Primavera Sound Barcelona 2025 traz poder feminino, Palestina e diversidade
Sabrina Carpenter, Chappell Roan e Charli XCX foram alguns dos destaques
A 23ª edição do Primavera Sound Barcelona trouxe três grandes nomes do pop como headliners: Charli XCX, Sabrina Carpenter e Chappell Roan. O trio foi carinhosamente apelidado pelos fãs de “As Meninas Superpoderosas”, em uma referência ao desenho animado do fim dos anos 90 que ganhou ainda mais força logo na entrada do festival, onde uma enorme estátua das personagens dava as boas-vindas ao público que lotou o Parc del Fòrum entre 5 e 7 de junho.
Com ingressos esgotados e público recorde estimado em 293 mil pessoas, o Primavera Sound reforçou seu status como um dos mais influentes festivais da Europa em edição que colocou artistas mulheres em destaque e foi marcada pela diversidade, a representatividade e o empoderamento.
Distribuídos em 14 palcos, o festival apresentou mais de 220 shows em uma experiência musical intensa e plural. Além das headliners que levaram multidões aos palcos principais — da atitude “BRAT” irreverente de Charli XCX à estética teatral de Chappell Roan e o pop retrô de Sabrina Carpenter —, o line-up contou ainda com performances de peso como FKA Twigs, Jamie XX, IDLES, HAIM, Beach House, Fontaines D.C., LCD Soundsystem, entre outros.
O Brasil também marcou presença na programação com representantes da cena eletrônica, como DJ Caio Prince, MIMOSA e RHR, que levaram batidas do funk e experimentações sonoras ao festival.
Trio Pop Superpoderoso
O primeiro dia do festival foi tomado por uma explosão de energia, sensualidade e euforia pop com a mais do que aguardada apresentação conjunta de Charli XCX e Troye Sivan, que trouxeram ao festival o clima dançante da turnê SWEAT Tour em sua única apresentação na Europa. O duo entregou uma performance intensa e sensual, transformando o espaço em uma grande pista de dança ao ar livre.
O show manteve a essência do setlist da turnê americana, mas ganhou uma surpresa especial com a comemoração do aniversário de 30 anos de Troye. “É o meu aniversário, amo vocês, por favor, venham celebrar com a gente essa noite no Primavera”, escreveu o artista australiano em seu perfil no Instagram horas antes. Troye, que já tinha se apresentado no festival em 2024, cantou seus maiores hits, incluindo “Rush”, “Honey”, “My My My!” e “One of Your Girls”, acompanhada de gritos ensurdecedores do público.
Charli XCX, por sua vez, entregou tudo o que seus fãs esperavam – e mais. Já no começo do show, a bandeira verde fluorescente que marcou o álbum BRAT estava no palco, dando o tom do que viria a seguir. No setlist, estavam músicas como “360”, “Guess” e “Girl, so confusing”. Charli provocou a plateia e desejou várias vezes “Happy Birthday” (Feliz Aniversário) para Troye. O carinho entre os dois artistas era visível e reforçava a sensação de que o público assistia a uma verdadeira celebração entre amigos, não apenas a um show.
Um dos pontos altos da noite foi quando a cantora Chappell Roan apareceu no telão dançando a coreografia viral de “Apple”, arrancando gritos de surpresa do público. Charli e Troye incendiaram o palco ao cantar juntos o hit “1999” e o derradeiro “Talk, Talk”, coroando uma noite que elevou expectativas para os próximos dias do festival.
Sabrina Carpenter
Sabrina Carpenter era uma das atrações mais aguardadas da noite da sexta (6) e sua estreia em palcos espanhóis não decepcionou. Em um espetáculo envolvente e visualmente impecável, a cantora norte-americana trouxe tudo em um show inspirado pela estética dos anos 80 e coreografias bem marcadas.
Com seu carisma natural e uma presença de palco extremamente magnética, Sabrina levou o público ao delírio ao cantar sucessos como “Espresso”, “Please Please Please”, “Feather” e “Busy Woman”. Um dos momentos mais especiais da noite foi quando a cantora apresentou pela primeira vez ao vivo a música “Manchild”, lançada oficialmente no dia anterior.
Sempre muito próxima do público, Sabrina fez questão de tentar interagir com os fãs em espanhol, declarando um afetuoso “Te amo” para a multidão. Sua apresentação no Primavera Sound não apenas marcou sua estreia na Espanha, como também consolidou seu lugar entre as grandes estrelas do pop atual.
Chappell Roan
Um dos shows mais esperados deste sábado (7), última noite do festival, foi o da norte-americana Chappell Roan. Desde as primeiras horas da tarde, o público mostrava por quê estava lá. Por todo Parc del Fòrum, era possível ver uma multidão de fãs usando chapéus de cowboy rosa, maquiagens marcantes, glitter e looks em tons de pink – tudo em resposta ao pedido da própria Chappell, feito nas redes sociais. A plateia estava pronta para entrar no universo dela. E ela entregou.
O palco, transformado em um castelo medieval, servia como cenário para uma narrativa surrealista em que Chappell passeava por pontes, subia em torres, abria portões e interagia com o cenário como se estivesse em uma espécie de musical alternativo. O repertório contou com hits como “Red Wine Supernova”, “Femininomenon”, “Hot to Go”, em que a cantora ensinou e puxou a tão famosa dancinha com as mãos, “Red Wine Supernova”, além de “Good Luck Babe”, encerrando com seu sucesso “Pink Pony Club”. Com uma performance intensa, cenários impecáveis e setlist de sucessos, Chappell mostrou porque é headliner de boa parte dos festivais europeus neste verão.
Ode à Palestina
Em um dos momentos politicamente intensos do Primavera Sound Barcelona 2025, a banda britânica IDLES transformou seu show em uma verdadeira ode à Palestina. Liderados pelo vocalista Joe Talbot, o grupo entregou uma apresentação visceral, enérgica e emocional, marcada por gritos de solidariedade que reverberaram entre o público.
Talbot, vestindo uma camiseta com a estampa de melancia – que passou a ser usada como símbolo de apoio e solidariedade à causa palestina — e a frase “You’ll Never Walk Alone” (“Você nunca andará sozinho”, em inglês) nas costas, inflamou a multidão com seu discurso direto. A cada grito de “Free Palestine” (“Palestina Livre”), o público respondia em coro.
Entre rodas punk, crowd surfing e riffs frenéticos, a banda percorreu sucessos dos álbuns “Joy as an Act of Resistance” e o mais recente TANGK. Um dos momentos de protesto veio com a introdução de “Danny Nedelko”, que antes de começar, Talbot discursou: “Essa música é uma celebração da coragem e do trabalho duro dos imigrantes que construíram nosso país. É também uma celebração dos imigrantes que construíram o seu país. Esta música é dedicada ao povo da Palestina. É lindo estar cercado por pessoas que parecem estar do lado certo da história.”
Fontaines D.C. levou ao Primavera um show eletrizante, embalando sucessos como “Favourite”, “Starbuster”, “Boys in the better land”. A banda teve de cancelar sua participação no Lollapalooza Brasil, pois seu vocalista, Grian Chatten, estava doente.
Em Barcelona, o quinteto irlandês transformou o festival também em espaço de luta política e dedicou seu show à Palestina. O coração da capa do álbum “Romance” ganhou a bandeira da Palestina de fundo durante o show, além do telão estar escrito Free Palestine — mensagem ecoada pela plateia e banda ao longo do show.
O próprio Primavera ofereceu um espaço interativo dedicado à Palestina, chamado “Unsilence Gaza”, que consistia em um corredor com experiência auditiva e mural informativo, permitindo que o público se engajasse com a causa de forma educativa.
Da nostalgia à nova geração
Com representatividade feminina em destaque, os palcos do Parc del Fòrum foram tomados por diferentes gerações de grandes artistas. FKA Twigs trouxe uma performance teatral, misturando dança, arte visual e muita música. Beabadoobee representou a nova leva de cantoras com um show sensível e cativante.
As bandas com vocais femininos também estiveram presentes. As irmãs HAIM trouxeram toda sua energia e animação californiana com um set recheado de hits e interações carismáticas com a plateia. Já o grupo Beach House levou o público em um passeio intimista com sua sonoridade etérea. A banda Wolf Alice, comandado pela vocalista Ellie Rowsell, apostou em um rock animado.
Entre os grandes nomes do line up, LCD Soundsystem foi responsável por um dos shows mais aguardados da edição, fechando a noite no palco Revolut. Com sua mistura explosiva de rock, disco e eletrônico, a banda comandada por James Murphy fez o público dançar com clássicos como “Someone Great”, “Dance Yrself Clean”, além de “All My Friends” transformando o palco em uma grande pista nostálgica e animada.
Funk e cena eletrônica brasileira em terras internacionais
O funk e a música eletrônica brasileira contaram com três representantes de peso no festival, os DJs Caio Prince, MIMOSA e RHR.
Caio Prince colocou o público catalão para dançar com músicas como “Botano (Útero Baixo)” como se estivesse em um baile funk no Brasil. O trio MIMOSA trouxe uma mistura de funk com brasilidades eletrônicas com uma performance sensual e animada do Cabezadenego.
Já o DJ e produtor paulista, RHR tocou na última noite do palco Plenitude by Nitsa, entregando um set explosivo durante duas horas de performance, levando o público à euforia e criando uma atmosfera vibrante e pulsante do início ao fim. Ao final, saiu ovacionado pela plateia, mostrando que a música brasileira tem muito espaço nos festivais internacionais.