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Ídolo do ‘pop feliz’ no Brasil, Pedro Sampaio sente os efeitos de ser ‘astro’

Ídolo do ‘pop feliz’ no Brasil, Pedro Sampaio sente os efeitos de ser ‘astro’

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Em certa manhã de março de 2021, Pedro Sampaio acordou de sonhos intranquilos. Afoito, seu pai o sacudia e balbuciava palavras soltas como “música”, “Grammy” e “Cardi B”. O produtor se levantou e, com o torso ainda desnudo, espantou-se ao compreender que a tal da Cardi B havia levado seu remix de “WAP” ao palco do Grammy, principal premiação da música mundial. “O que aconteceu comigo?”, poderia ter pensado o DJ, produtor e cantor, associado a milhões de plays em músicas como “Vai Menina” ou “Sentadão”. Na dúvida se ainda vivia um sonho ou não, sacou o celular e publicou um vídeo com cara de sono e espanto nos stories de seu Instagram.

Aos 26 anos, Pedro sempre soube que seu sucesso não era apenas um sonho. Ele gosta de se resumir como “um cara normal que fez coisas que foram dando certo”. Mas “ASTRO”, seu segundo álbum recém-lançado, parece dar dicas maiores sobre quem é Pedro Sampaio. O disco ainda traz “aquela alegria para fazer as pessoas dançarem”, como frisa o autor. Certificado com platina (o equivalente a 40 mil discos vendidos), o antecessor “Chama Meu Nome”, de 2022, exibia um artista que, a despeito dos haters, firmou um compromisso com quem quer se divertir ouvindo música de farra em português. Estavam lá os super-hits “Atenção”, “No Chão Novinha”, “Galopa” e “Dançarina”, além de participações de amigos-artistas como Luísa Sonza e Anitta. Não à toa, Pedro se sagrou como um dos hitmakers mais assertivos do pop brasileiro.

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Mas para o DJ –que cresceu em casa confortável, com pais presentes, equipamentos e internet para viralizar vídeos– faltava algo nessa narrativa. “Fui entendendo que podia cantar, que podia dançar, que podia fazer minha própria música. Minha carreira tem muito de querer dar um próximo passo. E acho que tem tudo a ver com o brasileiro que me ama, que é uma galera que se adapta.”

Em “ASTRO”, faixas como “Melancia” e “Lambuza” são assertivas em seu objetivo: garantir lugar nas festas e nas pistas, com a assinatura de um DJ viciado em pop brasileiro e que usa indiscriminadamente subgêneros do funk (como o mandelão, vertente do funk paulistano que vibra mais como rave) ou as bases do pagodão e do brega.

 

Mas “ASTRO” também sugere um DJ em dúvida. A faixa “Minha Vida”, por exemplo, deixa transparecer alguém que quer mais questionar do que comandar a pista de dança. “Eu sempre produzi pensando na massa, e isso tira um pouco da profundidade que as pessoas esperam de mim. Agora, resolvi fazer o processo inverso: de dentro para fora”, explica Pedro.

Curiosamente, o processo também o fez enxergar além do ego –o que, apesar de contrariar o estereótipo do artista pop, é uma faceta da personalidade de Pedro, também responsável por alimentar a fama de “cara normal”. A canção “Prece” é resultado desse popstar que parece disposto a andar com mais missões do que somente tirar selfies ou dar autógrafos.

 

Há um ano, Thiago Antunes, um menino de 13 anos, surgiu para Pedro no aeroporto de Itanhaém, litoral sul paulista, pedindo para cantar. “Esse dia foi muito marcante”, lembra o DJ. “Ele gritou: ‘Eu sou cantor, deixa eu cantar’. Eu vi o brilho no olho dele, aquilo me tocou.” A música que Thiago cantou era uma composição dele mesmo –justamente “Prece”, que acabou entrando no repertório de “ASTRO”.

Pedro se deixa tocar por histórias humanas e pouco fala de números. “Meus números ficam para trás. Eu estou pensando mais à frente”, reflete. “Meu Deus! Eu pedi isso aqui [uma carreira bem-sucedida]. Mas será que é isso mesmo? Vale a pena tudo isso? Ficar tanto tempo longe de casa?”, questiona, ainda que para parte do público possa soar como uma reflexão frescurenta de um artista cujos números estão sempre na casa dos milhões.

Mas Pedro ri e continua analisando o seu entorno. “É tudo muito agressivo, voraz e, ao mesmo tempo, eu tenho que brigar pela minha música, mostrar que estou firme e forte. Na minha opinião, não era para ser assim. Mas é. A minha maior ansiedade é lançar meu álbum. Gravar, botar na rua, atingir as pessoas”, ele diz, colocando o trabalho como sua maior angústia, como se não tivesse tempo para as críticas nem para as próprias lamúrias.

Mas Pedro ri e continua analisando o seu entorno. “É tudo muito agressivo, voraz e, ao mesmo tempo, eu tenho que brigar pela minha música, mostrar que estou firme e forte. Na minha opinião, não era para ser assim. Mas é. A minha maior ansiedade é lançar meu álbum. Gravar, botar na rua, atingir as pessoas”, ele diz, colocando o trabalho como sua maior angústia, como se não tivesse tempo para as críticas nem para as próprias lamúrias.

Muitos dos maus faladores de Pedro se concentram exatamente no que ele diz ser: o tal do “cara normal”. Apesar de ter se vestido com as armas e as roupas do mercado pop brasileiro –o suficiente para atrair tanto fãs quanto haters–, o produtor tem méritos por ter hackeado o mercado nos últimos cinco anos.

Quando fez isso informalmente, lá pelos 17, angariou simpatia. Mais colorido, autoral e se apropriando de toda fagulha pop que pipocou no Brasil, começou a ser visto como um produto raso, algo que foi inventado por aí, um playboyzinho alçado à fama. A grita não impediu que seus pares do mercado o adorassem. Até porque seu som é potente, capaz de ser ao mesmo tempo limpo e safado, embalando adultos e também crianças.

Seus congêneres também o adoram: ele está, para citar alguns exemplos recentes, em “Funk Generation”, último álbum de Anitta, junto de seu padrinho Dennis DJ; em “After”, remixando a drag queen Pabllo Vittar e o cantor baiano O Kannalha; e em “Atemporal”, de Lulu Santos, numa releitura do sucesso “Tempos Modernos”.

Até na rádio inglesa NTS, quase sempre pouco interessada no pop radiofônico brasileiro, é possível encontrá-lo com “Galopa”, presente em um set dedicado à nova seresta e ao piseiro.

Em momento nenhum, Pedro parece interessado em pensar nas críticas. Falta-lhe tempo. “Você me pergunta como eu estou… Não vou para casa há 15 dias, fico em videochamada com minha família para tentar matar a saudade, tendo que estar sempre bem para enfrentar o mercado. Ontem eu não dormi, estava ansioso”, confessa, após o ensaio fotográfico que ilustra esta reportagem da Billboard Brasil.

Um dia antes, fez uma maratona de visitas a empresas como YouTube e Spotify para apresentar “ASTRO” e “vender” o álbum –prática comum que o mercado chama de pitch: os executivos precisam ser convencidos pelo artista das possibilida

des que a obra tem. “Acordei com dor no ombro, mas tinha que vir fazer as fotos”, lista o guardião da própria obra. Se não há muito tempo para ele, imagine para quem não gosta dele. A carreira de Pedro Sampaio tem dois momentos cruciais. Um deles, muito conhecido, foi quando “Bota Pra Tremer” penetrou ouvidos em meados de 2018. “Para todas as meninas que gostam de dançar”, anunciava uma faixa que, pouco a pouco, revelava uma das maiores fórmulas do DJ: ser funk e ser pop, com cores mais radiofônicas, que o aproximam do público infantil. Àquela altura, Pedro já havia adquirido o visual colorido que se tornou comum em videoclipes e apresentações.

É uma brisa vê-lo em um passado recente, mas tão diferente –sem assessoria, sem gravadora, sem staff. Mas, ali, já havia o assertivo produtor, tão certeiro quanto sua versão contemporânea, e que já colecionava os primeiros milhões de visualizações. A junção de “Baile de Favela”, “Metralhadora” e “Tá Tranquilo, Tá Favorável” em um único remix (mais precisamente um mashup, quando várias músicas diferentes soam como uma faixa única), por exemplo, atingiu seu ápice viral em uma rede social que morreu e existe até hoje, o Facebook.Escavar esses vídeos demonstra que, como artista, Pedro parece não ter constrangimento de uma fase em que assinava e enviava pelos Correios bonés para fãs, memórias de sua primeira viagem de avião a trabalho ou filmagens que retratam festinhas de iluminação duvidosa. Era o reflexo de um prodígio que, antes dos 20 anos, já exibia uma poderosa CDJ da marca Pioneer –o instrumento dos DJS que, em sua versão completa, pode custar de R$ 20 mil a R$ 50 mil.

O DJ admite que, bem criado, foi se transformando em um adulto sem medo ou trauma dos aprendizados e influências da infância e adolescência. “Eu trabalho des

de os 13 anos. E meu pai estava lá, carregando caixa de som no ombro para me ajudar. Eu tocava em festa por cinco, seis horas para ganhar R$ 100. E olha que esse dinheiro era para comprar, sei lá, máquina de fumaça. Isso foi me dando bagagem, fazendo meu DNA. Eu sou um artista brasileiro”, diz soltando um riso, quase como se estivesse se aliviando de algum peso ao reconhecer que, sim, sua história não é de superação, senão a de, novamente, um “cara normal” que “acreditou no que queria fazer”.

E a distância entre esse cara normal e o vulgo Pedro Sampaio? Em um breve momento de deboche, o DJ dispara: “Vamos de terapia”.

Fica difícil saber quem é quem se as perguntas giram em torno de música, produção, cenário, Anitta ou Pabllo. O Pedro sem sobrenome que o tornou famoso volta à Terra quando algo relacionado à família surge na conversa –sempre muito associado à palavra saudade. “Às vezes, mesmo em casa, eu ainda demoro a me livrar do Pedro Sampaio, principalmente quando chego de viagem. Minha família, em muitos momentos quando me olha, está vendo um artista que entra e sai de casa correndo”, analisa sem deixar de mencionar o latido de Jurema, a cachorra vira-lata caramelo da família, como o gatilho maior para dissociar um Pedro de outro.

Esse artista que anda correndo para lá e para cá também andou mudando de opinião. Há um ano, dizia não querer uma carreira internacional e citava as dificuldades de Anitta na empreitada. “Ela sempre me disse que, quando a gente começa o trabalho internacional, vai para o início da carreira. Começa de novo”, afirmou em entrevista ao portal G1 em junho.No entanto, o reticente Pedro Sampaio se converteu em um artista mais empolgado com a possibilidade. “Minha cabeça mudou muito”, diz ele, responsável por um dos shows com mais histeria do Rock in Rio Lisboa deste ano. “Mas não era uma declaração reticente. É porque eu tenho muito público ainda para conhecer no Brasil. Só que, inevitavelmente, o mercado internacional vem olhando mais para o funk. E eu sei que, como produtor, posso me juntar com um artista indiano maravilhoso e fazer um beat perfeito para estourar.”

Em maio, Pedro surgiu em Ibiza, na Espanha, como atração surpresa de uma festa chamada Bresh. Dedicada ao reggaeton, a balada costuma gerar um buzz por não divulgar os nomes dos artistas convidados. Acostumado a jogar em casa, o DJ precisou relembrar as festinhas em que entrava como azarão, não como nome principal. “Meus shows sempre começam com a minha vinheta que diz ‘Pe-dro’ e a galera responde com ‘Sam-pa-iô’. Lá foi cri-cri-cri”, diverte-se, imitando grilos.

Ibiza é um lugar que concentra turistas desejosos de praia e música eletrônica. Assim, naturalmente a resistência do público foi diminuindo à medida que o produtor torava funk na cabeça dos presentes. No final, virou baile, ao som de “Cavalinho”, hit de 2013 do compositor baiano Gasparzinho e redescoberto recentemente pelo carioca. Pedro lembra que, quando olhou para a frente, era um mar de pessoas indo para trás e para a frente, em trenzinhos coreografados.

“Eu sou um artista brasileiro e falo isso como se fosse um superpoder”, orgulha-se. “Nunca imaginei que estaria neste lugar, cantando. Sempre achei que eu ia produzir uma base para que alguém cantasse, enfim…”

O DJ, que virou produtor, que virou cantor, que virou popstar colorido, quer, agora, dar uma volta ao redor do astro e ver se encontra esse Pedro. Não o Sampaio, aquele outro. De preferência sem correr tanto, sem saudade, com mais latidos de Jurema. E um tempo a mais para descansar da turnê infinita em torno do pop.

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