Agora oitentão, Marcos Valle virou ‘sex symbol’ nos 1980s e, agora, bomba no TikTok
'Estrelar' virou hino boogie em época de aumento colossal de academias no Brasil
Em 1983, Marcos Valle, que completa 80 anos nesta quinta-feira (14), lançava um álbum homônimo que, além de uma capa com uma fotografia bem ao estilo “bar e lanches”, continha “Estrelar”, um hino hedonista boogie, uma ode à geração saúde.
Praieiro desde a bossa nova, Valle incentiva “Tem que correr, tem que suar, tem que malhar (Vamos lá!)/ Musculação, respiração, ar no pulmão (Vamos lá)” em letra composta por ele com Paulo César Valle, seu irmão, e música em parceria com Leon Ware, lenda do soul americano.
Depois de uma temporada gravando o álbum em Los Angeles (os arranjos e a produção são assinados pelo mestre do boogie brasileiro Lincoln Olivetti), Valle retornou ao Rio de Janeiro para gravar o clipe da canção que o tornaria um símbolo sexual, ou como ele prefere dizer, um Xuxo (versão masculina da apresentadora infantil, também loira e dos olhos azuis).
O disco e o hit “Estrelar” são um marco estético de uma explosão hedonista no Brasil, com academias surgindo como uma grande opção para uma vida saudável.
Em entrevista a Ricardo Scott, do Pop Fantasma, Valle relembrou a loucura que o hit trouxe para a sua carreira e para a forma como o público passou a ver compositor: “(…) Eu virei um, digamos, sex symbol. Isso atingiu as idades todas, eu virei meio o Xuxo [risos], porque os pais vinham e traziam os filhos, uns garotos de seis anos, e o garoto: ‘Eu adoro você’. Era criança, pai, avó, todo mundo me agradecendo por causa disso, de exercícios. Isso eu ouvi muito! Eram pessoas que tinham me conhecido naquele momento, porque eu tinha passado cinco anos fora do Brasil. Então eu tô ali com uma roupa meio esportiva, com umas meninas fazendo ginástica… Apareceu gente perguntando se eu não podia fazer um vídeo de ginástica, ou dar uma aula. E eu: “Pô, mas eu não sou professor!”. Apareceu até gente querendo botar dinheiro para eu abrir uma academia”, conta.
Hit nos 80s, hit no Tik Tok
Símbolo de uma transição do movimento Black Rio para o que se convencionou chamar de boogie brasileiro, “Estrelar” tinha um grande time ao seu redor nas rádios e bailes. Em 1983, Sandra Sá estava lançando “Vale Tudo”, “Trem da Central” e “Guarde Minha Voz”, três músicas campeãs nos algoritmos das plataformas de streaming.
Um ano antes, Tim Maia lançaria “Descobridor dos Sete Mares”, canção que dava nome ao álbum que também trazia a emblemática “Me Dê Motivos”. E, em 1982, dois anos antes, o produtor de Valle em “Estrelar”, Lincoln Olivetti lançaria, com seu parceiro Robson Jorge, um dos maiores clássicos dessa era, o álbum “Robson Jorge & Lincoln Olivetti”, com o hino “Aleluia”.
Além de ser um clássico da festas brasileiras (e de qualquer DJ desesperado em fazer a pista bombar) “Estrelar” conta com elementos tão marcantes que a fizeram atravessar as décadas sem soar datada. O arranjo de metais de Olivetti é cristalino e, a todo tempo, mantém o pôr do sol radiante na canção.
Mas uma das grandes sensações do arranjo é o baixo de Fernando de Souza (baixista de vários discos de boogie da época) e o Moog tocado por Serginho Trombone que fazem um dos breques mais marcantes da música de pista do Brasil.
Esses elementos alçaram “Estrelar” a hit também no Tik Tok. Uma rápida busca pela canção na rede de vídeos curtos e também no YouTube mostram que usuários não abriram mão de versões “speed up” ou “slowed”, que é quando, por causa da dinâmica de consumo dos vídeos, os usuários preferem versões aceleradas (ou desaceleradas) de uma canção. E “Estrelar” pegou esse bonde.
@._.editsaleatorias._ Estrelar-Marcos Valle #estrelar #marcosvalle #CapCut ♬ som original – bj
@atp980 This song needs to trend again. #osu #osugame #estrelar #estrelarbahtremix #marcosvalle ♬ original sound – aroS
De vídeos de Cristiano Ronaldo a personagens de anime japonês (aqui, no caso, Chrollo, de “Hunter x Hunter”), passando por gameplays de jogos de corrida, a canção e seu suíngue parece ter encontrado mais um lugar para aportar 40 anos depois de seu lançamento.
Se vale dizer, além de “Estrelar”, o oitentão Marcos Valle é considerado um percursor do beatbox por conta de seus vocais em “Mentira”, canção que ficaria famosa nos anos 2000 após ser sampleada pelo Planet Hemp em “Contexto”. Mas isso é outro papo.