Duquesa: ‘Quando você não encontra a sua fada madrinha, você se torna’
Rapper baiana é um dos destaques da capa de dezembro da Billboard Brasil
Uma das maiores estrelas de ascensão do rap e trap nacional em 2023, Duquesa, ou “Big D”, chegou para lá de forte neste ano com o disco “TAURUS”. O projeto fala da personalidade da baiana de 23 anos que, além de taurina, como o título já adianta, tem muito para contar da sua história, e para quais lugares o seu talento e determinação ainda vão a levar.
Abaixo, leia o bate-papo com Duquesa presente na terceira edição da Billboard Brasil.
Como você enxerga a importância do ano de 2023 para música urbana?
O movimento da música urbana sempre foi muito marginalizado, por vir da periferia. Esse ano, as pessoas começaram a entender a qualidade desses cantores. As novas plataformas na internet também ajudaram a espalhar as nossas músicas.
Quando você percebeu que a música era uma possibilidade na sua vida?
Eu sou de Feira de Santana, interior da Bahia. Fui fazer faculdade de Publicidade porque era criativa, mas já trabalhei em loja de departamento, telemarketing, vendi feijoada. Meu último trabalho foi em uma rádio na minha cidade, mas meu chefe me desencorajou a seguir na música. Sinto que o racismo fez com que eu me escondesse. Nem minha família sabia que eu cantava, eu não tinha autoestima. Mesmo assim, avisei minha mãe e investi tudo que tinha na música, me mudei para São Paulo há um ano. A música era a única coisa que me fazia feliz e ouvida.
O trap e o rap são o novo pop. Na sua visão, o que tem conquistado o público jovem?
Acho incrível o poder de influência da música urbana. Muitas faixas que fazem sucesso agora são direcionadas para o público feminino e jovem. As mensagens são positivas. Quando falamos de ganhar dinheiro, não é sobre roubar um banco e, sim, se empoderar, e ir atrás de seus sonhos.
Quais são os “99 problemas” de um gênero ainda dominado por homens?
Os cantores, que a gente conhece de camarins, respeitam a gente. O problema é o público deles. São fãs muito grotescos, adolescentes. Ainda estão naquela fase em que odeiam mulheres. As marcas têm uma pressão grande para cima das cantoras. Não podemos ficar muito magras, nem muito gordas. Elas querem ditar o que nós temos que fazer, mas ainda bem que estamos em um cenário de mulheres firmes. Quem perde é a marca, porque não vamos mudar. Nós sabemos o impacto que nossas decisões têm no público.
Como é sua relação com o dinheiro?
Eu tento ser muito responsável com dinheiro, porque eu acho que é isso que o sistema injeta na gente: fique rico, seja fútil. Gosto de lazeres saudáveis, de ir a restaurantes, em eventos onde vou ficar quieta. Eu priorizo a minha casa. Não faço nada se eu não estiver com as minhas contas pagas, a minha geladeira cheia. Só quem não teve muito o que escolher antes na vida entende isso. Para mim, isso é ostentar. Quando tiver tudo quitado, eu posso comprar uma bolsinha, só para ter esse gosto.
Na adolescência você sofreu com o bullying, como foi o seu processo de autocuidado até chegar na Duquesa que conhecemos?
Duquesa é tudo que eu queria ser, mas não tinha forças. Sempre quis ter um estilo diferente. Em 2017, eu já falava com a Tracie [da dupla Tasha e Tracie] no Facebook, via o que as pessoas de São Paulo estavam usando. Minha mãe perdeu a vaidade quando meu pai morreu, então não tinha essa referência em casa. Minha família era de pastores, eu não conseguia me encaixar, minhas primas não falavam comigo. Eu era piada na cidade. Já fui trancada na sala de aula por ser considerada feia. Quando você não encontra a sua fada madrinha, você se torna. A Duquesa foi a fada madrinha da Jeysa.