OPINIÃO: Chappell Roan é uma chata, ok, mas qual é o problema?
Um dos maiores destaques do ano é, também, controverso
Chappell Roan é, indiscutivelmente, um dos destaques da música pop em 2024. A cantora já está na estrada há alguns anos, mas viu sua carreira dar uma guinada vertiginosa com o lançamento de seu primeiro disco, “The Rise and Fall of a Midwest Princess”.
Nascida Kayleigh Amstutz no Missouri, Estados Unidos, há 26 anos, a drag queen conquistou espaço com sua personalidade extravagante e letras de uma pessoa que tem muito a dizer para antigos e novos amores. Rapidamente ela ganhou os charts da Billboard, uma legião de fãs e se tornou uma das artistas mais ouvidas do mundo.
No entanto, para além das conquistas, ela também virou alvo ao reclamar, publicamente, sobre ônus que a fama repentina lhe trouxe. “Minha vida inteira mudou”, disse, em um desabafo à “Interview Magazine”, enquanto tinha sete faixas no Billboard Hot 100.
Desde então, reclamou da forma como é tratada pelos fãs, e pediu distância de comportamentos que ela considera esquisitos —como abordagens na rua e perseguição até mesmo a seus familiares. Esse comportamento do público fez com que Chappell considerasse desistir de tudo.
“As pessoas começaram a ficar malucas Tipo, [eles] me seguem e sabem onde meus pais moram e onde minha irmã trabalha. Toda essa merda estranha. Este é o momento em que, há alguns anos, eu disse que se [houvesse] vibrações de perseguidores ou se minha família estivesse em perigo, eu desistiria. E estamos nisso – Chappell Roan, em entrevista ao podcast “The Comment Section”
Mas… é errado reclamar?
Conforme Chappell usou suas plataformas para se opor a comportamentos considerados excessivos dos fãs, as reações foram mistas. Enquanto alguns admiradores ficaram chateados com as falas da cantora, outros apoiaram seu posicionamento firme.
Ela recebeu, inclusive, comentários de apoio de outras cantoras, como Hayley Williams, frontwoman do Paramore, que ganhou fama aos 14 anos. “Estou muito grata por Chappell estar disposta a abordar isso de maneira real, em tempo real. É corajoso e, infelizmente, necessário.’
A personalidade firme e decidida de Chappell também se mostrou quando ela discutiu com um fotógrafo que estava no tapete vermelho do VMA 2024. Segundo ela , o profissional em questão gritou com ela. “Acabei gritando de volta. Ele não podia ter gritado comigo daquela forma. Isso é bem avassalador e assustador”. Eles se reencontraram na première do especial de Olivia Rodrigo para a Netflix, e discutiram mais uma vez.
Os argumentos daqueles que se incomodam com a postura de Chappell diante o comportamento da indústria, muitas vezes, se baseiam na ideia de que ela, agora famosa, precisa lidar com as consequências da fama. Mas… essas consequências vêm sendo assédios constantes de paparazzi, críticas avassaladoras e fãs stalkeando membros da família dela. Tudo isso já aconteceu com outras estrelas do pop, e algumas se prejudicaram de forma permanente, como Britney Spears.
A fama, de fato, é algo bom, eu imagino. Dinheiro; acesso a lugares, pessoas; viagens. Enfim, luxos que a vida de repórter não me permite imaginar. Mas há aqueles artistas que querem ser conhecidos pela arte que fazem, e não por sua vida pessoal. A própria, em entrevista à Billboard Brasil, se mostrou despreocupada com números e paradas musicais. “Eu realmente não dou a mínima para a indústria. Nunca liguei. Nunca pensei que precisasse colocar músicas nas rádios”, disse.
“Amo como tudo está indo agora, sou grata. Isso tudo é muito foda, mas a receita [da carreira] é fazer o que gosto e no que acredito 100%. Não importa o que achem, não importa o que os charts ou as críticas falem. Eu amo fazer o que faço e sei que é bom. Ninguém consegue mudar minha opinião” – Chappell Roan, em entrevista à Billboard Brasil
Chappell se apresentou ao mundo vestida de drag, com maquiagens que mal revelam o seu tom de pele. Um penteado nada usual. Roupas extravagantes para expressar sua personalidade artista. Assim ela quer ser vista e mostrar sua arte ao mundo.
E o que está por baixo de tudo isso é uma mulher de 26 anos, normal como todos nós –que ama, sofre, chora– e que quer viver essa normalidade quando não está sendo Chappell Roan. Mesmo sendo tachada de chata e arrogante, ela estabeleceu os limites que precisa para continuar dando lugar para a sua arte se manifestar, deixando claro que seu objetivo é esse e não a fama como um fim por si só.
Será mesmo que é pedir demais? Eu acho que não.