Em tempos de proliferação (e saturação) de festivais pelo país, o AFROPUNK Brasil se coloca numa posição que muita gente pode considerar arriscada: é realizado em Salvador, na Bahia, fora do eixo Rio-São Paulo, e mantém um line up que não se baseia em charts. A ideia por trás do festival é entregar não só “o que o povo quer”, mas também apresentar “o que o povo precisa conhecer”.
Com todos os ingressos vendidos, a edição de 2023 recebeu Victória Monet (que meses depois ganharia três Grammys com seu álbum “Jaguar II”), O Kannalha, Alcione, Ajuliacosta, IZA e muitos outros nomes consagrados e iniciantes, de procedências variadas. Em 2024, o AFROPUNK Brasil acontece nos dias 9 e 10 de novembro e reunirá nomes como Erykah Badu, Planet Hemp, Silvanno Salles e Fat Family, entre outros.
A produção do evento conta com uma equipe majoritariamente formada por mulheres negras. Além disso, viabiliza parcerias com companhias aéreas e de ônibus para que o público tenha descontos na compra de passagens. Ou seja, o AFROPUNK investe em ter sempre uma boa cartela de artistas, sem esquecer sua missão social.
“Somos um festival de música que tem um compromisso social. Reafirmamos isso, é a nossa identidade. Agora, é preciso que o mercado entenda que não é porque somos um evento realizado em Salvador e temos uma agenda clara, que não temos a capacidade ou os recursos necessários para produzir um festival. Somos uma marca global, realizamos um evento de entretenimento e temos que ser reconhecidas por isso”, explica Potyra Lavor, fundadora e CEO da IDW, produtora por trás da edição brasileira do festival.
O AFROPUNK nasceu em Nova York, nos Estados Unidos, em 2005, como um evento derivado do documentário “Afro-Punk: The ‘Rock n Roll Nigger’ Experience” (2003), de James Spooner e Matthew Morgan, que mostrava a cena punk negra pelos Estados Unidos. Ao completar dez anos de história, se expandiu para vários países, como Senegal, França, Reino Unido, África do Sul e, claro, o Brasil.
O evento chegou ao país em meio à pandemia do coronavírus. Adiada de 2020 para 2021, a primeira edição em Salvador reuniu nomes como Mano Brown, YOÚN, Margareth Menezes, Deekapz e Batekoo.
“O Afropunk veio para Salvador não só por se tratar da cidade com mais pessoas negras fora da África, mas também por potencializar o Brasil para além do Rio e de São Paulo”, conta Ana Amélia Nunes, sócia e diretora de conteúdo da IDW.
Próximos passos
Com três edições sold out, o festival se consolidou no cenário nacional. Tem muita gente que já deixa marcado na agenda que em novembro tem que separar um dinheiro para rumar à Bahia. Mas além da porta inicial de entrada no Brasil, a produção do festival já projeta o AFROPUNK Experience, uma versão menor do evento, começando por Belém, no Pará, em setembro.
“Vamos anunciar outro local ainda. Mas é sempre bom deixar claro que nosso espaço, onde nascemos e ao qual pertencemos, é Salvador. Sabemos que o Brasil é enorme, mas a cultura negra tem em Salvador um espaço de identificação único. E nós não abrimos mão disso”, finaliza Ana.