O que Silvio Santos e Paul McCartney tinham em comum?
Apresentador e dono do SBT morreu neste sábado (17), em São Paulo
É claro que o ex-Beatle Paul McCartney nunca pensou em fazer uma parceria com Silvio Santos –que morreu neste sábado (17), aos 93 anos, em São Paulo. Porém, uma das canções mais emblemáticas do “Programa Silvio Santos” está entre as favoritas de sir Paul.
Estamos falando daquela canção que abria o histórico “Show de Calouros”. Aquele corinho “Pedro de Lara lá lá lá lá lá lá lá” é, na verdade, adaptação de uma cantiga folclórica russa. Composta em 1952 por Boris Fomin (1900-1948) e com letras do poeta Konstantin Podresvsky (1888-1930), ela nasceu com o nome de “Dorogoi Dlinnoyu” (Pela Longa Estrada, em português). Sua primeira gravação data de 1925, com interpretação da cantora georgiana Tamara Tsereteli.
A música, cuja letra fala de um passado idílico, caiu no gosto de um compositor americano chamado Gene Raskin (1909-2004). Malandramente, ele pegou a canção, que cansou de ouvir na sua infância, criou para ela uma letra em inglês –sem dar o mínimo crédito para os autores originais– e a rebatizou como “Those Were the Days”. No início dos anos 1960, Raskin e a mulher, Francesca, fechavam suas apresentações nas boates do Greenwich Village, em Nova York, com essa faixa. Posteriormente, levariam sua performance de folk music para uma casa noturna de Londres chamada Blue Angel. Um dos frequentadores do tal inferninho era nada menos do que Paul McCartney.
O Beatle ficou tão encantado com “Those Were the Days” que adquiriu os direitos de gravação da música. Ele a ofereceu para várias bandas da cena musical inglesa –entre elas os celebrados Moody Blues–, mas ninguém viu potencial algum na canção. Paul, no entanto, perseverou. Ele, então, convenceu a cantora galesa Mary Hopkin, contratada da Apple (gravadora dos Beatles), a registrar “Those Were the Days”.
“Havia algo de muito grudento, uma sensação de nostalgia”, declarou ele. Paul, para variar, estava certo. Lançada no dia 30 de agosto de 1968, “Those Were the Days” entrou em primeiro lugar na parada inglesa e em segundo nos charts americanos. Ela virou hino de futebol da seleção da Irlanda, tema de massacre do ditador da Guiné Equatorial e foi regravada pela própria Mary em meados dos anos 1970.
No mesmo período, Silvio Santos a utilizou para o “Show de Calouros”. E seu “lá lá lá lá lá lá lá lá lá” ficou tão famoso quanto o “na na na na na na na” de “Hey Jude”, clássico do repertório de Paul Mcartney.
Despedida
Silvio Santos morreu na madrugada deste sábado (17), no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Ele estava internado com H1-N1.
A notícia foi confirmada pelo SBT, em uma nota oficial. “Hoje o céu está alegre com a chegada do nosso amado Silvio Santos. Ele viveu 93 anos para levar felicidade e amor a todos os brasileiros”, diz a nota.
Além do SBT, Silvio deixou um império –e, desde sempre, demonstrou talento para os negócios. Segundo lista da “Forbes” de 2023, seu patrimônio era estimado em R$ 1.6 bilhão. Em 1958 foi fundado o Grupo Silvio Santos, e seu primeiro negócio foi o Baú da Felicidade.
O apresentador também teve papel importante na música brasileira. As marchinhas eram presença frequente na programação do SBT, sendo “A Pipa do Vovô” uma das mais famosas, composta por Manoel Ferreira e Ruth Amaral e lançada em nos anos 1980.
Sua história também virou samba-enredo. Silvio foi homenageado pela escola de samba Tradição, no Carnaval de 2001.