Cinco anos sem Mr. Catra: família relembra legado do funkeiro
Artista morreu em 2018 em decorrência de um câncer
Mr. Catra deixou memórias inesquecíveis no funk. O artista, que morreu em 9 de setembro de 2018 em decorrência de um câncer, fez sucesso com seus proibidões e por ter uma família bem grande.
Ele teve 33 filhos e amava reuni-los no tempo livre entre um trabalho e outro. Em conversa com a Billboard Brasil, herdeiros do cantor relembram momentos marcantes e divertidos ao lado do pai e contam histórias inéditas do funkeiro.
Perrengue na praia
Em uma das viagens para Búzios, na Região dos Lagos do Rio de Janeiro, Catra passou um perrengue com os filhos mais velhos durante um passeio de lancha. Julia Domingues, produtora de 26 anos, conta que a família havia planejado almoçar em um restaurante numa das ilhas e o pai os incentivou a nadar até o cais.
“O mar estava muito agitado e a gente não ia conseguir chegar até o cais para poder desembarcar. Meu pai tinha uma fé muito forte e ele botava muito isso nas coisas rotineiras. Ele falou: ‘É pertinho, a gente consegue ir nadando’. Todo mundo foi na onda dele. Ele já tinha seus 40 e poucos anos, mas ele sempre se considerou jovem, andava com pessoal mais novo nos bailes. Ele era um garotão! Ninguém o via como um coroa. Ele estava todo, todo. Se jogou e começou a nadar”, relembra.
Catra foi o primeiro a chegar na praia, mas o dinheiro que estava no bolso ficou molhado. Depois do almoço, a família poderia alugar caiaques para voltar à lancha, mas o funkeiro não quis facilitar.
“Meu pai estava se achando o máximo. Ele cismou de voltar nadando e travou a coluna, ficou emperrado na água [risos]. A gente teve que ir embora, fazer massagem. Ficou com dor, tomou remédio. Ele era o maníaco do remédio, andava com um necessaire com tudo”.
Thamyris Domingues, empresária de 31 anos, relembra uma aposta feita com o pai, que era um flamenguista fanático.
“Eu era vascaína. Fomos em um jogo do Flamengo, em Nova Friburgo, um frio danado. Ele falou: ‘Se o Flamengo ganhar, você vai virar Flamengo. Se não, eu viro vascaíno’. Conclusão, eles ganharam e tive que trocar de time [risos].”
Questionadas sobre as lições de vida deixadas por Catra, Thamyris ressalta o bom coração do funkeiro:
“Ajudar o próximo. Ele era muito solícito. Ele amava as outras pessoas. Às vezes alguém passava a perna nele e ele falava: ‘Eu estou fazendo pelo meu coração’. Nossa casa vivia cheia”.
Raissa Real, cantora de 20 anos, reforça: “Meu pai falava: ‘se você plantar pimenta, você não vai colher morango’. A ideia é você plantar coisas boas, fazer o seu independente de as pessoas querendo te sacanear.”
Para Julia, o pai não poupava esforços para ajudar as pessoas ao seu redor, conhecidas dele ou não. “Eu nunca vi na vida uma pessoa com um coração igual do meu pai. Ele ajudava qualquer pessoa, amigo, familiar, filho, mulher, morador de rua, vendedor. Nunca mediu esforços para ajudar o próximo”, acrescenta a produtora.
“Ter humildade, saber entrar e sair de qualquer lugar, ter a nossa postura, saber se posicionar. Isso é algo que ninguém pode nos tirar da gente e é com certeza o maior ensinamento que eu posso levar dele”.
Matias Maxx, jornalista e fotógrafo, era um dos amigos do funkeiro. Os dois se conheceram no início dos anos 2000 e a parceria nasceu. O repórter costumava acompanhar Catra nas entrevistas, e relembra um momento engraçado ao lado do amigo e de um repórter da grande imprensa.
“A gente foi para um baile, um ritmo pesadão, geral armado, ouro, normal no Rio, né? O tal repórter ficou meio bolado, assustado. Obviamente não poderia fotografar e nem falar onde foi o baile. Só que o maluco escreveu onde era e o Catra ficou puto comigo. ‘Meu irmão, os malucos vão te matar’ [risos]. Essa revista nunca ia chegar na favela, ninguém lia. Se tivesse essa coisa de internet, poderia ter dado problema para o Catra”, conta.
Maxx não poupou elogios ao amigo:
“Ele era muito inteligente, culto, amigo. Eu sempre trabalhei muito com artista, e ele me mostrou que, porra, não precisa ser um ‘pela saco’ para ser uma estrela, como muitos são e fazem carreira sendo babacas. Ele era foda, firmeza para caralho. Fico triste de ter perdido os áudios que ele me mandava, tinham alguns muitos engraçados.”