“Hoje eu quero abrir um capítulo da minha vida que pouca gente conhece de verdade. Um capítulo que muitas vezes me fez chorar escondido, pensar em desistir… mas também me fez renascer.
Durante muito tempo, vivi uma batalha silenciosa. Uma luta solitária, contra um inimigo invisível que ameaçava uma das coisas mais importantes para minha vida pessoal e profissional: minha voz.
Tudo começou no início dos anos 2000. Eu estava no auge com o Angra, viajando o mundo, cantando para milhares de pessoas. Mas, de repente, algo começou a dar errado. Minha voz falhava, quebrava. Às vezes, simplesmente não saía. E o pior: ninguém sabia explicar o porquê.
Procurei ajuda desde o primeiro sintoma. Fui em dezenas de médicos, gastando milhares e milhares de reais em exames, remédios, técnicas vocais, fisioterapia da voz, alimentação especial, psicólogos, fonoaudiólogos, curandeiros, gurus… eu tentei de tudo. Cada vez era uma esperança nova. Um novo ‘talvez agora vá melhorar’. Mas não melhorava.
E o que eu não sabia ainda, era que eu sofria de um grave refluxo gastroesofágico crônico, que queimava as cordas vocais e a mucosa nasal por dentro sem deixar marcas visíveis. Um refluxo tão agressivo que também me causava crises de asma, me fazendo perder completamente o ar. Imagina só: você vai cantar, precisa da respiração perfeita… e de repente, o pulmão trava. Não entra ar. O desespero tomava conta.
Foi um período cruel. A voz ia embora e com ela ia minha autoestima. Cada show era um sacrifício. Eu subia no palco com medo, inseguro, rezando para conseguir entregar ao menos 70% do que eu sabia fazer. Eu me culpava, me sentia um fardo para a banda, mesmo dando tudo de mim.
E enquanto eu tentava entender o que estava acontecendo, vieram as críticas. Pesadas, impiedosas. A internet começava a se tornar o tribunal de tudo, e eu fui um dos primeiros cancelados do Brasil. As pessoas me linchavam virtualmente sem saber que eu estava doente. Que eu lutava todos os dias para continuar ali. Que eu chorava no camarim depois do show, nos estúdios, em casa, nos hotéis, no avião…
Em 2011, no Rock in Rio, tive uma das experiências mais dolorosas da minha carreira. Eu não estava bem, mas fui mesmo assim. E o que aconteceu foi uma avalanche de ódio. Eu era trending topic, sendo massacrado por não ter entregado uma performance à altura. Ninguém sabia que eu estava deprimido, doente, sem ar, com a garganta ardendo, sem forças nem para sorrir.
Foi nesse momento que eu percebi: eu precisava parar. Por mim. Pela minha saúde. Pela minha vida.
Sair do Angra foi doloroso, mas necessário. Me libertou. Tirou um peso absurdo das minhas costas e da minha voz. Um peso que só atrapalhava para me curar. E ali começou meu verdadeiro processo de renascimento.
Com tempo, cuidado e muita luta, fui me reconstruindo. Descobri como controlar o refluxo. Aprendi a conviver com ele, a domá-lo. Tratei a asma. Reeduquei meu corpo, minha mente e meu canto. Descobri uma nova forma de cantar, mais saudável, mais consciente. E o mais importante: recuperei minha alegria de viver.
Hoje, posso dizer com orgulho: após muitos anos eu voltei a cantar como nos meus melhores tempos. Voltei a viver. Voltei a sonhar. E mais do que isso: voltei mais forte, mais humano, mais verdadeiro.
E é por isso que hoje, cada show, cada nota que eu solto no palco, tem um valor indescritível. Porque eu sei de onde eu vim. Eu sei o inferno que atravessei para estar aqui.
Essa história não é só sobre voz. É sobre resistência. É sobre cair e levantar. É sobre encarar os próprios fantasmas, mesmo quando ninguém mais acredita em você. E é sobre reencontrar a luz depois de passar tanto tempo na escuridão.
Hoje eu sou grato até pela dor, porque ela me ensinou. Me ensinou a ter paciência, humildade e fé. Me ensinou que a vida não segue roteiros perfeitos, mas que cada cicatriz traz uma lição que transforma. E que, às vezes, é preciso perder tudo para encontrar a si mesmo.
Agradeço a cada um dos que nunca deixaram de acreditar em mim. Que me esperaram. Que me entenderam. Que me apoiaram mesmo sem saber exatamente o que eu estava enfrentando. A minha história é de luta, alegria, dor, mas também de muitas vitórias. E ela só faz sentido porque muitas pessoas fazem parte dela.
Se você está lendo isso e também está enfrentando sua própria batalha invisível, saiba: você não está sozinho. Continue lutando. Uma hora, a dor vira força. E a cicatriz, medalha. Obrigado por estarem comigo. Hoje e sempre.”
*em depoimento para Sérgio Martins
TEMPLE OF SHADOWS IN CONCERT
Onde e quando: Sábado, dia 05 de julho, no Tokio Marine Hall (São Paulo)
Ingressos: Ticktmaster