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Rodrigo Gorky: ‘A gente cansou de ser a referência do seu artista favorito’

Rodrigo Gorky: ‘A gente cansou de ser a referência do seu artista favorito’

Onde estão os produtores musicais LGBTQIA+ no mainstream?

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Rodrigo Gorky

“Em junho de 2007, lancei meu primeiro disco como integrante e produtor do finado Bonde do Rolê. Foi a primeira vez que me referi a mim mesmo como homem gay publicamente. Não era sobre estar no armário, mas o fato de ser homossexual nunca havia sido pauta para ninguém. O grupo, que era visto como ‘meio alternativo’, a partir de então virou “banda de viado”. A ‘novidade’ não abriu portas e, olhando para trás, talvez até tenha fechado algumas.

Desde que entendi que trabalhar com música era o que eu queria para a minha vida, batalho por direitos e reconhecimento. Iniciei minha carreira como empresário, além de produtor musical, com a Banda Uó, um marco no pop brasileiro ao ter uma mulher trans e dois homens gays levando sua mistura de sons e ritmos regionais para todo o país, em 2010.

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Logo depois, me encontrei pela primeira vez com a Pabllo [Vittar], em Uberlândia (MG). Desde a primeira música, trabalhamos juntos até hoje, e afirmo que tenho orgulho de ser seu produtor musical e empresário. Hoje, também trabalho com a Urias da mesma forma, e sou muito feliz por tudo o que fazemos.

Estamos em 2025 e comprovo todos os dias como a indústria musical ainda é muito difícil para artistas LGBTQIA+, o que traz um paradoxo curioso: vivemos em um país com uma das cenas musicais mundialmente mais ricas e vibrantes, repleta de artistas da comunidade ocupando espaços importantes no mainstream.

Procure em outros países e não será possível encontrar outro cenário no qual artistas LGBTQIA+ fecham grandes contratos publicitários, lotam arenas e recebem grande carinho e apoio de um público que abraça a diversidade em toda sua extensão. Isso é gigantesco!

Mas falemos de outro incômodo. Onde estão os produtores musicais LGBTQIA+ no cenário mainstream? Eles existem, entregam talento, persistência e uma curadoria musical única, mas não têm espaço para mostrar sua arte, e muitas vezes são preteridos até por seus pares, com pessoas que acabam sempre escolhendo produzir com outros produtores hétero que usam nossas referências. A reparação necessária é a abertura de portas e a criação de oportunidades reais para que a diversidade que a gente vê nos artistas também se reflita nos bastidores.

Parafraseando Urias em seu primeiro álbum, é preciso fazer o dobro para conseguir a metade do que muitos fora da nossa comunidade conseguem. Hoje isso é comum, mas não pode ser normalizado. Queremos mais pessoas tendo as mesmas oportunidades que artistas cisgênero e heterossexuais. Queremos que a Liniker com um Grammy em mãos não seja uma exceção. Queremos que nossas histórias de sejam contadas.

A história da música brasileira tem sido escrita, cada vez mais, pela nossa comunidade e isso é motivo de orgulho e só acontece por causa de muita luta. Seguimos aqui para que o futuro seja ainda mais justo, inclusivo e brilhante para todos nós. A luta é grande, mas tome nota: você nunca mais vai deixar de nos ver por aí. A gente cansou de ser a referência do seu artista favorito, agora o palco é nosso.”

[Esta entrevista foi publicada na 13ª edição da Billboard Brasil. Adquira sua revista aqui.]

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