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Mentor em especial da MTV, KL Jay conta como tem sido falar de rap para novinhos

Mentor em especial da MTV, KL Jay conta como tem sido falar de rap para novinhos

Produtor dos Racionais MCs é um dos 'professores' em 'Helipa - um autorretrato'

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KL Jay gosta de música boa. Lutando contra os fanáticos que só querem viver de rap, ele insiste como DJ em ampliar o leque de referências que toca na pista. Agora, uma das mentes por trás do Racionais MCs é também mentor de novos e calejados talentos do rap de Heliópolis, comunidade da zona sul de São Paulo e celeiro de artistas do hip hop e do funk.

Em entrevista à Billboard Brasil, ele fala sobre como tem lidado com a baixa média de idade em seus sets, o legado do Racionais para o trap atual e sobre como tentou não causar temor com sua presença em “Helipa – um autorretrato”, especial da MTV que estreou no início de novembro (em exibição no Paramount). A série documental registra os MCs Lili Black, Ciszo, Lett, Young Dan e MC Verdades em busca da composição perfeita de um cypher (saiba o que é) feito com auxílio dele e da dupla Tasha e Tracie.

Billboard Brasil: Kleber, antes de tudo, como é ser referência e ter que ser perguntado a todo instante da sua opinião sobre a cena atual do hip hop? Como você tem respondido a essa pergunta?

KL Jay: Ah, na maioria das vezes a resposta é uma resposta meio meio padrão, né? Se a pergunta é padrão, a resposta automaticamente vai ser também. E eu sempre respondo: “tem muita gente boa, tem muita gente que só quer o dinheiro, só quer a fama. Faz parte do meio, faz parte do game. E tem gente muita gente boa mesmo e que estão escondidas, não tem oportunidade.

Você recebeu um convite para ser mentor de MCs de Heliópolis. Uns mais crus, outros mais calejados. Como foi sua reação? Pergunto pois você advoga em prol de causas que vão desde sua alimentação [o produtor é vegano] até sua própria forma de acreditar na música como um ato de mudança social. Passou na sua cabeça que você poderia lidar com questões que você não concorda?

Olha, a minha primeira reação foi “é uma grande responsa”. Para essas questões você tem de ser real, sincero, ter ética, educação, cuidado. Dependendo do jieto que você fala, a pessoa desiste da carreira ou fica com mágoa de você. A verdade tem de ser dita, mas não precisa de ser bruto, violento, mal educado. Porque quando você fala a verdade você está ali abrindo uma outra direção para a pessoa. Eu tenho esse lance da influência, do poder disso. E a gente tem de ter responsabilidade com esses poderes. Fico lisonjeado, né? É um prazer poder educar, conversar Mas tem de ter essa fiscalização constante. Quando você atinge uma uma posição que eu atingi, que eu tenho dentro da cultura, você tem de saber que o poder corrompe. E eu aprendi muito isso com o próprio hip hop, com a minha mãe [dona Maria José, de 91 anos], com pessoas mais velhos, amigas, amigos. Ter o pé no chão, respeitar o outro, né? Respeitar o trabalho, a posição, o pensamento do outro.

Você sente que sua presença e, claro, sua história causa algum tipo de constrangimento ou respeito demasiado?

É! Pessoal fica com medo. Mas aí eu tenho essa coisa de deixar o ambiente confortável. Fui conversando, brincando, não exigindo muita coisa. É um lance diplomático que eu também aprendi com a minha mãe. Não reclamar muito, não achar que alguém tem de colocar você no colo, pétalas de rosa para você passar. Então se colocar no mesmo barco deixa o clima mas leve também. Aí, as pessoas te veem como uma pessoa comum.

Como você interagiu editando os participantes de “Helipa – Um autorretrato” e quem se destacou na sua visão?

A gente falou mais de música mesmo, de flow. “Essa palavra aqui poderia mudar, esse beat aqui, você poderia deixar ele mais repetitivo”, coisas assim. Foi sobre música mesmo, uma teoria ali da construção, entendeu? O momento mais legal foi quando eu via a música da Lily Black e eu falei “você é boa”. Tem de gravar com a KLmúsica [selo de KL Jay]. Aí ela ficou toda feliz.

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Os MCs Ciszo e Lili Black e KL Jay em cena de “Helipa – um autorretrado” (Divulgação)

Um dos sons mais tocados hoje em dia, o trap, teve uma prévia em “Cores e Valores”, [disco do Racionais MCs de 2014]. Você ainda o encara como um projeto seminal do trap contemporâneo?

Eu vejo o “Cores e Valores” como um álbumequilibrado entre o rap dos anos 2000 e o trap. Se você ouvir “Você Me Deve”, é um rapzão do mesmo patamar de “I Get Money”, do 50 Cent. É um som que tem sample, batida pesada, um BPM ali de 90 a 96, então não é trap, entendeu? A “Cores e Valores” já um trap, “Finado Neguin” também. E aí tem “Quanto Vale O Show” e já é mais rapzão de novo. Eu falo que é uma mixtape. Um disco de meia hora.

Tem um processo que acontece no funk, acontece no rap: a pessoa com mais de 40 anos não consegue mais lidar com os sons mais recentes, rola uma crise com o novo. Como é que você, quando DJ na pista, tem feito para conseguir interpretar o público misto de novinhos e coroas que vão te assistir tocar?

É muito pessoal porque tem gente que fica lá nos anos 1980, nos 1990. As pessoas falam “na minha época” e eu respondo “sua época é agora, você tá vivo”. Eu me sinto privilegiado de ter ouvido a FM nos anos 1980, final dos anos 1970, porque eu ouvi o funk norte americano, acompanhei a transição do funk para o hip hop e eu ainda ouvi rock, música brasileira. Mas é simples e pessoal: eu gosto de música. Se você entra no universo da música, a sua antena tem de estar alerta para captar porque a música boa está em qualquer ritmo (e a música ruim também!). Não dá para ficar preso no rap e falar “eu só gosto de rap” mesmo que o rap tenha salvado sua vida, tenha te dado educação, rumo. O rap veio de outras músicas por meio do samba, ele é democrático.

A a minha opinião sincera sobre rap é que o feito nos anos 1990… Imbatível, o melhor rap que já foi feito e foi até ali meados dos anos 2000, 2006, 2007. Depois o mundo muda, vieram as redes sociais. Tem muita coisa que eu não gosto e às vezes até critico —falo “isso não dá, olha isso que a pessoa está falando, está imitando outros rappers, mesma batida e tal. Agora, não dá para falar que o Baco Exu do Blues é ruim, que o BK é ruim, que o Major RD é ruim.

Tem uma frase do Grandmaster Flash [um dos maiores responsáveis pela evolução do hip hop por meio de uma técnica própria de mixar, além de ter contribuído para o scratch] em que ele fala que não é um DJ de hip hop mas, sim, um DJ. É isso! Eu falo muito, estico muito o chiclete, desculpa [risos].

E como você tem feito para se comunicar com as gerações diferentes que vão te ver?

Quando eu olho que o público é jovem, e tem sido isso na maioria das vezes, eu fico surpreso e lisonjeado. Eu tenho 55 anos e as pessoas estão lá com 20, 25. Eu gosto de fazer uma sessão em que mostro o atual e minhas referências. Mostro uma música do tempo dos Racionais, uma do RZO. Eles ficam maravilhados. É como se fosse uma aula, mas você tem de ir colocando isso no lugar certo, na hora certa. Primeiro, você conecta as pessoas, conquista e aí depois você mostra porque aí elas já pegaram confiança em você. Quando é o contrário [pessoas mais velhas em maioria] eu inverto. Toco coisas novas porque tem sempre alguém conectado e, pô, é f…, não tem como não tocar os anos 1970, 1980. Não tem como não tocar as coisas de 1990.

Quando a música é boa ela conquista. Tem de ter essa sensibilidade. Eu vejo gente tocando música que é ruim. Desculpa. Música tem frequência alta e baixa. Eu estou na alta, quero tocar música alegre, dançante, pesada, entendeu?

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Os MCs Ciszo, Verdades, Lett, Young Dan e Lili Black (Divulgação)

Os MCs participantes

CISZO – ciszo_

Cícero dos Santos Júnior, conhecido como Ciszo, é rapper, produtor musical e produtor executivo com mais de 12 anos de carreira musical. É um dos fundadores do estúdio Viela 7, produtora musical independente de Heliópolis. Também é ator e participou da peça “Injustiça”, pela Companhia de Teatro Heliópolis, que fez o circuito dos SESCs no estado de São Paulo.

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LILI BLACK – liiliblack

Lilianne de Sousa Silva, mais conhecida como Lili Black, é MC, rapper, beatmaker e poeta marginal. Se descobriu artista escrevendo poesias autorais, mas foi nas batalhas de rima que Lili se encontrou. Em 2020, lançou seus primeiros singles e, desde então, passou a fazer música de forma independente. Em 2022, ganhou o reality show musical “Sobre Junto”. No mesmo ano, Lili se apresentou no Lollapalooza.

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LETT – lett_tv

Lett lançou seu primeiro som “Pisando Fofo” em 2020, ainda adolescente. Passou a se dedicar à carreira musical, participando de diversas batalhas da cena, como a Batalha Dominação, e cresceu como MC. É uma das participantes representando Heliópolis na competição de novos talentos do festival Sons de Rua. Recentemente, lançou os singles “Virada de Chave” e “Terra do Nunca”.

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MC VERDADES – imcverdades

Verdades mora na Chacrinha em Heliópolis e está começando sua carreira no funk consciente. Tem uma parceria musical com Ciszo voltada para o drill e o funk, que será lançada em breve. Em 2024 lançou os singles “Levanta o Copo” com DJ BM pelo Conexão Sul Helipa.

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YOUNG DAN – @_young__dan

Desde os 14 anos, Dan se aventura na música e trabalha em produtoras musicais de Heliópolis, como a Levita Produções. Em 2023, lançou seu primeiro EP “Life of Dan”. Escreve suas próprias músicas e vem aperfeiçoando sua arte junto ao coletivo M.I.P, um grupo de jovens que se apoiam e organizam formas de profissionalizar suas carreiras musicais.

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