Pague um, leve dois. Carnaval estreia com dose dupla de Ney Matogrosso
O cantor foi uma das atrações da festa realizada ontem no Marco Zero da cidade

O manual do bom jornalismo professa que o tom pessoal em reportagens e resenhas deve ser usado somente em casos muito especiais. E Ney Matogrosso, que se apresentou nessa quinta-feira (dia 27) na abertura do Carnaval do Recife sempre será um desses momentos.
Eu tinha quinze anos quando foi levado pelos meus pais para assistir a uma performance desse senhor de 83 anos que desafia as leis da idade. Eram tempos da ditadura e a performance de Ney era proibida para menos de dezoito anos. A solução então foi me levar escondido no porta-mala do carro e esperar pelo início da apresentação. Consegui chegar a tempo de vê-lo entrar com penas, plumas e paetês e iniciar seu show com “Metamorfose Ambulante”, de Raul Seixas.
Senhor do palco, Ney faz shows intensos, com um repertório estrategicamente escolhido e a melhor banda que puder ter em suas mãos. Foi assim em 1982, E foi assim no Marco Zero, em Recife. A performance faz parte da turnê do álbum “Bloco na Rua”, na qual ele vai de Rita Lee a Chico Buarque, de Secos & Molhados a Raul Seixas, de Paralamas do Sucesso a autores como Ednardo e Sérgio Sampaio –cuja canção, “Eu Quero é Botar Meu Bloco na Rua”, dá nome ao show.
É extremamente complicado trazer um repertório que trafega entre a agitação do rock e momentos introspectivos para uma plateia que está na folia. Mas Ney tem carisma e talento de sobra. Um rebolado mais ousado aqui, um agudo mais bem colocado acolá e temos uma multidão enfeitiçada pela performance do cantor. O menino de 15 anos e o adulto de 50 e poucos saíram extasiados.
Ah, o título? Ele nasceu de um comentário da assessoria de imprensa da prefeitura. Porque Ney mandou o show praticamente inteiro durante a passagem de som, na hora do almoço, e repetiu a dose à noite.
E DÁ-LHE CARNAVAL
Ney Matogrosso foi uma das atrações de uma noite na qual se destacaram ainda o espetáculo Tumaraca, que reuniu no palco 13 nações de maracatu de baque virado e homenageou o percussionista Naná Vasconcelos (1944-2016). Um dos convidados do espetáculo foi o cantor e compositor paraibano Chico César que cantou, entre outros números, uma versão do sucesso “Mama África” carregado de percussão. “Estar com essas nações é uma forma de nos alimentarmos de energia e força. E como retribuímos isso? Cantando! Estou aqui para celebrar as entidades afro-indígenas, porque o maracatu é também um espaço de aquilombamento, unindo os negros trazidos da África aos povos indígenas que já habitavam este lugar. Cantar e recitar minha loa neste Encontro das Nações, no coração do Marco Zero, é uma forma de iluminar os corações e manter essa tradição viva”, disse ele.
Em entrevista no início das festividades, o prefeito João Campos ressaltou a importância da homenagem a Elba Ramalho (que, aliás, fez uma participação cantando “Frevo Mulher”, de Zé Ramalho) e reforçou a importância do Carnaval da cidade. “Hoje, começou o maior carnaval do Brasil, que tem cultura, movimentação excessiva na economia e na geração de empregos”, declarou.
O encerramento da noite se deu com a apresentação da cantora brega Rapha Santos.
Hoje estão programados no Marco Zero apresentações de: