As histórias de Naja Silvino, a pianista que nunca lavou o próprio cabelo
As histórias da musicista que expulsou Roberto Carlos de casa no Rio
Naja Silvino era conhecida como pianista, professora e se tornou um viral no X, o antigo Twitter. Foi pelo fio criado pela neta, Isabela Silvino, contando as histórias divertidas da matriarca. Foram mais de 17 mil curtidas na publicação. “Li muita coisa bonitinha [em respostas]. Isso é muito legal, porque as pessoas lembram dos avós e de coisas que aconteceram na vida deles”, diz a jornalista e cantora para a Billboard Brasil.
Noêmia, nome verdadeiro de Naja (1908-2006), dava aulas em um conservatório no Rio e se apresentava na noite carioca. Seu conhecimento na música foi passado para o filho, que mais tarde se tornaria o lendário humorista e ator Paulo Silvino (1939-2017).
Na juventude, Paulo fazia parte do Clube do Rock, produzido por Carlos Imperial, e que contava com a participação de Roberto Carlos e Erasmo Carlos.
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Foi em uma das noites, após voltar do trabalho, que Naja precisou expulsar os amigos famosos do filho de casa. Ela os apelidou de “Quadrilha dos Famintos”.
“Amo” a história de como minha avó Naja morreu. Ela, no fim da vida, deu uma piorada na saúde mental (ela já tinha 97 anos, tá?) e a colocamos num instituto que cuidava de idosos com saúde mental ruim. (Mas íamos lá SEMPRE) Meu pai resolveu levar um teclado pra ela. +
— Isabela Silvino (@IsabelaSilvino) October 18, 2023
“No final do expediente não tinha nada aberto. Roberto e Eramos chegavam para comer um sanduichinho, pois a casa do meu pai era perto e a minha avó chegava tarde do trabalho. Ela dava comida e falava: ‘Vamos embora agora’ [risos]”, conta Isabela.
“Ela ensinou meu pai a cantar, mas não quis ensinar os netos a tocar piano. A gente chegou a pedir, mas ela dizia: ‘Não vou ensinar neto, já trabalho e já tenho meus alunos'”.
Inspiração
A pianista, que morreu aos 98 anos, era uma mulher independente, desquitada (coisa mal vista para a época) e líder da banda Naja Silvino e as Golden Girl’s. Sim, era uma banda só de mulheres, que ficou em atividade nas décadas de 1940 e 1950.
“O que minha avó me ensinou foi essa independência da mulher que vai e faz o negócio dela. Ela vivia a vidinha dela. Quando ela separou do meu avô, ficou sofrida, mas um tempo depois já levantou a cabeça. Ela sempre foi assim”, elogia Isabela.
“Crescer com minha avó… Ela era uma pessoa excêntrica. Nunca quis morar com a gente, nem nada. Mas gostava sempre de levar eu e meus irmãos em restaurantes. Dava aquele dinheirinho por baixo da mesa, sabe?”, relembra a neta.
Para encerrar o bate-papo, a jornalista conta uma última história sobre Naja Silvino: a pianista nunca lavou o próprio cabelo.
“Uma vez, ela virou para mim e perguntou ‘Quando você toma banho, você lava o seu cabelo?’. Eu falei que era normal, mas ela disse que nunca tinha lavado sozinha. A princípio, quando ela era criança, as irmãs lavavam. Quando cresceu, ia sempre no salão.”
A família comprovou a veracidade da história de Naja. Ela só dormia com a cabeça para fora da cama, para não estragar o penteado. Nem as janelas de casa poderiam estar abertas, porque o vento poderia bagunçar os fios.
“Quando ela foi para o hospital, as enfermeiras falavam que ela não queria lavar o cabelo de jeito nenhum. Mas elas conseguiram! Quando fui visitá-la, vi o cabelo verdadeiro dela, era todo cacheadinho e muito bonitinho, mas estava sem escova.”
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