Os arquitetos da folia: os maiores carnavalescos da história
De Fernando Pamplona a Leandro Vieira, as mentes que redefiniram o Carnaval


O Carnaval do Rio de Janeiro se tornou o “maior espetáculo da terra” com a contribuição fundamental de algumas mentes visionárias. Ao longo das décadas, certos carnavalescos não apenas criaram desfiles campeões, mas redefiniram os limites do que se pode fazer na avenida. De Fernando Pamplona a Leandro Vieira, esses artistas moldaram a identidade do carnaval, cada um à sua maneira, seja pela inovação estética, pela profundidade dos enredos ou pela ousadia de suas ideias.
O impacto de um grande carnavalesco não se mede apenas por títulos, embora muitos dos nomes nesta lista acumulem conquistas expressivas. Eles transformaram a Sapucaí em uma galeria a céu aberto, onde desfiles são manifestações artísticas e políticas. A seguir, a Billboard Brasil destaca alguns dos maiores nomes da história da folia carioca.
Alexandre Louzada (1957-)

O mais longevo carnavalesco em atividade na Sapucaí, Alexandre Louzada é um dos raros artistas a conquistar títulos por quatro escolas diferentes: Mangueira, Vila Isabel, Beija-Flor e Mocidade. Com uma trajetória marcada por carnavais requintados e bem estruturados, seu primeiro campeonato veio em 1998 com a Mangueira. Em 2011, fez história ao vencer o Carnaval do Rio e de São Paulo no mesmo ano. Em 2025, estará à frente da recém-promovida Unidos de Padre Miguel.
Fernando Pamplona (1926-2013)

Considerado o “pai de todos os carnavalescos”, Fernando Pamplona mudou para sempre a estética dos desfiles. Responsável por transformar o Salgueiro em uma potência do Carnaval, foi o primeiro a trazer para a avenida a cultura negra e indígena como protagonistas dos enredos, rompendo com a tradição eurocêntrica. Entre 1960 e 1971, conquistou quatro títulos com a escola e formou uma geração de artistas, incluindo Joãosinho Trinta.
Joãosinho Trinta (1933-2011)

O maranhense Joãosinho Trinta revolucionou a folia ao unir luxo, grandiosidade e impacto visual como nunca antes visto. Sua carreira brilhou especialmente na Beija-Flor, onde acumulou cinco títulos nos anos 1970 e 80, além do icônico desfile censurado de 1989, “Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia”, que propunha um Cristo mendigo. Com frases célebres como “O povo gosta de luxo, quem gosta de miséria é intelectual”, Joãosinho tornou-se sinônimo de ousadia e inovação.
Leandro Vieira (1983-)

Representante da nova geração, Leandro Vieira chegou ao Grupo Especial em 2016 e logo de cara levou a Mangueira ao título com uma homenagem a Maria Bethânia. Em 2019, repetiu a dose com “História para Ninar Gente Grande”, um desfile que resgatava personagens marginalizados pela história oficial do Brasil. Atualmente na Imperatriz Leopoldinense, conquistou mais um campeonato em 2023 e é considerado um dos carnavalescos mais inovadores de sua geração.
Maria Augusta (1942-)

Uma das primeiras mulheres a se destacar como carnavalesca, Maria Augusta Rodrigues começou no Salgueiro ao lado de Fernando Pamplona e Arlindo Rodrigues, participando de carnavais lendários como “Bahia de Todos os Deuses” (1969) e “Festa para um Rei Negro” (1971). Passou por escolas como União da Ilha e Beija-Flor, tornou-se comentarista de Carnaval e jurada do Estandarte de Ouro.
Max Lopes (1939-2023)

Conhecido como o “Mago das Cores”, Max Lopes levou três títulos ao Grupo Especial com desfiles de forte impacto visual: “Yes, Nós Temos Braguinha” (Mangueira, 1984), “Liberdade, Liberdade” (Imperatriz, 1989) e “Brazil com ‘Z’ é pra Cabra da Peste, Brasil com ‘S’ é Nação do Nordeste” (Mangueira, 2002). Foi o primeiro campeão do Sambódromo e revolucionou a estética carnavalesca ao priorizar o uso vibrante de cores.
Paulo Barros (1962-)

Atual carnavalesco da Vila Isabel, Paulo Barros reinventou o Carnaval com desfiles cinematográficos e alegorias humanas. Seu estilo inovador rendeu quatro títulos à Unidos da Tijuca, incluindo o inesquecível “É Segredo!” (2010) e “Acelera, Tijuca!” (2014). Com concepções dinâmicas e coreografadas, seus desfiles desafiaram os padrões tradicionais e mudaram a maneira como o espetáculo na Sapucaí é concebido.
Renato Lage e Márcia Lage (1950- / 1960-2025)

O casal Lage formou uma das duplas mais longevas e premiadas do Carnaval. Renato foi o responsável por transformar a Mocidade nos anos 80 e levou a escola a cinco títulos. Ao lado de Márcia, assinou carnavais inovadores no Salgueiro e na Grande Rio, destacando-se pelo esmero técnico e criatividade visual. Em janeiro de 2025, Márcia faleceu, deixando um legado de criatividade e paixão pela folia. Talvez como homenagem à eterna companheira, Renato decidiu seguir à frente do barracão da Mocidade Independente de Padre Miguel este ano, mesmo de luto.
Rosa Magalhães (1947-2024)

A carnavalesca mais vitoriosa da era do Sambódromo, Rosa Magalhães conquistou sete títulos no Grupo Especial e assinou mais de 40 desfiles. Formada em Belas Artes, trouxe para o Carnaval um estilo sofisticado e narrativo, marcado por rigor estético e enredos com forte base histórica. Seu primeiro título veio em 1982, no Império Serrano, com “Bum Bum Paticumbum Prugurundum”. Na Imperatriz Leopoldinense, foi a primeira carnavalesca a conquistar um tricampeonato (1999-2001). Em 2013, levou a Vila Isabel ao título com “A Vila canta o Brasil”, celeiro do mundo. Além da Sapucaí, criou espetáculos como a cerimônia de encerramento das Olimpíadas de 2016 e venceu um Emmy pelo figurino da abertura dos Jogos Pan-Americanos de 2007.