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O trágico caso de Lee Morgan, assassinado pela própria mulher num clube de jazz

O trágico caso de Lee Morgan, assassinado pela própria mulher num clube de jazz

Lee Morgan morreu em 1972 durante o intervalo de sua performance em Nova York

Avatar de Fernanda Decaris
lee morgan

No dia 19 de fevereiro de 1972, durante o intervalo de uma performance no Slug’s Saloon, em Nova York, o trompetista Lee Morgan teve uma discussão ríspida com sua então mulher, Helen. A situação do casal não andava muito boa  principalmente porque ele deu pistas de que a trocaria por outra. Mas, naquela noite, Helen achou que tinha aguentado o suficiente. Ela flagrou Lee com a jovem Judith Johnson e foi tirar satisfações. O músico, enfurecido, pegou a mulher pelo braço e a colocou para fora do clube. Minutos depois, ela voltou ao local, armada de uma pistola, e atirou em Lee.

O ferimento do músico, embora grave, poderia ter sido curado caso uma ambulância chegasse rápido ao clube de jazz. Mas era justamente a noite em que Nova York foi assolada por uma nevasca daquelas, atrapalhando todos os serviços –até mesmo os mais urgentes. Lee sangrou até a morte esperando, em vão, por socorro. Tinha 33 anos e era considerado pela crítica como um futuro ídolo do jazz.

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A morte no palco faz parte do folclore do showbiz. Tem até um toque de romantismo, visto que o músico e o cantor se vão fazendo o que mais gostam. Os bateristas Nick Menza, ex-Megadeth, e Sib Hashian, ex-Boston (procure o sucesso “More than a Feeling”, por favor), tiveram ataques cardíacos enquanto atacavam os bumbos, as caixas e os pratos de seus kits de bateria. Já o guitarrista Les Harvey, da banda de rock Stone the Crows, foi eletrocutado vivo diante da plateia (aparentemente, havia um fio solto no microfone).

Existem ainda casos de assassinato. Dimebag Darrell, ex-Pantera, estava no palco com sua banda, a Dama- geplan, quando levou uma saraivada de tiros de Nathan Gale, um ex-militar, que também acabou morto no conflito. Entre as muitas teorias para o ato, Gale achava que Darrell tinha de pagar “caro” pelo fim do Pantera, sua banda predileta. Outro acontecimento ainda mais bizarro foi com Irma Bule, cantora pop da Indonésia que tinha o costume de se apresentar com uma cobra enrolada no pescoço. Durante uma performance, o ofídio se estressou quando a cantora pisou em sua cauda e mordeu a coxa da popstar. Aparen- temente, ninguém havia se preocupado em tirar as presas do animal, que era venenoso. Irma Bule se recusou a parar a apresentação e morreu 45 minutos depois do show.

O assassinato de Lee Morgan tem elementos folhetinescos. Menino prodígio do jazz, o trompetista americano tinha 18 anos quando começou a despertar a atenção dos principais nomes do gênero. Ele participou da banda do trompetista Dizzy Gillespie e do álbum “Blue Train”, de John Coltrane. Em 1958, foi chamado pelo ba- terista Art Blakey para integrar o seu conjunto. No mesmo ano, foi lançado “Moanin’”, trabalho cuja faixa-título tem um solo espetacular de Lee. Blakey apadrinhou o jovem, mas também o apresentou para a heroína. Quando o vício afetou a produtividade do músico, Art Blakey o despediu da banda.

Quando conheceu Lee, Helen Morgan sabia muito bem o que era uma vida de provações. Nascida em 1926, numa fazenda na Carolina do Norte, ela mal tinha completado 15 anose já era mãe de duas crianças –que acabaram criadas pelos avós. Helen então morava em Wilmington, cidade da Carolina do Norte. Quando fez 17 anos, casou-se com um meliante local. Dois anos depois, o sujeito morreu afogado. Cansada daquela vida, Helen foi morar na cidade de Nova York.

Helen e Lee Morgan se conheceram no início dos anos 1960. Ela ajudou o companheiro a se livrar do vício e se tornou sua empresária. Foi o começo de uma carreira produtiva, na qual se destacam discos solo como “The Sidewinder” e “The Gigolo”, além de participações em projetos de jazzistas do primeiro escalão –entre eles o saxofonista Wayne Shorter e o pianista McCoy Tyner.

O trompetista também se destacou por sua atuação política. Ele foi um dos mentores do Jazz and People’s Movement que, entre outras reivindicações, exigia uma presença maior do jazz e de músicos afroamericanos nos principais programas da televisão americana.

Lee Morgan era figura carimbada nos clubes de jazz, em sessões de gravação e até nos comerciais de TV. Helen, por sua vez, recebia os amigos jazzistas do marido em casa e, contam, era uma cozinheira de mão cheia. Musicalmente, o trompetista era saudado pela crítica por ter expandido a linguagem do jazz, adicionando a ela outros elementos musicais e enriquecendo-a.

Deslumbrado, Lee passou a dormir cada vez menos em casa, o que fez Helen desconfiar de que estava sendo traída. No dia do assassinato, percebeu que Lee iria se divorciar dela, trocandoa por Judith Johson. Helen foi presa na cena do crime, cumpriu parte da pena e, pouco tempos, saiu em liberdade condicional.

Nos anos 1970, voltou para Wilmington, na Carolina do Norte. Por lá, ninguém sabia quem ela era, muito menos do passado junto a Lee Morgan. Era conhecida por ser uma avó amorosa e devota da igreja metodista local. Em fevereiro de 1996, Helen contou sua história para o jornalista Larry Reni Thomas. Um mês depois, ela morreu, vitimada por problemas no coração.

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