Fã de Pabllo Vittar e Carnaval, Chappell Roan, revelação do pop, se declara ao Brasil
Cantora de 26 anos conversou com a Billboard Brasil sobre a carreira
Chappell Roan, de 26 anos, viu a carreira deslanchar nos últimos meses. A cantora e compositora norte-americana fez barulho quando lançou o disco “The Rise and Fall of a Midwest Princess” (2023), mas três acontecimentos entre março e abril deste ano foram definitivos para que ela conquistasse o título de revelação do pop de 2024.
No final de março, Chappell participou do “Tiny Desk Concerts”, programa musical no YouTube produzido pela NPR Music. Dias depois, se apresentou pela primeira vez no Coachella e lançou o single “Good Luck, Babe!”. A visibilidade e popularidade da cantora nas redes sociais e charts foi alavancada.
Porém, números e entradas nas listas de músicas mais ouvidas são ótimos, mas não são o foco de Chappell. “Eu realmente não dou a mínima para a indústria. Nunca liguei. Nunca pensei que precisasse colocar músicas nas rádios”, ela diz em uma entrevista em vídeo para a Billboard Brasil.
“Amo como tudo está indo agora, sou grata. Isso tudo é muito foda, mas a receita [da carreira] é fazer o que gosto e no que acredito 100%. Não importa o que achem, não importa o que os charts ou as críticas falem. Eu amo fazer o que faço e sei que é bom. Ninguém consegue mudar minha opinião.”
Apesar de não ligar para os charts, Chappell está entre as mil canções mais ouvidas no Brasil –competindo com o gigantismo do sertanejo e do funk. “Good Luck, Babe!” está em 795º lugar (logo na frente de “Funk Rave” de Anitta e “Pipoco” de Ana Castela). E, ao saber da novidade, não consegue conter o sorriso.
Ouça “Good Luck, Babe!”:
“Desde o primeiro dia, as meninas falam: ‘Venha para o Brasil’. E eu fico: ‘Amiga, um dia eu vou!’. Sempre quis ir, desde criança, para o Carnaval. Eu amo demais os figurinos. Eu acho que o Brasil tem a cultura mais inspiradora, porque, da minha perspectiva, todo mundo é uma drag queen aí! Isso é incrível. A confiança com a dança, os movimentos, os cabelos, tudo”, diz.
“A paixão do brasileiro pela arte… Todo mundo diz que o público no Brasil é o melhor. Todo mundo para quem já perguntei responde isso. E eu amo a Pabllo Vittar. Ela foi a primeira que encontrei [na música brasileira]. Eu a sigo [nas redes sociais] há muitos e muitos anos. Eu não sei politicamente como é a vibe queer no Brasil e eu adoraria saber mais, mas eu amo como tudo parece ser queer lá.”
Apesar da animação e da curiosidade, Chappell não revelou se vem ao país em 2024 –vale lembrar que o Primavera Sound São Paulo ainda não anunciou o line up da edição deste ano.
Na arte drag, Chappell encontra referências e inspirações. “É a coisa mais inspiradora e linda desse mundo, porque é muito puro. Me motiva a ser mais ousada, barulhenta… As drags são absolutamente tudo para mim”, diz.
“A primeira vez que vi uma drag queen foi aos 18 anos. Meu tio gay, o único gay de um lado da família, me levou a um bar drag. Eu fiquei chocada o rolê inteiro. Eu pensava: ‘Como essas garotas são tão lindas?’. Fiquei sem palavras e, ao mesmo tempo, tive o momento de maior curiosidade da minha vida até então.”
Acolhimento
No álbum “The Rise and Fall of a Midwest Princess”, lançado em setembro do ano passado, Chappell canta sobre relacionamentos, sexualidade e amor. Seu propósito é proporcionar um lugar seguro para os fãs nos seus shows.
“Eu realmente não sei o motivo principal das pessoas se conectarem comigo. Todos gostam de se divertir e isso [música] é divertido. É um lugar seguro. No Centro-Oeste [dos Estados Unidos], as comunidades oprimidas podem se divertir durante duas horas, sabe? Sinto que eles podem se sentir bem e se divertir.”
Recentemente, a cantora viralizou ao protestar por direitos e liberdade no Governors Ball, festival de música em Nova York, para mulheres e para a comunidade trans. Ela revelou que se recusou a cantar para a Casa Branca. “Queremos liberdade, justiça e liberdade para todos. Quando você fizer isso, é quando eu irei”, ela disse na ocasião –assista abaixo.
oh i fucking love chappell roan. pic.twitter.com/sWZD1LEUIU
— Ari 🧸ྀི (@arianasupland) June 9, 2024
Questionada sobre se posicionar publicamente sobre questões sociais e de direitos humanos, Chappell manda um recado para aqueles que preferem adotar uma postura mais isenta.
“É como uma espécie de dever, uma tarefa necessária. E se vou fazer isso, tenho que fazer por completo. Se eu quero apoiar as pessoas trans e as pessoas oprimidas, eu tenho que fazer com o melhor das minhas habilidades. E eu acho que ações falam mais alto do que palavras. Eu quero falar sobre o que eu realmente acredito. Se você é um artista e não está retribuindo à comunidade que está dando tudo para você… Tipo, o que você está fazendo? Isso é muito estranho”, explica.
Sem dinheiro, mas com um sonho
Chappell já enfrentou poucas e boas na indústria da música desde o início da carreira em 2015. Na época, ela conseguiu um contrato com a Atlantic Records e lançou o EP “School Nights” dois anos depois. Ela ficou na gravadora até 2020, quando a empresa encerrou o contrato, mesmo com o hit recente da cantora, “Pink Pony Club”.
O sonho de viver da música seguiu paralelamente: Chappell trabalhou como babá e barista, além de voltar a morar com os pais. “Eu pensei em desistir em vários momentos”, ela conta. “Eu não tinha dinheiro, não podia ter nada. Não era nada divertido.”
“O que deixou as coisas mais fáceis foi começar a trabalhar com meus melhores amigos e honrar minha criança interior. Era alegre, brincava de me vestir, não parecia mais um trabalho. Claro, foi difícil. Mas não sugava minha alma e porque minha carreira estava baseada em algo que eu acredito e amo. Meu coração fica cheio e é muito fácil de seguir em frente”, explica Chappell.
“Mas foram uns seis, sete anos, horríveis… [Se eu tinha um] plano B? Olha, eu sou realmente muito boa com genética. Talvez eu seguisse esse caminho, mas não parece ser muito divertido”, finaliza.