Além de Ludmilla, 2024 já teve outros casos de intolerância religiosa na música pop
Claudia Leitte e Baby do Brasil também agiram na contramão da conciliação
“Só Jesus expulsa o tranca ruas das pessoas”. Ao exibir um cartaz com esta frase em sua apresentação no Coachella, Ludmilla foi acusada de intolerância religiosa. Em 2024, artistas como Claudia Leitte e Baby do Brasil expuseram mensagens ainda mais fortes de um Brasil com discursos cada vez mais nítidos contra as religiões de matriz africanas.
Essa imagem foi exibida no telão do show da Ludmilla no Coachella.
Além da frase preconceituosa, Ludmilla ainda colocou uma pessoa pisando em uma oferenda
INTOLERÂNCIA RELIGIOSA É CRIME!!! pic.twitter.com/gAGrJUqM8k
— Nossos Orixàs🕊 (@NossosOrixas) April 22, 2024
Ambos os casos foram registrados, curiosamente, no Carnaval — festa que, pela sua natureza edonista, é vista com ressalvas morais pelos religiosos mais conservadores, como os neopentecostais.
O caso mais emblemático foi o de Baby do Brasil, em um diálogo que trouxe à tona uma divisão gritante entre discursos durante a festa. Durante encontro de seu trio com o de Ivete Sangalo no Carnaval de Salvador. Os trios das duas cantoras se encontram no Circuito Barra/Ondina em Salvador na virada de sábado (10) para domingo (11), em fevereiro.
De um lado, Baby do Brasil começou a discursar sobre o fim do mundo, segundo sua visão religiosa. “Todos atentos pois não entramos em apocalipse. O arrebatamento tem tudo para acontecer entre cinco e 10 anos. Procurem o senhor enquanto é possível achá-lo”, disse Baby.
A Ivete Sangalo e a Baby do Brasil já proporcionaram o melhor momento do carnaval desse ano 🗣️ pic.twitter.com/gj0pwHZurS
— Tracklist (@tracklist) February 11, 2024
Já a cantora Claudia Leitte teve um vídeo de dez anos atrás recuperado durante o Carnaval. A cantora, que já declarou publicamente ser cristã neopentecostal, alterou os versos de “Caranguejo”, de “maré tá cheia / Espera esvaziar /Joga flores no mar / Saudando a rainha Iemanjá” Na regravação de 2014, para “só louvo meu rei Yeshua”. Yeshua é o equivalente hebraico para Jesus.
Cheia de Pomba gira nas costas, Claudia Leitte simplesmente mudou a letra da música para não saudar Yemanjá.
Alguém avisa esse mulher que batuques da música dela, são inspirados em Pontos da Candomblé, da umbanda e Cultura Afro… pic.twitter.com/tuP9ufhXgn
— Luizinho.4i20☭ 🍁 (@4i20Luizinho) February 14, 2024
A controvérsia de ambas as cantoras surgem em um contexto de avanço das denominações neopentencostais. Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revelou um surpreendente crescimento dos estabelecimentos religiosos no Brasil nos últimos 20 anos. Entre os 124.529 estabelecimentos existentes no país em 2021, 52% são evangélicos pentecostais ou neopentecostais, liderando o resultado, seguidos por 19% evangélicos tradicionais e 11% de católicos.