Você está lendo
Animes e o rap geek invadem o mercado música e chega até grandes festivais

Animes e o rap geek invadem o mercado música e chega até grandes festivais

Avatar de Ludmilla Correia
O trio 7 Minutoz

O rap e o trap dominaram o Rock in Rio deste ano –isso é fato. Mas, ao lado das rimas de Matuê, Veigh e companhia, os versos de uma galera diferente também chamaram a atenção na Cidade do Rock. Às 15h, em plena tarde, o palco Supernova, destinado aos novos talentos, estava lotado no dia 14 de setembro –o que causava um certo estranhamento, já que início de festival costuma ser mais vazio.

Em meio à movimentação, crianças, adolescentes e adultos cantavam a plenos pulmões: “Eu vou explodir sua vila/ Me chamem de terrorista/ Mantenho minha ideologia/ Hoje eu vou salvar suas vidas/ Isso não é uma chacina/ Isso é punição divina”.

VEJA TAMBÉM

matue mascara rock in rio1

Eram os versos de “Rap da Akatsuki –Os Ninjas Mais Procurados do Mundo”, do grupo 7 Minutoz. A letra é baseada no anime japonês “Naruto Shippuden”, em que os autores resumem alguns feitos dos dez integrantes da Akatsuki, uma organização formada por ninjas renegados.

O single acumula mais 225 milhões de visualizações no YouTube e 56 milhões de plays no Spotify. É um dos hits do rap geek, que remete ao universo de quadrinhos, filmes e séries, entre outros elementos da cultura nerd.

Após conquistar a internet, esse movimento vem ganhando espaço também nos palcos de grandes festivais.

Um dos destaques da cena, o trio do litoral sul paulista, formado por Lucas A.R.T., Gabriel Rodrigues e Pedro Alvez, todos com 26 anos, fez sua estreia no Rock in Rio. O projeto começou com Lucas, que inventou um quadro na internet falando sobre assuntos de seu interesse em apenas sete minutos.

Inspirado em criadores de conteúdo da gringa, veio a ideia de unir as duas paixões. “Encontrei na música uma forma de me expressar e falar sobre temas que fazem parte dessa minha veia geek”, diz o rapper, em entrevista à Billboard Brasil.

Hoje, o grupo conta com mais de 13 milhões de inscritos no canal do YouTube e 1 milhão de ouvintes mensais.

A primeira música, “Rap do The Walking Dead”, foi lançada em 2013 e teve o seriado norte-americano como inspiração. Aos poucos, o experimento ganhou popularidade e conquistou seguidores na web. “Quando comecei o canal, tinha 13 mil inscritos. Em pouco mais de um ano, foi para 1 milhão”, conta.

Em 2019, os integrantes passaram a disponibilizar as faixas em outras plataformas de áudio. “Com o tempo, fomos aprendendo sobre questões como registro, distribuição em outras plataformas, direitos autorais e royalties. Ninguém nos ensinou.”

A trajetória deles influenciou outra referência do rap geek, Matheus Alex Ferreira da Silva, o MHRAP. Natural de Diadema, no ABC paulista, o artista de 27 anos passou a escrever suas primeiras rimas na época da escola. “Comecei nos primórdios da internet, me inspirando nos gringos e em brasileiros como o Player Tauz e o 7 Minutoz. Eu amava animes e resolvi tentar”, diz. Seu maior hit é “Tipo Minato”, baseado na história de Minato Namikaze, pai do ninja Naruto. A faixa tem mais de 93 milhões de visualizações no YouTube. Na plataforma de vídeo, MHRAP tem 3 milhões de inscritos.

As faixas mais famosas do rap geek são as dedicadas aos animes “Naruto Shippuden”, “One Piece” e “Dragon Ball”. Além da conexão com os quadrinhos japoneses, a popularidade vem da identificação e da inspiração do público com a história dos personagens, que, na maioria das vezes, estão ligadas a superação ou grandes feitos.

E como é o processo de criação das músicas? Os compositores montam uma investigação sobre o tema a ser narrado e tentam fazer conexões entre realidade e ficção. “A ideia é caçar o máximo de referências e informações como se fôssemos estudar para uma prova”, conta Lucas, do 7 Minutoz.

Da internet para o mercado musical

Não demorou muito para que o universo da música enxergasse a potência do movimento. “Percebi uma cena forte surgindo, com muitos artistas e uma base de fãs extremamente engajada. Daí surgiu a ideia de criar um selo focado na cena geek”, conta Alexandre Duncan, criador de uma gravadora especializada em rap nerd.

Alexandre não conta com casting próprio, prefere trabalhar com projetos. “O primeiro foi um [song] camp reunindo alguns dos principais nomes da cena, entre eles Tauz, MHRAP, VMZ e TK Raps. Ficamos durante dez dias em uma casa no Rio de Janeiro, onde produzimos algumas músicas e promovemos encontros com profissionais do mercado”, lembra. Inclusive, o evento deve ganhar uma segunda edição em breve.

Jovens que nunca sonharam ser cantores encontraram uma chance de mudar de vida. Enquanto o MHRAP é independente, o trio 7 Minutoz faz parte da ADA Music, da Warner Music.

Além do ganho financeiro, o que também mudou a trajetória dos artistas foi começar a fazer shows pelo país e ter contato com o público. “Às vezes, falávamos do Rock in Rio como se fala de Hollywood, algo bem fora da nossa realidade”, recorda Lucas. Inspirados em histórias da ficção, os jovens que saíram da internet transformaram suas realidades para conquistar os palcos –e os fones de ouvido– na vida real.

Mynd8

Published by Mynd8 under license from Billboard Media, LLC, a subsidiary of Penske Media Corporation.
Publicado pela Mynd8 sob licença da Billboard Media, LLC, uma subsidiária da Penske Media Corporation.
Todos os direitos reservados. By Zwei Arts.