Flávia Lima, a parceira e criadora dos passos de Gloria Groove
A coreógrafa é uma das mentes pensantes do espetáculo da drag queen
As apresentações de Gloria Groove estão entre as mais impressionantes do pop atual. A cantora ousa no visual, apostando tanto numa roupa inspirada na diva Beyoncé quanto na combinação de short e camiseta de time de futebol. Se delicia com os vocais calcados no soul e nas letras que se alternam entre amor, festa e as próprias vivências. E a coreografia é parte importante nessa experiência.
“A dança é uma extensão do artista e de sua arte: transmite e complementa a mensagem das músicas”, explica Flávia Lima, de 27 anos, responsável pelo balé da Lady Leste –drag queen, alterego de Daniel Garcia.
Flávia entrou na vida de Gloria em 2017, indicada pela também bailarina e coreógrafa Camila Muniz. Cuida não apenas das coreôs, mas auxilia no processo criativo –como cenários dos shows, setlist e figurinos. “Dou um pitaco aqui e ali. A Gloria diz que eu entendo tudo o que ela deseja para um espetáculo”, comenta.
Flávia Pinheiro Lima nasceu em Suzano, no extremo leste da cidade de São Paulo. Se iniciou na dança aos oito anos, quando estudou no Centro de Estudos Lilian Guimiero. “Escolhi fazer hip hop. Me identifiquei com a cultura, também porque minha mãe escutava Run DMC e Queen Latifah.”
Completando 50 anos em 2023, a cultura hip hop chegou com força ao Brasil nos anos 1980 por conta das coreografias de Michael Jackson e Madonna. Balés de artistas pop como Wanessa Camargo e Anitta estão entre os primeiros que se destacaram ao fazer uma mistura de elementos do gênero e street dance com a música nacional. Uma ideia que a coreógrafa assimilou rapidamente. “A Flávia era determinada e sempre teve uma veia artística”, conta o professor de jazz musical Francisco Ribeiro, de 49 anos. Foi ele quem a incentivou a estudar fora do país. A jovem trocou, então, uma festa de debutante por um período em Nova York, onde passou pelo Steps On Broadway e pelo Broadway Dance Center. Teve aulas com Buddha Stretch, que coreografou Michael Jackson e Mariah Carey, e com Candance Brown, que trabalhou com Beyoncé, Gwen Stefani e Janet Jackson. Foi um desafio: “Os professores tinham um ritmo diferente, eram bem rápidos, usavam gírias”.
De volta ao Brasil, a jovem trocou de lado e passou a dar aulas em creches e projetos sociais. Economizando os primeiros salários, a bailarina pegou sua mochila e foi sozinha para Los Angeles a fim de se aperfeiçoar em danças urbanas. Lá, trocou experiências com nomes como Shaun Evaristo, do balé de Justin Bieber e de Pharrell Williams, Dexter Carr, que dançou ao lado de Chris Brown e Katy Perry, e Aliya Janell, destaque na “Renaissance Tour”, de Beyoncé.
Aos 18 anos, Flávia ingressou no mundo da música por meio de videoclipes. Seu primeiro grande trabalho foi coreografar o DVD “3Fs”, do rapper Projota. Até que Gloria surgiu na sua vida. A coreógrafa é braço direito da drag queen desde muito antes de ela se tornar fenômeno. Na época das vacas magras, chegaram a passar perrengues. Ficaram grandes amigas. Recentemente, assistiram a um show de Beyoncé, que inspirou o espetáculo “Noites de Gloria”, apresentado no festival The Town, em setembro.
“As coreografias que vemos hoje nos palcos são um mix de linguagens das danças de rua afroamericanas”, explica Tati Sanchez, coreógrafa especializada em hip hop, com mais de 30 anos de carreira. Flávia leva aos palcos influências das danças urbanas e da arte contemporânea com um toque de brasilidade. Entre suas inspirações, estão lendas da música, como Missy Eliott, Janet Jackson, Kendrick Lamar e Usher.
Além de coreógrafa, hoje Flávia atua como diretora na escola de dança SW Company, em sua cidade natal. Para o futuro, quer viajar pelo mundo e pretende unir um sonho pessoal a um profissional. “Quero transformar a vida de pessoas periféricas.