C6 Fest 2025: o que esperar das atrações no sábado
Grande show do sábado (24) é o 'Moon Safari', dos franceses AIR
Se você irá ao C6 Festival no sábado (24), prepare-se. A programação do primeiro dia encontra-se em uma linha tênue entre pancadas texturizadas e guitarras pontiagudas. Dividida em três palcos, a escalação vai do pop espacial dos franceses do AIR —em show dedicado a um clássico da banda— às porradonas do britânico A.G. Cook.
A programação completa você pode conferir aqui.
Mas, primeiro, vamos falar de nomes menos conhecidos desse sábado que podem te chamar atenção para além do “Moon Safari” dos franceses ou do new-wave dos britânicos Pretenders.
Agnes Nunes (Tenda Metlife, 14h30)
Simpática, divertida e afinadíssima, Agnes Nunes é uma de nossas melhores experiências de R&B, soul e rock no Brasil com ecos do que se faz na música pop mundial. Baiana de Feira de Santana, é dela o primeiro show do festival que abarca seus dois álbuns lançados até agora: “Menina Mulher” e “O Amor e suas Variáveis”. Sua música incursiona pelo samba e adensa por conta de guitarras que vão rasgando as camas feitas pela bateria e pelas teclas.
Vale? Sim. Chegue cedo, ambiente-se e ouça um pouco de português em noite quase toda dedicada ao idioma inglês.
Beach Weather (Arena Heineken, 16h)
Formada em 2015, em Massachusetts, a Beach Weather explodiu com “Sex, Drugs, Etc” sete anos depois quando a letra quase-sóbria explodiu nas redes sociais. “Eu não preciso ficar chapadão tarde da noite, estou bem na minha vibe”, diz o refrão. O som cheio de reverb das produções levou a banda a uma categoria de aposta do pop rock que acabou não se concretizando, principalmente pelo insosso segundo álbum chamado “Pineapple Sunrise”.
Vale? Não —e por um simples motivo: o Peter Cat Recording Co. que começa 10 minutos antes na Tenda Metlife. Mas, ainda assim, vale dizer, a banda soa bem mais interessante ao vivo do que em seus dois álbuns —ainda que sem uma quebra de expectativa do que é visto por aí. Tire suas conclusões:
Peter Cat Recording Co. (Tenda Metlife, 15h50)
De Nova Deli direto pra São Paulo, a Peter Cat Recording Co. chega ao C6 como uma das menos festejadas bandas da edição —o que, claro, aflora um sentimento de: vamos fazer justiça. E, diga-se, tudo o que eles fazem é bem bonito —principalmente para quem tem repertório do indie folk feito na Europa por meados dos anos 2000.
A banda surge a partir de uma visão espiritual do vocalista Suryakant Sawhney em São Francisco. Mas o sonho americano (e a grana) deram tchau e ele foi obrigado a retornar à Índia —como são curiosos os caminhos do destino. Foi lá que ele se embrenhou em produção musical e aprendeu a criar músicas. O resultado disso tudo é algo feito, gravado e mixado em um dia pela banda.
De lá pra cá, a banda lançou três álbuns.
Vale? Sim. A vibe, por vezes, é sexy-indie, dançante, quase cabaré. Bom show para ir aquecendo o dia.
Perfume Genius (Tenda Metlife, 17h10)
Mike Hadreas não tem muito de novo para mostrar: seu som, muito do bem feito, não é lá uma novidade para iniciados. Mas a junção de sua persona e do som que sua banda emana é algo que faz você sentir que tem algo preso no rapaz. Aclamado pela crítica, seu álbum “Glory” traz um sujeito confuso em sentimentos, mas muito disposto a ser entendido pela distorção e por letras cantadas em voz límpida e sufocante.
Vale? Sim. Ao jornalista Silvio Essinger, d’O Globo, ele disse: “Eu vou morrer e todos que amo vão morrer. Isso é real e vai acontecer, mas era como se eu não entendesse essa verdade e tivesse medo dela. É difícil de aceitar, sabe?”. Isso traduz um pouco do que você pode esperar.
Stephen Sanchez (Arena Heineken, 17h30)
De todas as atrações do sábado, o estadunidense Stephen Sanchez é o que menos promete —o que não significa que não possa entregar. No entanto, seu pop com essência de baunilha dos anos 1950 —que, por vezes, parece um lado b da banda The Killers— é baseado no hit “Until I Found You” que alcançou altos lugares nas paradas, mas não o suficiente para elencá-lo como concorrente de Perfume Genius.
Vale? Mais ou menos. Vale passar no palco para conferir, mas o show bate com Perfume Genius.
AG Cook (Tenda Metlife, 18h30)
Porrada. Vale. Só vai. O britânico A.G. Cook é um fenômeno como produtor e, ainda por cima, tem uma qualidade maravilhosa para fãs de festivais e música ao vivo: é implicante. Seu som é, por vezes, agoniante —e dançante, sempre. Um dos melhores nomes da noite —e é tão bom que a gente nem precisaria dizer que ele se tornou produtor executivo de Charli XCX. De fato, essa informação não importa quando você percebê-lo ao vivo.
Vale? Para poupar seu tempo, respondemos logo!
Pretenders (Arena Heineken, 19h)
Chrissie Hynde já morou em São Paulo e, por isso, o show de sua banda no C6 Fest deve ter um gostinho a mais para ela e para os fãs. Esse é o quarto show do Pretenders no Brasil (eles vieram em 1988, 2003, e 2018) e seu horário no line-up aponta para um grande aquecimento pré-AIR —nada mal. Com shows marcados também para Porto Alegre, Curitiba e Brasília, a vocalista é conhecida pela sua paixão às palavras no palco em canções como “Private Life”, “Talk of the Town” e “Chain Gang”. Em “Losing Sense”, ela diz “Todos os meus favoritos parecem cansados e velhos”, expondo uma canetada que só podia vir de uma banda que quer mais do que ver o tempo passar. Aos 73 anos, é a vocalista uma das principais estrelas do sábado de festival.
Vale? Demais.
AIR toca “Moon Safari” (Arena Heineken, 20h45)
Vale? É o show da noite.
Inevitavelmente, “Moon Safari”, este álbum de 1998, ofuscou tudo o que a dupla francesa AIR produziu desde então. Para comemorar seu 25º aniversário, eles se dedicaram e estão tocando o álbum na íntegra e em ordem, além de um set extra com músicas de sua meia dúzia de álbuns. O grande detalhe é que nem sempre fama é algo que faz de um objeto um todo conhecido. E mesmo para os iniciados em “Moon Safari”, o show que o AIR prepara é para se entusiasmar com a vastidão de texturas que a compreensão em 1998 não deixou compreender. Em tempos de consumo rápido e de obras que se perdem no vão dos lançamentos, muitos estão emocionados em poder viver uma experiência tão genuína, em uma engenhoca temporal tão clichê —esta, de reviver obras, que até o TikTok já faz com esplendor.
E é possível que o show de quase duas horas deixe um gosto de “tudo acabou rápido demais” quando a última nota de “Le Voyage Pénélope” desaparecer com os três músicos no palco, vestidos de branco deslumbrante e acompanhados por um show de luzes.