Casos de Família: por onde andam os filhos de Mr. Catra?
Ícone do funk morreu em setembro de 2018, deixando legado na música e 33 filhos
Mr. Catra, um dos maiores nomes do funk brasileiro, morreu em 9 de setembro de 2018, deixando os fãs, a família e a indústria da música de luto. O artista era celebrado pelo carisma e pelo talento para popularizar os proibidões ao nível nacional.
O cantor também ficou conhecido pelo tamanho da família: entre biológicos e adotivos, foram 33 filhos e 3 mulheres (mas um só casamento, com a influenciadora Silvia Regina). Sua morte precoce, aos 49 anos, foi causada por um câncer de estômago.
Embora Catra (nome artístico de Wagner Domingues Costa) não esteja mais entre nós, o legado dele vive pela música e das lembranças daqueles que viviam com o artista. A Billboard Brasil foi atrás dos herdeiros de Catra para saber como está a família.
Família já não é tão unida quanto antes
Thamyris Domingues, empresária de 31 anos, explicou o motivo de o pai ter tido tantos filhos. Ela foi a responsável por lidar com os processos burocráticos após a morte do funkeiro.
“Ele era filho único, se sentia sozinho. Por isso tinha esse negócio de ter muitos filhos, ele gostava da casa cheia! Depois que ele começou a fazer sucesso, ficou um pouco mais difícil de a gente poder aproveitar com ele. Mas ele sempre tirava um final de semana por mês para estar com todo mundo, comigo e com meus irmãos”, afirma.
Apesar da intensa rotina de trabalho no funk, que chegava a cinco shows por noite, Julia Domingues, produtora de 26 anos, conta que o pai se esforçava para ser presente, e lembra os programas preferidos do funkeiro: ir ao shopping, churrascaria e outros restaurantes do Rio.
“Ele fazia shows à noite, chegava do baile, descansava um pouquinho e tirava um tempo para ficar com a família”
Catra deixou sua arte como herança
Thamyris conta que o inventário do pai ficou intocado por anos até que ela reuniu os irmãos mais velhos e habilitou todos no processo. São 22 filhos registrados. Os direitos autorais das músicas lançadas e inéditas do artista estão sob responsabilidade da família. A herança deixada por ele foi sua arte.
Em breve, novos projetos de Catra, incluindo um documentário e uma organização sem fins lucrativos no Rio serão lançados. Questionada sobre usar a inteligência artificial com a imagem e voz do pai, a filha do cantor diz que a família cogita a tecnologia.
“Conversamos com uma empresa que faz avatar, mas não andou muito para frente. É uma forma de eternizar o meu pai. Ele tinha muitas músicas que não foram lançadas. É um ícone do funk, não podemos deixar se apagar assim. Agora com a tecnologia a gente pode dar continuidade.”
Os 33 filhos se dividem entre cidades como Rio, São Paulo e Florianópolis. A família tem muitos estudantes, atores, cantores, empresários, produtores e modelos.
Grupo de WhatsApp concorrido
O contato entre os irmãos é constante e o grupo no WhatsApp, com os 22 filhos registrados pelo funkeiro, chega a ter mil mensagens por dia. “É uma coisa de louco, mas ninguém sai do grupo [risos]”, conta Thamyris.
Como toda família, as brigas acontecem. “Às vezes é coisa boba, uma ‘implicanciazinha’, mas a gente sempre se deu muito bem. A gente sempre se amou e gostou de estar próximo um do outro, de confraternizar, de ter momentos juntos. A gente cresceu assim”, diz Julia.
Para ela, a convivência mudou um pouco após a morte do pai.
“Quando encontro meus irmãos, principalmente os que eu não vejo há muito tempo, às vezes me emociono. Vêm muitas lembranças de quando o meu pai estava aqui. Depois, parece que cada um meio que seguiu o seu rumo, ele era o elo de tudo. A gente continua se falando, só não é mais aquele vínculo, aquela convivência de todo final de semana, de todo dia, das férias.”
Talento no DNA
A maioria dos irmãos maiores de idade seguiu os passos do pai, entre atores, cantores, rappers e produtores. Raissa Real, de 20 anos, é uma delas. A cantora busca inspiração no legado de Catra para construir o seu.
O funkeiro era famoso pelas letras proibidonas sobre sexo. A jovem busca um caminho de empoderamento feminino e também abordando a sensualidade. Em sua primeira música, “O Trem”, ela canta:
“Tu gosta de ligar de madrugada
Foder sem hora marcada
Sem hora marcada
recalcada fala mal
Sinceridade eu não ligo
Isso tudo é inveja
Gasto dinheiro digital
Muito gata eu não dou papo pra comédia”
“Quero passar minha arte para as pessoas. Comecei fazendo shows com músicas dos outros, inclusive do meu pai. Fui vendo as possibilidades. Isso foi alimentando meu sonho de ser artista, representar o nome dele e criar a minha história”, diz Raissa.
Raissa lançou em junho o single “Melhor Forma S.A.”, com uma pegada mais ostentação cantando sobre dinheiro e luxo.
“Meu pai abriu muitas portas para mim. As pessoas que eu conheço tiveram histórias com ele, e isso ajuda meu trampo. Mas também faz com que as pessoas criem muitas expectativas. ‘Filha de peixe, peixinho é’. Me sinto pressionada. Poucas pessoas sabem lidar com isso de uma forma tranquila”, explica.
E ela continua:
“Tem uns que falam: ‘Seu pai cantou isso, você tem que cantar isso’. Meu pai teve a história dele e eu estou aqui para levar o legado dele, mas criar a minha história também. Não quero ficar sempre à sombra dele. Tenho orgulho de ser filha dele. Não é ego, mas é saber se impor e representar cada coisa. As pessoas é que misturam muito.”
Persistência após golpe
Com mais de 230 mil seguidores, Luck Muzik é um dos destaques do trap atualmente. O artista de 28 anos fez parcerias com Anitta, Pocah, Biel do Furduncinho e Gloria Groove. O trabalho mais popular é “360”, com MC Mirella, Rennan da Penha e Juninho FSF, com mais de 14 milhões de streams só no Spotify.
“Isso é prova de que o meu trabalho realmente tem um grande valor. Não só pelo fato de ter gravado com esses artistas, mas por alcançar o grande público, sabe?”, avalia o rapaz.
Luck colhe os frutos do trabalho duro para se recuperar do golpe que levou de um ex-produtor. Em 2021, o rapper enfrentou a depressão após perder tudo.
“Ele era um amigo. Ele me fez perder todos os meus bens, meu dinheiro, tudo. Isso me trouxe uma pressão mental e depressão. O que mais deu força para superar foi a minha persistência mesmo e Deus. Nunca ter perdido a fé. A gente passa por esses momentos para realmente dar valor às coisas”, explica.
O artista segue na luta e já recuperou a estabilidade financeira parcialmente. A fé inabalável foi algo ensinado pelo pai.
No início dos anos 2010, Catra viajou para Israel, onde conheceu a cultura monoteísta – que crê em um só deus. Ele se autodeclarava hebreu e aprendeu a falar hebraico. Em 2011, lançou “Jerusalém” em parceria com MC Sapinho. O artista proibiu o Natal em casa, mas também não seguia as tradições ou festas judaicas.
Futuro na TV e no cinema
Pedro Dias Domingues, de 10 anos, preferiu outra área artística. O menino atuou no curta-metragem “Alforria Social Beat”, dirigido por Rodjéli Nyack Ra, e na série “Não Foi Culpa Minha”, da Star+.
Com quase 30 mil seguidores, Pedro também é influenciador digital e já faz até postagens de publicidade no perfil do Instagram. Fã de “Lilo & Stitch”, o sonho dele é viajar para a Disney e atuar em um filme de super-herói.
O jovem mora com a mãe, Juliane Dias, em São Paulo, onde faz curso de teatro em um centro cultural. “Ele fazia show e viajava para muitos lugares. Eu achava divertido e queria fazer isso também. Preferi ser ator porque dá para fazer mais coisas, me sinto livre”, diz Pedro.
“Sei que meu pai foi um grande cantor, gosto das músicas dele”, acrescenta. A mãe faz questão de ressaltar que as canções de Catra apresentadas para o filho são as mais lights. Pedro ainda é fã do rapper Hungria e de Ana Castela.
Samuel Domingues, mais conhecido como MC Kalyba, foi outro que optou pela música. Desde criança, o cantor de agora 21 anos acompanhava o pai em gravações em estúdios e shows.
“É uma honra para mim. Não é só o Mr. Catra que estamos falando, é do Wagner Domingues, meu pai. Um homem de fé que sabia onde queria chegar”, elogia. Com a Furacão 2000, o MC lançou o single “Fé Inabalável”, que homenageia o funkeiro e a família.
“Eu agradeço todo dia por ter tido ele como pai. Meu objetivo é incentivar a rapaziada viver de música, viver bem com a família. Nas minhas músicas, eu passo vivência, um papo reto.”