Nana neném: como canções de ninar podem diminuir sensação de dor em recém-nascidos
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Injeções ou exames como o teste do pezinho são comumente realizados em recém-nascidos e, embora exista argumentos de que os cérebros dos bebês não estão suficientemente desenvolvidos para realmente sentirem dor, pesquisas recentes sugerem que eles a experienciam de forma semelhante aos adultos.
“Portanto, estabelecer um método fácil e confiável para reduzir a dor em recém-nascidos é crucial”, explica Saminathan Anbalagan, médico especialista em medicina neonatal e perinatal no Hospital Thomas Jefferson, na Filadélfia (EUA), e líder de uma nova pesquisa sobre experiências precoces de dor que podem alterar respostas à dor mais tarde na vida e levar a outros resultados adversos de longo prazo.
E um desses métodos é bem conhecido por qualquer pessoa que já tenha embalado um neném: a música. Canções de ninar funcionaram como antídoto da dor em recém-nascidos testados pela equipe de Anbalagan. Cem recém-nascidos foram submetidos a um teste de sangue com picada no calcanhar como parte da triagem de rotina para condições raras, mas graves, como fibrose cística e distúrbios metabólicos hereditários. Todos receberam uma pequena dose de solução de açúcar dois minutos antes do procedimento, enquanto 54 dos bebês também ouviram uma canção de ninar instrumental de Mozart durante 20 minutos antes, durante e por cinco minutos após o procedimento. Os outros bebês não ouviram nenhuma música.
Um investigador usando fones de ouvido com cancelamento de ruído avaliou os níveis de dor dos bebês usando um sistema de pontuação padrão que avaliava expressões faciais, choro, padrões de respiração, movimentos dos membros e alerta, com uma pontuação máxima possível de sete.
O estudo, publicado na revista Pediatric Research, descobriu que, enquanto as pontuações de dor eram zero para ambos os grupos antes da picada no calcanhar, a pontuação média de dor dos bebês que ouviram a canção de ninar era significativamente menor durante e imediatamente após o procedimento em comparação com aqueles que não ouviram música.
As pontuações de dor dos bebês que ouviram a canção de ninar eram quatro durante o procedimento, caindo para zero um minuto depois. As pontuações médias de dor para os bebês que não ouviram a canção de ninar eram sete no momento da picada no calcanhar, caindo para cinco e meio após um minuto e para dois após dois minutos.
“A intervenção musical é uma ferramenta fácil, reprodutível e barata para alívio da dor em procedimentos menores em recém-nascidos saudáveis e a termo”, disse Anbalagan. “Sugerimos que estudos futuros também considerem explorar os efeitos de intervenções semelhantes, como a voz dos pais gravada em vez da música de Mozart.
Três canções de ninar ao redor do mundo
Enquanto no Brasil o clássico para embalar um neném no sono é o “Nana Neném” (a canção chegou aqui por meio de portugueses e foi sendo adaptada ao longo dos anos), vale uma voltinha no mundo das canções de ninar.
Na Índia, por exemplo, os embala-bebês foram largamente retratados no cinema. “Aaja Ri Aa Nindiya Tu Aa”, do filme Do Bigha Zamin, de 1953, é uma das mais famosas.
No Japão, a canção 竹田の子守唄 ou “Lullaby of Takeda” conta a história de crianças mais velhas que tinham que cuidar das menores enquanto seus pais trabalhavam.
E, na Rússia, a mais famosa é “Cossack Lullaby”, adaptação de um poema de Mikhail Lérmontov.