Avant-pop, dark pop, industrial pop, goth pop e electro grunge. David Bowie, Prince, Madonna, Michael Jackson, Radiohead, Nine Inch Nails e Siouxsie and the Banshees. Lady Gaga engarrafou tudo isso em “Mayhem” —e é tanta coisa que, diante de algumas canções pop quase sempre etéreas e homogêneas, muita gente se esquece de perceber a grandiosidade da vinda da cantora, compositora e arranjadora ao Brasil.
“Mayhem” é facilmente o melhor álbum de Gaga desde “Artpop”. Ela interpreta sua luta interna como uma batalha judicial entre uma rainha dominadora de preto e uma inocente de branco —e assim fez no Coachella.
Lançado no dia 7 de março deste ano, ela entregou um banho de caos organizado: muitas referências, nostalgia e um empurrão no pop contemporâneo.
Primeiro de tudo: que som é esse que a gente ouve em “Mayhem”
“Mayhem” é uma viagem insana por tudo o que Gaga sabe fazer de melhor. Misturando synth-pop, industrial dance, electro-grunge, funk setentista, disco e rock teatral, o álbum é praticamente uma playlist viva dos anos 1970, 80 e 90 — mas reimaginada para 2025.
São beats pesados e sintetizadores agressivos que deixam, com certeza, Trent Reznor orgulho. O vocalista da banda Nine Inch Nails foi responsável por um rock e pop que respirassem mais a vibe industrial —hoje, ele é responsável pela excelente trilha de “As Tartarugas Ninja: Caos Mutante”, por exemplo. A essa estética de porão pop, Gaga adiciona vocais dramáticos e angustiados, distorção com texturas eletrônicas bem visíveis.
Mas, por outro lado, Mayhem também é carismático. Ela faz referência ao glam rock de David Bowie e à rebeldia de Siouxsie and the Banshees para falar de amor, excesso, desejo, fama e autodestruição, mas deixa sempre uma esperança ali, espreitando entre as sombras.
O single “Abracadabra” é um dos maiores recados do álbum na missão de condensar tudo isso:
As influências de ‘Mayhem’
Gaga mergulhou fundo em referências de David Bowie, Prince, Madonna, Michael Jackson, Radiohead, Nine Inch Nails e Siouxsie and the Banshees. E ainda pincelou inspirações da cultura ballroom e da música eletrônica francesa.
“Killah”, por exemplo, parece saída de uma sessão de gravação que consagrou “Fame”, de David Bowie. Mas ela é única também porque parece um disco de Prince ao mesmo tempo que poderia ser cantada por Madonna. Um funk-rock sujo em tom maior.
De quebra, tem inesperadas sensações vindas de Gaga. “Zombieboy”, uma delícia, evoca a era disco da música pop —algo que muitos artistas contemporâneos como Dua Lipa e Bruno Mars procuram emular e, em muitas oportunidades, parecem estar apenas revivendo uma fórmula. Gaga, pelo contrário, não. É nítido que é dela o produto final —ainda que totalmente explicada a referência.
No Coachella, Gaga expandiu ‘Mayhem’ ainda mais
Chamada de “histórica” aqui na Billboard Brasil pelo repórter Lucas Vieira, a apresentação da cantora no Coachella fez “Mayhem” soar ainda mais… Lady Gaga. O Guardian, da Inglaterra, corrobora: deu cinco estrelas e disse que “aos 38 anos, Gaga reina como uma monarca na música pop, um fato que ela exerceu com efeito estupefaciente na noite de sexta-feira para uma multidão que se estendia muito além do que qualquer olho podia ver.”
Spoiler: o álbum é pessoal. Muito pessoal. 💔🌪️
Em entrevistas, Gaga revelou que Mayhem nasceu depois de um mergulho profundo na própria alma. Ela descreve o processo como “reconstruir um espelho quebrado” — um trabalho de amor, medo e superação. O resultado? Um disco que fala sobre amor, caos, fama, identidade e desejo — tudo com a energia de quem já viveu de verdade.
Com colaborações de Andrew Watt, Cirkut e Gesaffelstein, Mayhem entrega uma mistura deliciosa de sintetizadores analógicos, batidas industriais e linhas de baixo groovadas.
Alguns destaques:
- “Killah” tem aquele tempero Bowie + Prince que vai fazer você dançar na frente do espelho.
- “Disease” entrega o peso e a melancolia na vibe Nine Inch Nails.
- “Die with a Smile”, em parceria com Bruno Mars, é um hino solar que poderia muito bem ter saído de um disco perdido de Carole King.