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‘Caju’, Jards e Biltre: os três álbuns revisitados no Doce Maravilha

‘Caju’, Jards e Biltre: os três álbuns revisitados no Doce Maravilha

De gerações diferentes, os três artistas comemoram obras no festival

Jards Macalé assombrou o público de um festival em 1969 com a perfomance de “Gotham City”; Liniker se tornava a primeira artista transgênero brasileira a vencer um Grammy Latino em 2022 e Biltre, bem, o Biltre era um encontro de vários amigos músicos do Rio que fez algum barulho com “Psicou”. Em comum, apesar da diferença de peso e gerações, os três artistas terão suas obras revisitadas no Doce Maravilha 2025.

Jards Macalé, “Jards Macalé” (1972)

Cantor e compositor responsável por obras como “Transa”, de Caetano Veloso, Jards lançou-se como intérprete de suas melodias com o álbum auto-intitulado de 1972. O álbum chegava três anos após Jards e banda terem lido “toquem o que quiser” na partitura de “Gotham City”, arranjada por Rogério Duprat. “Porra, cada um tocava qualquer coisa, e ficava uma cacofonia total.”, disse em entrevista ao jornalista Alex Antunes, em 2010.  A perfomance rendeu cacofonias e, então, vaias. “Entramos quase anônimos no festival e saímos famosíssimos, eu e o [poeta José Carlos] Capinam em todas as primeiras páginas de jornal. Viramos heróis – aliás, anti-heróis no dia seguinte. Primeiro a gente queria soltar um morcego de verdade, mas, depois que proibiram o Hermeto Paschoal de tocar com porcos, a gente desistiu do morcego real.”

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O (anti)clímax gerou faísca para a estreia de 1972. Nascido em 1943, Jards Macalé tinha 31 anos e, então, apenas um EP (“Só morto / Burning night”, de 1969), mesmo ano em que o assombrou o público no IV Festival Internacional da Canção (FIC). O álbum traz grande parte do repertório consagrado de Macalé. Um disco de trio, feito sob direção musical do próprio Macalé (também ao violão) com Lanny Gordin no baixo elétrico e no violão de aço tocado como guitarra e com Tutty Moreno na bateria.

Quem estiver no festival, presenciará hits como “Vapor Barato”, “Revendo Amigos”, “Mal Secreto”, “78 Rotações”, “Hotel das Estrelas”, “Let’s Play That”, “Farinha do Desprezo” e “Movimento dos Barcos”. Da tracklist do álbum, as únicas que não viraram populares na boca da MPB foram “Farrapo Humano / A Morte” e “Meu Amor Me Agarra E Geme E Treme E Chora E Mata”.

Biltre, “Bananobikenologia” (2015)

Pouco conhecida até na cidade onde foi formada, a banda Biltre chegou ao lar de alguns brasileiros com a tentativa viral de “Psicou”, um single que zombava de si e da geração indie —que, em 2015, já era uma galera conhecida por seus trejeitos melancólicos, pouco carismáticos, tímidos com o sucesso. Mas a pós-ironia da banda, infelizmente, chegou tarde. Em 2015, o pop e o indie brasileiro estavam celebrando obras como “A Mulher do Fim do Mundo”, de Elza Soares, “Manual ou Guia Livre de Dissolução de Sonhos”, do Boogarins ou “Fortaleza”, do Cidadão Instigado (não por acaso, os três primeiros colocados da lista do site Scream & Yell daquele ano).

“Psicou”, mesmo assim, teve boa penetração e ganhou as páginas de blogs voltados para o indie e, ouvida hoje, tem ainda seu charme. Apesar de não ser um álbum marcante da discografia da década de 2010, “Bananobikenologia” é um retrato do que se tentava como música independente no Rio de Janeiro e, principalmente, dos mecanismos de uma turma que se alternava entre o circuito alternativo (de El Efecto a Cícero) e o carnaval de rua da cidade.

Liniker, “Caju” (2024)

Um dos shows mais aguardados desta edição do Doce Maravilha, Liniker dizia, dois anos antes do lançamento de “Caju”, assim: “Sou uma cantora, compositora, atriz brasileira. Hoje algo histórico acontece na história do meu país. É a primeira vez que uma artista transgênero ganha um Grammy”. Ela havia chegado em um ápice mercadológico ao conquistar o prêmio por “Indigo Borboleta Azul”, de 2021 e talvez não imaginasse que a estrada estaria ainda mais lisa para mais gramofones com “Caju”, disco que lançaria em 2024.

Sem fazer força, “Caju” se tornou símbolo e bússola do pop brasileiro desde que fora exibido ao mundo. Com shows esgotados, a turnê prosseguiu por um ano arrastando fãs e novos convertidos à obra da cantora e compositora que, aqui e acolá, transforma em música as vontades de potência que corpos trans desejam na expressão do amor.

Agora, no Doce Maravilha, é hora de comemorar como as palavras de desejo podem ter se transformado em novas formas de amor.

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