Lady Gaga balançou a bandeira da autenticidade antes que a palavra virasse moda e pavimentou o caminho para a nova geração da música pop
Vira e mexe surgem notícias de que Lady Gaga responde às publicações dos fãs nas redes sociais. Um caso recente foi o vídeo do TikTok com imagens do grupo no Facebook batizado de “Stefani Germanotta, você nunca será famosa”. A resposta da artista foi breve: “Pessoas que estudaram comigo na universidade criaram esse grupo. É por isso que você não pode desistir quando duvidarem de você ou te colocarem para baixo – você tem que insistir.”
Antes de se tornar Gaga, ela se apresentava como Stefani na noite novaiorquina e lidava com as inseguranças da profissão, como qualquer outro artista em início de carreira. Nem em seus sonhos mais ambiciosos ela achava que alcançaria o topo da indústria musical, vencedora de 14 estatuetas do Grammy e a única artista na história a vencer, no mesmo ano, 2019, o Oscar, Grammy, BAFTA e Globo de Ouro.
No nome artístico, carrega a referência à música “Radio Ga Ga”, do disco “The Works”, lançado pelo Queen em 1984. Assim como os ídolos, ela estava destinada a se apresentar para multidões e abrir novos precedentes na música pop mundial. Os heróis da cantora são reverenciados e absorvidos em seu trabalho: seja na atitude ousada de Madonna ou na moda exuberante de Alexander McQueen, ela deglute cada influência para criar algo novo.
Se a geração millennial tivesse um hino, seria “Born this Way”, música lançada em 2011 como um manifesto em defesa da autenticidade. Quase como uma versão anos 2010 do hit “Express Yourself”, da Rainha do Pop, a letra da canção é enfática: o que te torna único no mundo é a sua fortaleza. Nela, a base de fãs – os little monsters – é convocada para “put your paws up” (levantem suas patas no ar) e tenham orgulho de quem vocês são.
Ao longo de quase duas décadas, Gaga entregou momentos que transformaram a cultura pop. Como um camaleão à la David Bowie, ela viveu várias vidas sob os holofotes. Conceitual, dramática e radiofônica, sua música vibra em diferentes direções, guiada por sua potente voz, que pode ser projetada tanto nas pistas de dança quanto nos elegantes shows de jazz.
A cada novo disco, mantém a curiosidade do público, que nunca sabe o que esperar da artista que se reinventa a todo momento. Depois de alguns anos dedicados ao cinema, ela reapareceu no dueto com Bruno Mars na balada “Die with a Smile” e seguiu neste ano com “Mayhem”, seu sétimo disco, inspirado na vida noturna e na música eletrônica. O visual da nova era inclui uma estética gótica, reconectando-se aos ares club kid do início da carreira.
Para uma parte dos fãs, o novo trabalho sinaliza o retorno do pop eletrônico com tons sombrios, pelo qual ficou conhecida em The Fame Monster, de 2009. Mas, em certa medida, mesmo quando encarnou o visual glamouroso de diva de Hollywood – a partir do disco “Cheek to Cheek”, criado em parceria com Tony Bennett em 2014 –, ela nunca deixou de ser a cantora que foi repreendida pelos colegas da faculdade por ser performática. Afinal, o tempo provou quem tinha razão nessa história.