Em iorubá, o nome “BUNMI” significa “meu presente”. É também o título do aguardadíssimo primeiro álbum de Stefanie, lançado em abril. A rapper de Santo André, região metropolitana de São Paulo, registrou seus momentos de conflitos e vitórias dos últimos 20 anos em dez faixas. Ela rima sobre maternidade, racismo, as perdas na família, espiritualidade, as vivências na capital paulista, saúde mental e a paixão pelo hip-hop. Com produção de Daniel Ganjaman e Grou, o álbum traz inúmeras texturas – do boombap ao R&B, passando pela tropical “Puro Love”, o baixo marcado de “Não Pirar” e o arranjo de voz e piano em “Mundo Dual”.
“Gerar esse álbum foi um processo de cura. Trago histórias que marcaram muito a minha vida e me transformaram. Em ‘Mundo Dual’, falo sobre a perda dos meus irmãos, do meu pai e avó. Para escrever, meditei e chorei muito. Tinha hora que eu parava e falava: ‘Não vou conseguir’. As lembranças vêm. Escrever o disco foi um período em que confrontei meus medos e demônios. Só que, ao mesmo tempo, consegui olhar para eles e ressignificar”, diz Stefanie em entrevista para a Billboard Brasil.
As duas décadas até o lançamento do álbum de estreia foram necessárias para a artista entregar um projeto com que estivesse satisfeita – e também para lidar com as intercorrências da vida, sejam projetos profissionais que passaram na frente, pandemia e gravidez. Stefanie começou a carreira influenciada pelos grupos de rap dos anos 1990. Em 2004, decidiu criar a sua versão da história. Foi integrante dos grupos Simples, Pau-de-Dá-em-Doido e Rimas & Melodias, que moldaram sua identidade no cenário musical.
“Poderia ter sido antes. Hoje, olhando para o disco, me sinto satisfeita pelo que construímos. Eu tive pessoas incríveis do meu lado, muitos braços me apoiando. Pessoas que acreditam no meu trabalho e na minha arte como se fosse deles. Por mais que eu pense que poderia ter sido antes, não foi. Então, está tudo certo”, avalia.
+ A entrevista está na Billboard Brasil #17, já à venda no site.
“BUNMI” foi selecionado pela Natura Musical, no edital de 2022. De mais de 2 mil projetos, apenas 30 foram escolhidos. No disco, Stefanie traz participações especiais de Luedji Luna, Emicida, Rashid, Nega Gizza, Cris SNJ, Mahmundi, Kamau, Rodrigo Ogi, Jonathan Ferr, Iza Sabino, Ana Tijoux e Rincon Sapiência. Um time poderoso em um projeto coeso e visceral.
“Me considero uma MC muito sensível. Tive que fazer um resumo das histórias para caber ali nos versos, em poucos minutos. Achei importante falar sobre o que mexia comigo. Precisa extrair, selecionar as melhores palavras para expressar e passar exatamente o que a gente quer. Entregar sua verdade é primordial. Cada um tem sua essência. Não precisamos ser iguais. Ainda mais nesse período de redes sociais, onde existe muita comparação. É autoamor e isso não nos é ensinado. Conforme o tempo vai passando, enxergamos que isso é necessário para seguir nosso propósito de vida.”
Stefanie considera o disco uma celebração da vida e da própria espiritualidade. Foi na fé e no hip-hop que a rapper encontrou força para não desmoronar frente aos desafios. “Parece clichê, mas é muito real. A força está dentro de nós, somos essa fagulha de Deus. Aprendi a me conectar com essa energia. Hoje em dia eu faço muita meditação. Tanto que minha terapeuta fala assim: ‘Você sabe qual é o seu remédio’. Medito e consigo me acalmar. Nesse momento, as ideias brotam. No desespero, as coisas não chegam. Porque cria essa neblina e não enxergamos a solução. Aprendi que ela chega em alguma hora, algum momento. Vou fazer minha parte, lógico. Não vou esperar as coisas caírem do céu, mas aprendi a confiar no fluxo da vida.”
