rio de Janeiro. A Billboard Brasil conversou com Fernanda Malta, produtora audiovisual que, há cerca de um mês já trabalhava na produção do “Tiny Desk (Home) Concerts” com a participação de Milton e de Esperanza Spalding. Na session, o cantor brasileiro e a contrabaixista norte-americana apresentaram canções do álbum que lançarão em conjunto.

“Obviamente, dada a idade do Milton e as dificuldades de locomoção, há um cuidado especial e ele fica mais reservado”, conta a produtora. Mas isso não quer dizer que o compositor mineiro não tenha atendido todas as 40 pessoas do set que queriam tirar fotos com ele, algo geralmente vetado em ambientes de trabalho como aquele. “É uma cena rara em estúdio, em gravações. Mas havia ali um sentimento de que era um momento único.”

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A produção é um desdobramento mais “caseiro” do programa “Tiny Desk Concerts” que a rádio pública californiana NPR leva ao ar em seu canal musical do YouTube quase diariamente. Originalmente gravado entre livros, LPs e microfones da redação da rádio, o programa expandiu-se durante a pandemia, sendo gravado em outros lugares.

Para promover o álbum “Milton + Esperanza” (a ser lançado ainda este ano), a gravadora dos dois artistas resolveu fazer uso da plataforma que já levou nomes brasileiros mais conhecidos como Seu Jorge e Almaz, Liniker e Os Caramelows, Rodrigo Amarante e Luedji Luna —e outros admirados mais em seus nichos, como Jovino Santos Neto Trio, Danilo Brito e Fabiano Nascimento.

Convite a Tim Bernardes e todo mundo descalço

A apresentação contou com a participação de Maria Gadú nas duas últimas músicas —“Saudade Dos Aviões Da Panair (Conversando No Bar)” e “When You Dream”—, mas os bastidores foram mais agitados do que supõem as gravações amenizadas pelo tom pastel da cenografia e dos sorrisos distribuídos durante a lida.

“É aquela correria. Inicialmente, a participação ia ser do Tim Bernardes”, revela Fernanda. De acordo com a produtora, o cantor paulistano e autor do elogiado “Recomeçar” (de 2017) não conseguiu tempo livre durante a agenda de shows —ele figura entre as participações no álbum de Esperanza e Milton.

Outro nome ventilado foi o de Simone, que não participa do disco, mas é uma das maiores intérpretes do cancioneiro miltoneano. Além de Gadú e Tim, “Milton + Esperanza” contará também com Lula Galvão, Orquestra Ouro Preto, Paul Simon e Lianne La Havas.

Voz presente no disco, Maria Gadú, então, foi acionada.

“É sempre um quebra-cabeça, né? São agendas e isso é complicado. A Maria Gadú aprovou tudo no mesmo dia. Às 10h estávamos aprovando o figurino e às 14h ela estava gravando”, diz Fernanda, ressaltando alguns desafios.

“Não era pouca gente em cena e, no segundo andar, tinha camarim, maquiagem. E como era uma casa daquelas em que tudo se ouve, era necessário muito cuidado para que todo esse trabalho não interferisse no som. Foi a parte mais tensa.”

Quatro dias de ensaios e gravações

O especial foi um arranjo entre a Universal Music e a filial brasileira que, respectivamente, têm Esperanza e Milton no elenco, intermediado pelo Concord Records, selo de jazz criado nos anos 1970, responsável pelos álbuns da contrabaixista.

“Inicialmente, eles queriam três dias de ensaio e dois dias de gravação. Mas não coube no orçamento. Então ensaiamos segunda e terça, gravamos o áudio na quarta e, na quinta, gravamos áudio e vídeo”, detalha, revelando que, ao contrário da impressão passada pela edição, o vídeo não é uma sequência gravada ao vivo e exatamente naquela ordem.

“A NPR pede algumas coisas como apresentação dos músicos e falas entre uma música e outra [como ocorre na versão de estúdio]. Mas não houve estresse além da pré-produção. Quando chegamos na casa, fez-se uma paz”, conta a responsável pela Toca Produções.

O especial ainda reservou uma resenha que também explica a personalidade de um dos convidados, o violonista Guinga. O premiado músico de 74 anos reagiu quando soube que a produção havia providenciado seu figurino.

“A gente tinha um figurino para não brigar muito com o cenário, nada muito espalhafatoso. Compramos blusas bege e off-white para os músicos. Mas o Guinga resistiu. ‘Não, não, não. Eu mesmo compro minha roupa, deixa que eu me viro’. Ele trouxe um monte de camisa e era tudo marrom (risos). Oferecemos mais uma vez e ele disse que ia no shopping. Aí foi comprar na mesma hora, mandava fotos pelo WhatsApp e a gente foi aprovando”, finaliza, rindo, ao falar do músico, conhecido pelo humor expansivo e personalidade reservada.

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