Por quê os artistas latinos, que ditam rumos na música pop, não estão no Grammy?
Ludmilla Correia, pesquisadora do gênero na Billboard Brasil, explica
No Grammy de 2023, o ato de abertura ficou a cargo de Bad Bunny. O artista porto-riquenho é um dos maiores fenônemos da música mundial e, não bastasse sua discografia milionária em vendas, é um dos maiores influenciadores da indústria. Seja pelo estilo imagético que conduz suas redes sociais ou pelo próprio estilo musical que reinventa a cada lançamento: reina e dita rumos, assim como o “gênero” latino que comanda. Pois o convite da academia ao artista para o palco da maior premiação da indústria musical foi ofuscada por um momento específico que é uma das respostas para a pergunta do título. Nenhum dos pesos pesados latinos da indústria estão nas categorias mais importantes da noite. O Grammy tem cerimômonia marcada para este domingo (4), a partir das 21h30.
“A premiação já tem um certo histórico de farpas. No momento em que ele cantava ‘El Apagon’, a transmissão da CBS não exibiu legendas, mas uma mensagem ‘signing in non-English’ [cantando em língua que-não-a-nossa, em tradução livre]. Cara, qual seria o trabalho de legendar o homem? E ele é um dos maiores astros da indústria e cantando em espanhol. O máximo que ele faz com a língua inglesa são brincadeiras pontuais em alguns versos. Mas muito diferente de como fazem Karol G e J Balvin. Ele bate na tecla de que não vai cantar em inglês para ser aceito” introduz Ludmilla Correia, pesquisadora do perreo, cumbiatón e reggaeton e, também, repórter aqui na Billboard Brasil.
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— Ms. Andry Noir, PhD (@keatingssixth) February 6, 2023
A repercussão do fato foi relevante. Mas a estatura da resposta é um tanto histórica: o artista, nos dias subsequentes à apresentação, já estava na publicação norte-americana “Vanity Fair” dizendo que o que aconteceu tinha sido obviamente “uma merda” e que “seria feio [por parte da academia] admitir que foi algo normal”. Basicamente, um dos maiores vendedores de música da indústria estava forçando o Grammy a declarar-se como culpada e, mais adiante, responsável por um ato que resume as relações na indústria: essa contra-ofensiva para com o avanço de novas tecnologias e materiais de uma identidade que parece surgir atropelando o mercado cuja premiação nasceu para certificar o impacto cultural de uma indústria musical específica: a norte-americana.
E a música desse gênero rolutado “latino” é lucrativa: em 2022, ultrapassou US$ 1 bilhão em vendas pela primeira vez; em 2023, oito músicas do gênero chegaram ao número um no Spotify, 90 entraram no Billboard Hot 100 e “Un Verano Sin Ti”, de Bad Bunny, foi o álbum do ano, mesmo tendo sido lançado em 2022.
No primeiro semestre de 2023, o gênero já era 7,5% do mercado americano. “¿Quién dijo que no, que no puedo? Yo hago lo que me dé la gana!”, como diria Bad Bunny em “EL MUNDO ES MÍO”.
Isso foi pouco. Para o Grammy, foi pouco. Em 2024, apremiação não considerou o ano de 2023 como suficiente para que Peso Pluma, Rauw Alejandro, Karol G ou Bad Bunny estivessem pelando por prêmios nas categorias mais importantes da noite mais importe da música norte-americana, aquela que se comportante de forma extremamente protecionista, como faz em todos as esferas em que atua.
“Quem estuda o gênero, os mais otimistas, acreditava que o ano de 2023 ia ser impossível de ser ignorado. É impossível não falar do Peso Pluma e, mais do que isso, é impossível não falar de todos esses movimentos latinos no mercado. Ele [o Peso Pluma] é um gênio: ele transformou o gênero conhecido como regional mexicano e o transformou em um fenômeno mundial no mercado da música pop. O Grupo Frontera tem uma parceria com o Bad Bunny, “UN X100TO”, tem mais de 600 milhões de visualizações e conquistou uma versão em português na voz de Anitta e Menos É Mais, ainda não lançada”, aprofunda Ludmilla.
A jornalista também chama a atenção para o fenômeno Karol G. “Ela bateu de frente com Beyoncé e Taylor Swift no mercado. Uma das turnês mais lucrativas do ano passado e esgotou três dias no estádio Santiago Bernabeu, na Espanha. É histórico!”, finaliza.
O Grammy não acha. Mas, ao que parece, la cuenta vai chegar.