Como é envelhecer no rock? Dinho Ouro Preto responde
Vocalista do Capital Inicial avalia amadurecimento da banda desde anos 1980
Dinho Ouro Preto, vocalista do Capital Inicial, completou 60 anos em abril. Quatro dessas décadas foram ao lado da banda, formada nos anos 1980. Em entrevista para a oitava edição da Billboard Brasil (adquira a sua aqui), o cantor detalhou sobre como é envelhecer no rock.
“Ao longo dos anos, nós fomos mudando. Se você pegar as letras do que foi feito principalmente do “Das Kapital” [2010], quando eu caí do palco, até hoje, são as mais reflexivas. Você não vê mais aquela linguagem direta que parecia tão clara e urgente quando éramos adolescentes”, explica.
“Percebo nos textos coisas mais abstratas, herméticas e profundas. No entanto, também não é uma necessidade, conforme você envelhece, ficar mais sério. É perfeitamente lícito se divertir, envelhecer achando graça nas coisas. Acho que, de algum modo, o rock’n’roll estende a adolescência. Questões ligadas a legalização das drogas, do aborto, faziam parte do que acreditávamos quando tínhamos 20 e poucos anos. Hoje, continuamos acreditando”, acrescenta Dinho.
O Capital Inicial –de hits como “Natasha”, “Tudo Que Vai” e “Não Olhe Pra Trás” –segue como um dos principais nomes do gênero, mais de 40 anos depois. Músicas como “Primeiros Erros” constantemente aparecem entre as mil faixas mais ouvidas do Brasil. A banda atualmente faz 12 shows por mês e se apresenta, em 2024, pela nona vez no Rock in Rio.
“A nossa juventude estava atenta ao que acontecia. A gente ia para reuniões do movimento secundarista, éramos politizados. Era uma mistura de seriedade e, ao mesmo tempo, alguns momentos pueris, sim. Mas eu não via como se eles se anulassem. As duas coisas caminhavam juntas, equilibradas. Ao mesmo tempo, todo mundo adorava ser estúpido. É brilhante ser tão estúpido e bobo. Quando eu conheci a Turma da Colina [formada por integrantes da Legião Urbana, Plebe Rude e do próprio Capital antes da fama], eu estava em outra onda”.
Dinho acrescenta que demorou para entender o que era a história do punk.
“No primeiro momento, eu achava tudo muito primitivo, ‘que tosqueira é essa?’. Quando caiu a ficha, ouvindo o disco ‘It’s Alive’, dos Ramones, eu entendi o discurso, a ideia e a sofisticação disfarçada. Eu achava que o punk remetia ao dadaísmo. Achava que era uma simplicidade, uma desconstrução deliberada e muito bem bolada. De levar o rock de volta às ruas e às pessoas. Nesse sentido, era revolucionário e foi um momento de epifania. Foi tão forte que joguei todos os discos fora pela janela [risos]. Virei aquele cristão novo, não queria nem falar com quem não ouvia as novas bandas. Só pensava nisso.”