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Queremos chega em 2024 tentando manter viva a ‘vibe de festival’

Queremos chega em 2024 tentando manter viva a ‘vibe de festival’

Levando de Poze do Rodo a Lenine para os palcos, festival chega a quinta edição

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Quando voltamos a 2010, encontramos um cenário hostil para o fã de música. Na verdade, nada agradável para todos que ainda sentiam os efeitos da segunda pior crise econômica desde a Grande Depressão ou Crise de 1929. Dois anos antes, nos Estados Unidos, bancos iam à falência depois de uma bolha imobiliária ter decretado um caos nas operações de empréstimos. As ondas dessa crise bateram forte no Brasil, impactando o preço de tudo, inclusive shows internacionais que, àquela altura, estavam começando a acostumar o público daqui a uma rotina de ídolos estrangeiros nos palcos locais.

Em São Paulo, não foi muito difícil manter o hábito: a maior cidade da América Latina ainda era uma rota que parecia garantir retorno a quem investia na empreitada de trazer atrações gringas. Mas o resto do Brasil chupou foi dedo. Os produtores tinham medo de não ver a cor do dinheiro.

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“Era um mercado desacreditado. Não tinha Rock In Rio, não tinha Lollapalooza”, contextualiza Pedro Seiler, um dos cinco entediados cariocas fundadores de uma plataforma que começou a garantir, para o Rio de Janeiro, shows que, inicialmente, só aconteceriam mesmo em São Paulo. A plataforma ganhou o nome de “Queremos!” e a exclamação reforçava que havia ali um movimento que ia além dos esforços de Pedro e mais quatro sócios: fãs interessados em ver suas bandas prediletas no Rio poderiam contribuir, por meio de financiamento coletivo, para que a cidade recebesse novos shows e deixasse de ser uma das muitas cidades excluídas do circuito. 

Depois de trazer LCD Soundsystem, The Internet, Vampire Weekend, Kamasi Washington, Tame Impala, Solange, Wilco e muitos outros nomes para casas cariocas como o Circo Voador, o Vivo Rio e o Imperator, a plataforma virou festival. “A gente sempre foi muito verdadeiro no que fazíamos que era colocar o fã em primeiro lugar. No festival, então, fizemos a mesma coisa, seja com artistas novos ou dando a chance para a molecada ver grandes artistas pela primeira vez”, reflete Pedro, citando as sensações Ana Frango Elétrico, que toca no festival deste ano, e Ibarra, convidado da edição de 2023, e também o ídolo Djavan, um dos headliners da edição 2024. Antes, o festival já havia colocado, com sucesso, Marisa Monte e Poze do Rodo no mesmo lineup.

“A gente não tem medo de mesclar o que já é conhecido com o sentimento de festival que é apresentar coisas novas para as pessoas. Não estou dizendo que Rubel e Devendra Banhart sejam necessariamente ‘novos’, mas eles podem, sim, ser apresentados ao fã que vai curtir Lenine e Marcos Suzano. E, definitivamente, Alfa Mist e Adi Oasis são novidades”, sinaliza Felipe Continentino, sócio de Pedro desde a época de crowdfunding, citando, respectivamente, o produtor e pianista britânico e a cantora e baixista fraco-caribenha, que tocam no país pela primeira vez. “A gente não quer é entupir um local cheio de gente para ver artistas grandes”, complementa.

Em 2024, em contraste à escassez de 2010, fala-se em saturação. Com festivais esborrando a tampa do calendário, manter a essência é também não parar no tempo. “Conseguir um jeito de fechar as contas e, ao mesmo tempo, entregar música nesse tamanho do ‘bem feito’ é o ideal. Não pode cair na armadilha do ‘tem de crescer’. Senão fica todo mundo igual, querendo trazer a Lana Del Rey como headliner”, reflete Pedro. “O meu sonho é que as pessoas, no futuro, estejam no Queremos dando chance para esse ambiente tão musical, nesse dia com ofertas de muita coisa nova. Eu gostaria de aumentar o espectro de pessoas que se permitam estar nesse espaço, nessa proposta”, complementa Felipe. 

Com dois palcos e uma preocupação de que a experiência auditiva seja protagonista, a dupla diz que o festival foi desenhado pensando até em uma terceiro estrutura, ideia descartada em detrimento de uma melhor experiência sonora. “O som ia vazar, ia brigar. A gente construiu o festival pensando na premissa de um som f…”, diz Pedro, cuja experiência inesquecível (sem filas e com Radiohead) no Coachella, em 2004, influencia até hoje a condução do Queremos. “Mas é interessante ver como estamos tão à frente em muitas coisas”, contrapõe citando as medidas de acessibilidade como tradução em libras e a eliminação de pontos cegos presente no festival carioca. 

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