OPINIÃO: em meio a escassez de headliners, reunião do Oasis é ótima notícia
Banda de Liam e Noel Gallagher anunciou reunião após 15 anos
Antes de mais nada, é bom deixar claro para você, que está lendo este texto, uma coisa importante. Aqui quem fala é uma fã de Oasis. Mas muito fã mesmo, daquelas que estão vibrando com a notícia de que Liam e Noel Gallagher se reunirão pela primeira vez, anunciada nesta terça-feira, véspera dos 15 anos do fim da banda. Mas juro que vou tentar, da maneira mais imparcial possível, enumerar os motivos pelos quais isso é uma ótima notícia até para quem não é mad fer it.
O Oasis foi uma das últimas grandes bandas de rock daquelas chamadas de arena, capazes de lotar estádios e arrebanhar um séquito apaixonado mundo afora. Grande expoente do chamado britpop, cena que revelou outros nomes como Blur, Pulp, Suede, entre outros, a banda dos irmãos Gallagher vendeu 75 milhões de álbuns no mundo todo e seu fandom sempre esteve ali, presente e devotado.
Como eu sei disso? Basta ver as plateias dos shows solo de Noel (com seu ótimo projeto High Flying Birds) ou de Liam, primeiramente com a simpática (e só) banda Beady Eye, e depois em uma bem sucedida carreira solo. Os momentos em que os dois se dedicavam a cantar músicas da antiga da banda, desde as mais manjadas, como “Wonderwall” e “Don’t Look Back in Anger”, a lados b, como “Half the World Away”, sempre foram catárticos, daqueles que emocionam só de ver no YouTube. É impossível ficar impassível diante de um coro tão apaixonado.
Além disso, nos 15 anos que separam o momento em que Liam quebrou uma Gibson Les Paul do irmão mais velho, que então decidiu pôr fim a uma história que vinha cada vez mais sendo marcadas por brigas, muita coisa aconteceu. Sem ter o irmão mais velho e, em tese, mais talentoso, para se escorar no palco, Liam melhorou e muito suas performances ao vivo.
Não, ele não resolveu correr de um lado para o outro no palco. Isso jamais seria do feitio dele. Mas mesmo com as mãos para trás e corpo curvado na direção do microfone, Liam empresta muito mais poder e ainda mais atitude aos seus vocais –que, a despeito de uma vida de excessos, só melhoram –aos 51 anos.
Já Noel, que (infelizmente) andou falando umas groselhas na pandemia, experimentou uma “volta ao básico”, deixando a fama de arrogante de lado ao se apresentar como atração de abertura para shows de bandas como o U2 –”Eu já enchi muito estádio, vivi isso tudo antes. Não conseguiria fazer a mesma coisa a vida inteira, seria entediante”, me disse ele, numa entrevista em 2017. Na última década e meia, o Gallagher mais velho teve tempo de lançar discos com composições memoráveis (ele sempre foi muito bom nisso) e até se aventurar pela música eletrônica (fase que não durou muito, ainda bem).
Muita coisa aconteceu no mundo desde que o Oasis se apresentou pela última vez, na turnê do mediano “Dig Out Your Soul” (2008). Guerras, ascensão da extrema direita, um Brexit por lá, um impeachment aqui… Em 2009, o Spotify ainda não bombava, o YouTube não havia se tornado berço das teorias da conspiração mais estapafúrdias, e os artistas ainda se dignavam a dar entrevistas em vez de só se comunicarem com os fãs pelas redes sociais.
Desde 2009, vimos rarear a oferta de outras bandas de arena, como o Oasis, e grandes festivais voltados para o rock e a música alternativas passaram a ter cada vez menos opções de headliners –no momento em que escrevo este texto, é dado como praticamente certo o cancelamento das edições latino-americanas do Primavera Sound justamente por falta de quem encabece o pôster.
A volta de uma atração desse porte aos holofotes –com todo o frenesi que ela é capaz de gerar– promete dar uma movimentada ao combalido mercado da música. Aos fãs –e até para quem não liga tanto assim– essa é uma notícia a se comemorar, numa bela manhã de glória.