Você está lendo
Fora do The Town, vendedores viram DJs: ‘A galera entra no clima’

Fora do The Town, vendedores viram DJs: ‘A galera entra no clima’

Do tech-house ao solinho do trompete, vendedores também fazem som pra pista

Avatar de Yuri da BS
dj lacerda

Em um espaço para carga e descarga provisoriamente voltado para a arte do comércio e mixologia (a famosa garagem que virou bar improvisado), um tech-house espancava o passeio dos recém-chegados aos arredores quentes e abafados do Autódromo de Interlagos, nesta quinta-feira (7), terceiro dia de The Town. De boné e óculos escuro na testa, um rapaz grita: “olha, galera! Vem comigo nesse drop!”. Sem controladoras ou CDJ, Bruno Lacerda pilotava a venda de bebidas em sua casa e usava os “drops” (momento em que a música faz sua guinada rumo à explosão do grave) para chamar o front de consumidores da Rua Plínio Schmidt.

Bruno, ou melhor, DJ Lacerda toca há quatro anos e seu set (“eu fiz uma playlist no You Tube Premium”) circulava em vibe muito mais próxima de Afterclapp, Shigara e Xaxim (trio que abriu o palco New Dance Order) do que de Maria Rita e Ludmilla (primeiras atrações dos palcos Skyline e The One, respectivamente). “Tech-house, VonStroke… Ah, a galera curte também, né, meu irmão? A galera entra no clima”, explica citando o norte-americano Claude VonStroke, que assina o hit tech-house “Jolean”.

VEJA TAMBÉM
The Town (divulgação)

Em um local mais deserto da Avenida Jacinto Júlio, quatro amigos rebolavam e zoavam embalados pelo solinho mais cativante do ano, de “Toca O Trompete”, de Felipe Amorim. Genro da dona do bar Onera, o responsável pelo set (tocado em uma caixona Bluetooth ao lado de um churrasqueiro dançarino) era o DJ e também entregador Guilherme Sanchez. “Às vezes a gente gosta da música, mas a galera que tá ali na pista não entra no feeling”, disse conceituando sua narrativa musical em meio a um tom jocoso, como se estivesse em uma coletiva de imprensa. “Eu e minha equipe (risos), certo? Porque eu não faço nada sozinho! Tenho que agradecer a eles. Set maneiro, só chegar e curtir”, brinca enquanto a playlist torava o piseiro-trap de “Halls Na Língua”, de Kadu Viana.

O line-up também incluí profissionais realmente acostumados com entrevistas. “Ahhhh! Eu toco há mais de 30 anos! Não parece mais eu tenho 50 anos, já!. DJ Sandrinho (ou “o primeiro que aparece no Instagram! Moreno, bonito”, como ele mesmo conta) desfilava elegantemente um hit do house-disco francês na porta da Padaria e Restaurante Vila do Satélite. “Eu sigo a minha linha. Eu toco house. Mas, na verdade, toco as atrações do dia também. No dia do Bruno Mars eu toquei Bruno Mars, a galera toda parou, veio pra cá”, explica a curadoria.

Dançando e cantando uma música do grupo Haikaiss, Kauê é quem comandava o som do bar “O Bar”, não se importando muito com o fato de os artistas não estarem no line-up do festival. “Mano, Haikaiss, eu escuto direto e, pra mim, que quero trabalhar com música no futuro, é uma parada que eu escuto direito. Eles são uma influência”, diz entre o tímido e o tiete, mostrando uma foto (“pra não falar que tô mentindo”) com Pedro Qualy, integrante do grupo paulistano.

A atração revelação ficou por conta de Juliana Diniz, 16 anos, que sustentava um Kendrick Lamar na porta da padaria de seus pais, a Le Baquette. “Coloquei tudo o que eu gosto e também pesquisei uma playlist”, conceitua. “Mas eu gosto de funk”, diz, acrescentando “mandelão”, provando que manja — apesar de não poder ir aos bailes porque sua mãe não deixa.

Mynd8

Published by Mynd8 under license from Billboard Media, LLC, a subsidiary of Penske Media Corporation.
Publicado pela Mynd8 sob licença da Billboard Media, LLC, uma subsidiária da Penske Media Corporation.
Todos os direitos reservados. By Zwei Arts.