Entenda por que o DJ Rennan da Penha proibiu música de TikTok em baile funk
DJ e produtor quer, segundo ele, 'manter as tradições do funk carioca'


Você consegue imaginar um dos maiores bailes funk do Rio de Janeiro sem músicas que são virais no TikTok? É exatamente isso o que acontece no Baile da Selva, na Penha. Primeiramente, é bom pontuar que o baile realizado na Zona Norte carioca é um dos principais bailes da cidade atualmente, mas não é um baile novo. É uma espécie de derivação do Baile da Gaiola que ganhou outro nome por conta da repressão policial, explica o DJ Rennan da Penha, principal artista da festa e uma espécie de curador musical do evento.
“Depois que o Baile da Gaiola ganhou fama, a repressão foi muito grande [Rennan chegou a ser preso em 2019, por associação ao tráfico]. Tentaram nos associar com coisas erradas e decidimos mudar o nome para dar um respiro”, contou o DJ, em entrevista à Billboard Brasil.
O DJ explica que o nome Selva foi escolhido pois as referências a animais estão em alta entre os MCs. “Brincamos que os animais foram soltos da gaiola e agora estão livres na selva”, diverte-se
O Baile da Selva acontece no mesmo local onde era realizado o lendário Baile da Gaiola e têm dinâmicas parecidas. Mas, se lá em meados de 2019, Rennan ousava com a popularização das músicas aceleradas para 150BPM, uma revolução que causou muito ruído dentro do funk, agora o produtor fechou sua mata e decidiu não tocar músicas do TikTok.
Esse é o Baile 🚫 🐻 pic.twitter.com/wNgXmNQ2oz
— Rennan da Penha (@rennan_penha) July 16, 2023
Mas o que seriam músicas de TikTok?
“Muitos artistas e produtores fazem músicas pensando só no aplicativo, em como viralizar. Na minha ideia, isso faz mal para cultura do funk. Foi por isso que decidi não tocar músicas que tenham esse foco, que sejam feitas apenas para viralizar”, resume o DJ. Vale mencionar que a justificativa não tem um critério objetivo, o que o próprio artista reconhece.
Rennan destaca que o problema não tem relação com o aplicativo em si – ou até mesmo com as dancinhas. “Se uma música minha viralizar por conta de uma dancinha, não vejo problema nenhum, é algo legal. Mas não faço meu trabalho pensando nisso”.
É interessante pensar que Rennan, alvo de críticas por ser um dos responsáveis pela aceleração do funk do Rio de Janeiro de 130 para 150BPM, hoje é o algoz de um novo modelo de produção musical.
Mas o DJ não liga muito para uma possível alcunha de conservador.
“Sou conservador musical, sim. Eu quero preservar um legado. Acho que temos que fazer música por amor, não por dinheiro. Óbvio que temos que ser remunerados pelo nosso trabalho, mas temos que priorizar a arte”.
‘Falta de profissionalismo’
Ironicamente, um dos últimos vídeos publicados na conta pessoal de Rennan da Penha no aplicativo chinês é uma postagem de 11 segundos que mostra um telão no baile da Selva com o logo do TikTok coberto por um sinal de proibido.
@rennandapenha Só Afro House no Baile da Selva 🐻 #bailedaselva🍃🐻🐝 #bailedaselva🍃🐻 #proibidotiktok ♬ som original – Rennan da Penha
Na postagem do DJ nas redes sociais, usuários apoiam a medida de Rennan declarando um sentimento de nostalgia com relação ao “funk da antiga”, chamado de relíquia, e outros criticam a proibição por impedir “o que está em alta”.
Pelo Twitter, o DJ Biel do Furduncinho, autor de “Ai, Preto” e “Desenrola Bate Joga de Ladin“, essa última um viral na rede social muito por conta da coreografia, criticou a proibição das músicas:
Como que esse cara aparece na internet falando mal do “TIKTOK” um aplicativo que tá gerando vários empregos, ajudando várias pessoas, ajudando o movimento (FUNK), vários amigos de trabalho rodando o mundo por conta dessa rede social. Abre a mente se não fica trás!!!
— BIEL DO FURDUNCINHO (@bieldofurdunci) July 18, 2023
DJ Byano, um dos mais tradicionais do Rio de Janeiro com quase duas décadas de carreira, também se disse contra a medida, que classificou como hipocrisia.
“O funk é um ritmo mundial, não é só favela. TikTok não é um gênero musical. Ele não tocar, tudo bem, mas incentivar que outros toquem no baile é muita falta de profissionalismo. Preservar a cultura é manter viva, inclusive tocando o que está em alta”.